Pecados andam fora de moda.
Tirante os que dão cadeia – matar, roubar – ninguém mais parece ligar para
transgredir as leis divinas, mesmo os 10 mandamentos, que agravam a situação de
qualquer fulano, cristão ou não. Falso testemunho? Guardar o domingo? Não
cobiçar o alheio? Parece que é o oposto é que está valendo. E aí incluímos o
desejo à mulher do próximo, o pecado contra a castidade e honrar pai e mãe.
Oscar Wilde estava correto ao dizer que não há outro pecado além da estupidez. Moisés gastou pedra à toa, bastava um mandamento para regular não apenas os fiéis, mas a humanidade inteira. “Sejam decentes”, diria ele ao descer da montanha.
Pecados veniais – os perdoáveis
– andam ainda mais desvalorizados. São Tomás de Aqui disse que a diferença
entre pecado mortal e venial e a mesma do imperfeito para o perfeito. Da forma
que o santo filósofo colocou, parece que está tudo bem quando se comete um
pecadilho, mas não é bem assim. Se for ação deliberada, o venial continua sendo
pecado. Mas quem liga?
O melhor mesmo são os pecados
capitais. Na hierarquia católico-romana, são menos graves que os mortais, mas
muito mais interessantes porque revelam o pior da humanidade: soberba, avareza,
inveja, ira, luxúria, gula e preguiça. Atire a primeira pedra quem nunca
experimentou uma dessas tentações – seja aquele quitute a mais, aquela vontade
de ficar na cama mais um pouco ou um xingamento no trânsito.
Os sete pecados capitais já
foram oito, coletânea feita por um monge. Não houve inspiração divina para que
Evágrio Pôntico (que viveu nos anos 300 d.C) fizesse a lista (que incluía a
tristeza no rol) – bastou observar o comportamento humano. A relação foi
revisada pelo Papa Gregório cerca de 200 anos depois, quando saiu a preguiça
para entrar a inveja. Um milênio depois, São Tomás de Aquino fez a relação
definitiva, tirando tristeza para recolocar a preguiça.
E outro dia conheci um
personagem que consegue ticar toda a relação. Jeito de coroinha, sorriso
contido mas afetuoso, conversa mansa e cheia de intenções, o sujeito engana à
distância. Dizendo assim já estou eu mesmo cometendo um pecado ao proferir uma
sentença, mas é venial; três Pais Nosso e duas Salve Rainha devem bastar.
“Pode ser pecado pensar mal dos
outros. Mas raramente será um engano” escreveu um coleguinha bem mais
inteligente que eu, H. L. Mencken.
Mas estávamos falando de outro
pecador. Em alguns meses, o sujeito amealhou uma coleção de inimigos, usando de
todos os pecados capitais, especialmente o campeão: soberba. Humilhou,
tripudiou, sambou de tamanco. Houve doses generosas de luxúria, avareza, gula
(não de alimentos, mas de todo o resto) e ira. E até um pecado que não está na
lista: a mentira.
“Todo pecado é um tipo de
mentira”, ensinou Martinho Lutero. E nisso o camarada é bom, levando tudo na
toada de prejudicar quem for, desde que tenha algum ganho. Shakespeare escreveu
que “alguns elevam-se pelo pecado, outros caem pela virtude”. Não foi o caso.
Ele caiu. Pela coleção de pecados.