Há
quem embarque no discurso oportunista de que estamos diante do melhor
Brasileirão na era dos pontos corridos. Recomendo senso crítico contra os
clichês. Vivemos o tempo de padrões de excelência rasos, pouco ou nada
criteriosos. Quase tudo é "melhor", "maior",
"top". A Série A nivelada por baixo pode ter desfecho emocionante,
sim, mas com um campeão culposo (sem a intenção de conquistá-la).
A
contar de 2006, quando a Série A passou a ter 20 times, tivemos pelo menos três
edições apertadas na 33ª rodada. Palmeiras (2009), Fluminense (2010) e
Corinthians (2011) somavam 58 pontos. Menos que os 59 de Botafogo, Palmeiras e
Grêmio na jornada equivalente. Todos viam concorrentes no retrovisor e também
era o "melhor da história".
O
campeonato até então modorrento deste ano ficou empolgante. Culpa de um líder
incompetente. É inadmissível despencar na classificação como faz o bipolar
Botafogo. Líder disparado do primeiro turno com 47 pontos, e vice-lanterna no
segundo com 12.
Em
jejum há 28 anos, o Glorioso encerrará o Brasileirão sob a batuta do quarto
técnicos diferente: Luis Castro, Cláudio Caçapa, Bruno Lage, Lúcio Flávio e um
novo profissional procurado por John Textor. Sociedades Anônimas do Futebol
também erram feio. A SAF do lanterna América-MG está rebaixada para a segunda
divisão. A do líder Botafogo se comporta com inacreditável amadorismo. Gabarita
os pré-requisitos para "entregar" o título.
De
repente, o vice-líder Grêmio virou referência. O tricolor gaúcho sonha com o
fim da fila de 27 anos porque tem um fora de série: Luis Suárez. O time de
Renato Gaúcho é ruim, desajustado. Ostenta o melhor ataque com 57 gols. Em
contrapartida, exibe a quarta pior defesa. Sofreu 49! Supera o rebaixado
América-MG, o Coritiba e o Santos. Acumulava quatro rodadas sem vencer. Agora,
tem chance de ser campeão.
O
Palmeiras é exaltado pela regularidade — um dos itens de segurança dos pontos
corridos, porém o time de Abel Ferreira não é referência. Perdeu oito vezes em
2023 contra apenas três na conquista de 2022. Outra vantagem alviverde era a
segurança defensiva. A equipe tomou 27 gols na edição passada inteira. Acumula
30 nesta. Seis deles nas últimas três exibições pelo Brasileirão: três do
Botafogo e três do Flamengo.
Há
quem encha a bola do Red Bull Bragantino, porém o time do técnico Pedro
Caixinha treme em jogos relevantes. Perdeu para o Atlético-MG, no Nabi Abi
Chedid. Amargou derrota para o São Paulo na última quarta, quando teve
oportunidade de assumir a liderança
É
justo premiar um Flamengo colecionador de vexames neste ano no Mundial de
Clubes, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana, Copa do Brasil, Carioca e na
Libertadores? Ou um Atlético-MG que passou oito rodadas sem vencer?! Por essas
e outras, não confunda melhor campeonato com mais empolgante. Nivelado por
baixo.