Saúde
talvez seja o maior bem que um ser humano pode usufruir ao longo de sua vida.
Também não é para menos, já que viver em plenitude só é possível para quem goza
de boa saúde. Por isso mesmo é que a prestação de serviços de saúde,
realizada por hospitais, clínicas e consultórios, sejam eles públicos ou
privados, é de suma importância para a manutenção de uma sociedade produtiva.
A questão é
também um assunto de segurança e deve ser sempre tratada com a máxima atenção
pelos governos federal, estadual e municipal. Aqui é tão importante a qualidade
como a quantidade. O Distrito Federal, com uma população em torno de 3 milhões
de habitantes, possui oficialmente 13.230 profissionais médicos registrados.
Esse montante equivale à uma proporção de 4,35 médicos por cada mil habitantes.
É uma média duas vezes maior que a nacional, que é de 2,18 médicos para cada
mil brasileiros.
Nesse
universo local, os especialistas somam mais de 70%, contra aproximadamente
26,5% de médicos generalistas o chamado clínico geral. Também essa relação
entre generalistas e especialistas é a melhor do Brasil. Mesmo que o Distrito
Federal possua, entre todos os estados da Federação, a maior concentração de
médicos, tanto na rede pública como nos estabelecimentos de saúde privados,
ainda assim não são poucas as reclamações dos usuários sobre a qualidade desses
serviços.
Obviamente
que, em comparação com o restante do país, Brasília pode ser considerada um
paraíso. Isso porque quase 3% de todos os médicos do Brasil estão aqui na
capital. Isso confere ao Distrito Federal uma responsabilidade enorme, já que
essa proporção de médicos, de hospitais e clínicas, obriga a capital a atender
praticamente todos os municípios em seu entorno e de outros estados.
Por isso, é
comum ver-se ambulâncias de outras localidades, trazendo pacientes de longe
para serem atendidos na capital. Aqui está ainda a maior força de trabalho
cirúrgica do Brasil, o que atrai muitos brasileiros para nossos hospitais. Ao
todo, o Brasil conta com 562.206 médicos – ou 80% a mais do que há uma década
atrás.
Olhando de
perto esses números exuberantes da relação médico por habitantes em Brasília, o
que se nota é a existência ainda de nichos de atendimento de saúde que deixam
muito a desejar, tanto nos hospitais públicos como nas clínicas particulares.
Há, do
ponto de vista dos pacientes, um problema que parece inerente à própria
formação de médicos, sobretudo dos profissionais mais jovens. De um modo geral,
o que os pacientes observam é que o atendimento é frio, distante e burocrático.
Com uma prática descuidada dessa natureza, não surpreende que os diagnósticos,
não raro, resultam erros primários, isso quando não levam o doente a outas
enfermidades e à morte. Talvez falte às gerações mais novas aquilo que os
filósofos e médicos gregos chamavam de anamnese, que é o diálogo estabelecido
entre o profissional de saúde e o paciente, de modo a estimulá-lo a lembrar de
situações e fatos que, possivelmente, o levaram a sua doença. Prática que torna
possível reconstituir a história clínica dos pacientes.
O que
parece é que esse diálogo – que, muitas vezes, pode ser longo e redundante –
foi substituído hoje por uma bateria de exames clínicos, feitos por máquinas e
patologistas que, muitas vezes, dão um diagnóstico que não ajuda o doente e
pode até complicar seu caso. Boa parte dos erros médicos decorre justamente da
simples incapacidade de o médico mal escutar o que diz seu paciente. Com isso,
multiplicaram-se os casos de erros médicos a tal ponto que hoje já existe
inclusive diversos advogados e médicos legistas especializados nesses casos e
que recebem grandes somas de dinheiro por essa atividade.
Também os
pedidos, junto aos tribunais de justiça, de indenizações milionárias, aumentam
significativamente, trazendo, para a profissão de médico, um risco adicional
cada vez maior. Casos de negligência, imperícia e imprudência lotam os
tribunais de justiça em todo o país, inclusive em Brasília. Se em medicina nada
é absoluto, já que ela não é uma ciência exata, sendo mais uma arte situada,
isso sim, na confluência de várias outras ciências, o erro, como condição
humana, acaba sendo inerente à sua prática.
Para um
profissional experiente não existe, pois, doenças e sim doentes, já que cada
indivíduo responde de forma distinta a um mesmo problema. Não é por outra razão
que aqueles pacientes que, por sua condição de portadores de bons planos de
saúde, preferem escolher médicos mais idosos e mais experientes, principalmente
na arte da paciência, que é a de escutar o que diz o interlocutor. Essa
capacidade de escutar e refletir sobre o que se ouve, tem sido um os dons
humanos que mais tem diminuído de uns tempos para cá, talvez provocado pela
retração da empatia nesses tempos modernos.
E não pense que esse é um problema afeito apenas ao atendimento médico público. Também médicos particulares, mesmo os mais afamados, incorrem no erro de não escutar adequadamente seus pacientes, convencidos de sua infalibilidade. Mas esses são apenas os iludidos por um ego gigante.