Acerca da Ética, os dicionários ensinam se tratar
de um ramo da filosofia que busca explicar os princípios que norteiam o
comportamento humano, com relação ao respeito às normas e aos valores da
realidade social, no intuito de valorizar as regras de conduta moral dos
indivíduos em suas relações com seus semelhantes.
Para o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), a
ética é estabelecida de dentro para fora, a partir da razão humana, com seu
talento em criar regras de conduta e de convivência, tornando-as verdadeiras
bússolas morais às quais denominou Imperativo Categórico. Para Santo Agostinho
(354-430 d.C.), a ética estaria ligada ao amor, sobretudo ao amor a Deus, longe
das necessidades materiais. Para ele, a liberdade de vontade inerente ao homem
deve ser orientada sempre para o bem em busca de uma harmonia individual e
coletiva.
Já para outro filósofo da Igreja Católica, Tomás de
Aquino (1225-1274), a ética está centrada no pensamento metafísico, a partir do
agir humano. Também chamada de Ética Tomista, ela se centra na contemplação do
criador. Mesmo para os gregos da antiguidade clássica, como é o caso de
Aristóteles, a ética, que poderia ser definida como costume, hábito ou caráter,
estava relacionada intrinsecamente com a ideia de felicidade e virtude. Para
muitos gregos, a tendência natural do ser humano era a busca pela felicidade e
para o bem.
Para Nicolau Maquiavel (1469-1527), seriam duas
concepções de éticas diversas. Uma ligada à tradição cristã, que visava a
salvação da alma, e uma outra ética ligada à política, que tinha como
finalidade última a salvação do Estado e que abria exceções nesse caso: mentir
quando necessário, ser mau quando for o caso e, ao mesmo tempo, parecer bom e
piedoso. Realista ao extremo, costuma dizer: “Os meios serão sempre julgados
honrosos e por todos louvados, porque o vulgo (plebe) sempre se deixa levar
pelas aparências e pelos resultados, e no mundo não existe senão o vulgo.”
Na visão do chamado “pai da Psicanálise”, Sigmund
Freud (1856-1939), não existe uma ética nascida no coração do homem, essa noção
passa a existir à medida em que o sujeito se vê imerso dentro do campo da
cultura. Para ele, a ética irá se delinear como uma limitação da pulsão (força
dinâmica) e poderia estar na raiz de algumas patologias psíquicas. Na
psicanálise, a ética está inserida no inconsciente e traduz um sentimento de
que existe, sim, um mal-estar próprio à condição humana. Para Freud, a ética tinha
sua origem na tentativa dos indivíduos de justificar, racionalmente, sua
conduta moral para assim ficar em paz com sua própria consciência e em paz com
seus semelhantes próximos. No entanto, a concepção que se tem hoje sobre ética,
diante da modernidade e da contemporaneidade, está ligada às novas relações
entre os homens e às recentes instituições, com o objetivo de combater
desmandos e abusos.
Desse modo, a Ética moderna se liga agora mais às
motivações institucionais e legais, deixando a questão da moralidade em segundo
plano. Com isso, é na forma da lei que a noção de ética se liga hoje. Não
surpreende a quantidade de códigos de ética existentes atualmente. Por todo o
lado e, sobretudo, nas instituições, os códigos de ética e de conduta estão
presentes. São os códigos de ética médica, da advocacia, da igreja, das
universidades, da imprensa, do comércio, dos órgãos do governo, das empresas e
por aí vai. Fala-se muito, hoje, em governança, transparência, e outros termos
e neologismos, cheios de significados e muitas vezes vazios de afirmação
efetiva. A questão aqui e no resto do mundo é saber onde estaria a ética nesses
novos tempos.
Para alguns observadores da modernidade, a ética,
como a conhecemos, ao longo da história humana, foi exilada, para alguma ilha
distante, justamente por apresentar o abismo existente entre os homens públicos
e a própria noção de Ética que trazemos ainda guardada dentro do peito e que se
refere a conceitos como bom caráter, boa conduta, integridade moral, evolução
espiritual e outros valores que devem permanecer eternamente válidos, sob o
risco de cairmos todos na vala comum da animalidade e da insanidade.
Hoje, a mais acertada definição de ética fica por
conta do filósofo de Leme, Millôr Fernandes (1923-2012). Como ele dizia,
criticando nosso conceito moderno de ética: “meus princípios são rígidos e
inalteráveis. Eu porém, nem tanto.” Ou simulando um diálogo entre dois
políticos: “mas de uma coisa o senhor poder estar certo. Se algum dia em abrir
mão de minhas convicções morais, a preferência será sua.” A relatividade
imposta ao conceito de democracia valeira também para a ética. Somos o que
somos? Ou não somos mais nada? Eis a questão.