A
bússola foi criada na China, no século 1. Foi utilizada na navegação e, até
hoje, tem grande importância nos estudos da cartografia e astronomia. Foi ela
que permitiu e facilitou a exploração na época das grandes navegações. Ao longo
do tempo, foi aperfeiçoada e, nos dias de hoje, a bússola digital pode ser
utilizada em computadores ou telefones celulares. Em um mundo com fantásticos
desenvolvimentos tecnológicos, uma pergunta emerge: seria possível construir
uma bússola que, em vez de determinar os pontos cardeais, pudesse indicar os
caminhos para a felicidade?
Em
2010 foi lançado o livro A Bússola da Felicidade, de autoria de Tammy Kling e
John Spencer. A obra descreve um terrível acidente em que um personagem,
Jonathan, perde a filha e a esposa. Ele decide, no seu desespero, deixar tudo
para trás e peregrinar pelo planeta para encontrar pessoas que vão lhe oferecer
lições valiosas sobre a vida. Nessa jornada, Jonathan vai compreender que cada
pessoa ou cada experiência de vida não aparece por acaso, mas para ajustar a
sua bússola interna e descobrir o próprio destino. Os autores nos ensinam como
superar os sofrimentos e encontrar os caminhos que possam nos levar à superação
de problemas e encontrar a plena felicidade.
Consciente
ou inconscientemente, todos nós estamos em busca da felicidade. Não é simples
defini-la. Ela é abordada pela filosofia, pela psicologia e pelas religiões. Os
filósofos associam a felicidade ao prazer, uma vez que é difícil definir a
felicidade como um todo, de onde ela surge e os sentimentos e emoções
envolvidos. Sigmund Freud abraçava a tese de que todo indivíduo é movido pela
busca da felicidade, mas essa busca seria utópica, uma vez que, para ela
existir, não poderia depender do mundo real, em que as pessoas têm experiências
com o fracasso — portanto, o máximo que o ser humano conseguiria seria uma
felicidade parcial.
A
doutrina religiosa budista também analisou a felicidade como um dos seus temas
centrais. O budismo acredita que a felicidade ocorre por meio da liberação do
sofrimento, pela superação do desejo e também pelo treinamento mental. A
felicidade é uma somatória de momentos encantados, como, por exemplo,
contemplar a alegria e o sorriso de uma criança, como registrado no pensamento
e sensibilidade de Charles Chaplin: "Não preciso me drogar para ser um
gênio; não preciso ser um gênio para ser humano; mas preciso de seu sorriso
para ser feliz".
Para
as pessoas contaminadas pelo consumismo e pelo acúmulo de riquezas, o poder e o
dinheiro são construtores da felicidade. Grande equívoco que a nossa
consciência revelará cedo ou tarde. Tem razão Arthur Schopenhauer quando disse:
"A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças do que
nos nossos bolsos".
Estamos
vivendo tempos preocupantes no Brasil e no mundo. As guerras que causam a morte
de pessoas inocentes, a vergonhosa desigualdade social, o abandono dos
princípios éticos, uma educação ultrapassada, os moradores de rua, o desespero
das classes mais vulneráveis, a falta de perspectivas para os jovens e outras
mazelas fazem parte do presente e ameaçam o nosso futuro.
É
a hora de mudar o jogo. Todas e todos temos o direito de ter uma vida digna e
feliz. Existem no planeta Terra um número considerável de seres humanos que
construíram projetos virtuosos que precisam virar realidade. Isso é possível.
Vamos usar como princípio o pensamento de Alexandre Herculano: "O segredo
da felicidade é encontrar a nossa alegria na alegria dos outros". Creio
que podemos chegar ao formato imaginado por Carlos Drummond de Andrade:
"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade".
A
luta não será fácil. Muitas pedras no caminho. Nessa aventura, em momentos de
desânimo, vamos nos lembrar dos versos inspiradores de Caetano Veloso:
"Felicidade foi se embora / E a saudade no meu peito ainda mora / E é por
isso que eu gosto lá de fora / Porque sei que a falsidade não vigora / A minha
casa fica lá de traz do mundo / Onde eu vou em um segundo quando começo a
cantar". Vamos cada um de nós, encontrar a nossa bússola da felicidade.