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Duas Vilmas: uma só luta

Duas Vilmas: uma só luta. O caso da porta-bandeira da Portela e da primeira mulher negra em cargo de direção do IFI do Senado conduzem o Brasil para um lugar de mais justiça social, apesar de ainda sofrerem discriminação pela cor da pele

 

Estamos no final do Mês da Consciência Negra. Um período para celebrar conquistas, mas também para continuar a abrir caminhos. Duas notícias recentes mostram que existem avanços, mas que ainda estamos longe de viver numa sociedade livre de racismo e preconceito. Não acredito que esta seja uma utopia. A igualdade virá, ainda que arrancada a fórceps. E devemos isso à história de luta da população negra. Nada veio de graça. 

 

O caso da porta-bandeira da Portela Vilma Nascimento, que veio a Brasília para ser homenageada no Congresso Nacional no Dia da Consciência Negra e foi vítima de racismo no aeroporto, é tão repugnante quanto comum. Todos os dias, os negros sofrem humilhações criminosas. Vilma tem orgulho de sua trajetória, de ver suas filhas terem chegado à universidade, de ser homenageada em uma data tão importante. 

 

Vê-la passar por tamanha humilhação é revoltante, mas não podemos dizer que o fato é digno de espanto. Infelizmente, ainda é comum. Acontece com uma frequência absurda. É cômodo para alguns pensar que existe democracia racial no Brasil, que estamos livres do preconceito, mas não é essa a verdade. O Brasil precisa antes de tudo assumir seu lado sombrio e trazer luz para seus problemas estruturais.

 

O avanço contra a discriminação vem com a conquista de espaços públicos de poder e liderança. Ganhou repercussão a escolha de uma jovem preta, filha de pai pescador e mãe gari, para assumir cargo de direção da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado. 

 

A primeira mulher negra nessa posição no IFI é Vilma Pinto, de 31 anos. Com trajetória de muito estudo, Vilma é o presente que queremos e pelo qual devemos lutar hoje, agora. Um presente que inclui e destaca mulheres negras em posições estratégicas. É isso que aponta para o futuro de uma economia que se tornará mais inclusiva e justa à medida que tenha mais gente diversa pensando e elaborando políticas públicas e leis.

 

Como ela me disse dias atrás, a mudança “começa pelo aumento da representação em cargos políticos, de gestão e lideranças. É importante ampliar o diagnóstico em relação as desigualdades de gênero e raça que existem atualmente”.

 

As duas Vilmas que retratamos aqui abriram e abrem caminhos, conduzem o Brasil para um lugar de mais justiça social, apesar de ainda sofrerem discriminação pela cor da pele e ainda assim celebrarem suas conquistas. Temos um futuro de luta pela frente, honrando a ancestralidade, refletindo sobre nossos hábitos e falas tantas vezes preconceituosas. 

 

Todo dia deve ser dia de reflexão de cada um de nós. Também de letramento. Devemos ler intelectuais negros e negras, devemos ler Carolina de Jesus e seu Quarto de Despejo. Devemos conhecer a obra de Conceição Evaristo, uma das grandes pensadoras de nosso tempo. Não há mais tempo nem motivo para o desconhecimento. Está tudo à nossa disposição. Tenhamos consciência e foco. A luta continua. 


Ana Dubeux  - Correio Braziliense




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