As
fortes chuvas que atingiram o Distrito Federal nos primeiros dias do ano
provocaram grandes prejuízos, principalmente em áreas como a Vila Cauhy. As
regiões mais afetadas são aquelas invadidas sem nenhum critério urbanístico,
disse a governadora em exercício Celina Leão (Progressista), convidada do
programa CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília — dessa quinta-feira
(4/1). Às jornalistas Ana Maria Campos e Denise Rothenburg, a chefe do
Executivo local em exercício destaca, porém, que segundo a Defesa Civil, as
casas não correm risco de desabamento mas, estão insalubres por conta da lama
que invadiu as residências.
A
senhora assumiu o governo neste período de chuvas e está com muitos
serviços. Em dois dias, nós tivemos uma quantidade de chuva que estava
prevista para o mês inteiro. Isso causou danos e prejuízos para a população. O
Governo do Distrito Federal está mobilizado e atento a todas as ações dos
nossos administradores. Soltamos um alerta por precaução, mas o GDF está
totalmente mobilizado.
Como
funciona essa situação de alerta decretada pela senhora? Temos um número
de servidores para pronta resposta, é uma organização interna do próprio
governo, isso gera vários alertas nas secretarias. Além de um mapeamento
detalhado das áreas mais afetadas, são mais ou menos 18 locais muito
prejudicados pela chuva. Cada um com uma peculiaridade, temos áreas que estão
em obras, outras com problemas ambientais onde passam rios. Alguns com empresas
que ganharam licitação da obra e a abandonaram no meio do serviço e agora o
Estado tem que retomar e fazer novas licitações. Temos diferentes problemas,
mas todos eles estão sendo enfrentados pelo Governo do DF e pelas nossas
equipes. Trabalhamos para a população ter duas coisas, uma delas é a
segurança de suas vidas — pois sabemos que qualquer fenômeno da natureza pode
causar não só danos materiais, como risco de vida. O segundo é a questão da
mobilidade e da infraestrutura, para que as pessoas possam chegar em casa, além
de outros tipos de situações.
Onde a situação é mais grave? A Vila Cauhy é a mais grave, existem pessoas desabrigadas. Estive lá, ontem (quarta-feira, 3/1) pessoalmente, com mulheres, crianças e idosos. Há uma dificuldade muito grande, as famílias não querem sair do local por medo. A Defesa Civil relatou, em laudo, que aquelas casas não teriam risco de desabamento (no momento), mas teriam insalubridade para a manutenção daquelas crianças e mulheres. Montamos até um ginásio para que os moradores possam permanecer por lá até as chuvas se controlarem. Só depois da estabilidade meteorológica elas poderão retornar às suas residências. O problema lá é de saúde pública, água de esgoto misturada com fluvial e chuva.
As
famílias temem sair e perderem suas casas pelo fato de ser uma área
irregular? É uma área irregular, existe um processo de regularização. Tem
dois projetos, um com a retirada de quase 200 famílias. Há uma resistência da
população muito grande com isso. O outro é de retirada de um número menor de
famílias, aquelas às margens do córrego. Estamos fazendo essa discussão com a
própria comunidade. É uma das prioridades na lista de Codhab, isso para que
possamos avançar na regularização da vila inteira, cuidando desse problema de
forma definitiva.
Como
resolver essa questão da ocupação irregular aqui no DF? O sentimento, não
só da população, mas também do governo, é a dificuldade de trabalhar com tudo
isso. A equipe muitas vezes é pequena. Às vezes, as invasões irregulares são
construídas em cima de nascentes. Em alguns momento o Estado não tem uma pronta
resposta para tudo, nunca teve aqui no Distrito Federal. O governo tem
trabalhado muito, o DF Legal tem atuado combatendo essas grilagens e invasões
irregulares. Invadem e depois cobram do governo a infraestrutura. Infelizmente,
esse é um hábito da nossa cidade. É isso que nosso governo tem tentado fazer
diferente, ofertando moradias para que a pessoa vá para áreas regulares. Pois
áreas regulares têm águas pluviais, esgoto, energia e estão preparadas para
chuvas. Um local que tem sofrido muito isso, pois foi construída em cima de
várias nascentes, é a Arniqueira, uma área muito difícil, pegamos em uma
situação muito avançada de famílias e agora estamos trabalhando na urbanização.
Na região, a Terracap está licitando (obras para) toda a água pluvial das ruas,
para que possamos resolver esse problema.
A
situação de Vicente Pires está mais tranquila? Sim, você percebe que a
cidade não foi notícia desta vez. Conseguimos resolver. Pegamos Vicente Pires
com só 15% de obras e terminamos com 98% delas concluídas. Lá não faz mais
parte das manchetes de tragédias do Distrito Federal. Graças a Deus e ao nosso
governador, que é sempre muito firme. Agora a meta dessa atuação de águas
pluviais é Arniqueira. A cidade está em processo de regularização e a licitação
dessas águas pluviais está acontecendo na Terracap.
Governadora,
se Arniqueira está sobre nascentes, no momento em que a regularização acontece,
colocam infraestrutura, não seria premiar a bandidagem? Já que construir em
cima de nascentes é crime. Isso aconteceu em Vicente Pires, a cidade tinha
mais de 90 nascentes. É uma discussão muito profunda. Muitas vezes, é um
morador de boa-fé que compra do grileiro. Não podemos colocar todo mundo na
mesma métrica. A pessoa acredita que comprou algo, mas não é exatamente isso,
pois comprou um documento de termo de posse de uma terra pública. Essa
discussão é feita nos tribunais, com o próprio Ministério Público e os órgãos
de controle. Além da Secretaria de Meio Ambiente, que tem atuado nessas áreas
de nascentes e de preservação ambiental, sempre é preciso o bom senso das
pessoas: não compre aquilo que você não tem certeza da procedência. Às vezes o
governo não consegue coibir tudo ao mesmo tempo.
O
governador Ibaneis Rocha admitiu que pode não ser candidato ao Senado. Disse
que tem duas opções. Se candidatar a senador ou completar o mandato até o
último dia. Qual sua visão sobre isso? O governador Ibaneis tem um
capital político muito grande e ninguém abre mão disso. Até porque a política
não permite vácuos. É uma decisão que deve ser de muito cunho pessoal dele. O
governador precisa escutar todo um grupo político que ele conquistou. Nós vamos
abrir mão de uma cadeira no Senado quase que garantida? Para ele ficar de fora
quatro anos. Tem gente que não pode nem ser candidato e fala que é, isso é o
jogo do poder. Nosso sonho é tê-lo como senador, não queremos vê-lo quatro anos
fora da política. ( Veja a entrevista completa ~~~)