A
manifestação de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro marcada para este domingo
elevou a tensão entre a esquerda e a direita no Brasil e poderá gerar reflexos
nas eleições municipais de outubro. Governistas tentam esvaziar o ato alegando
que ele é antidemocrático e pode resultar na prisão de Bolsonaro. A direita
retruca e diz que o PT e partidos aliados estão acuados, com medo do grande
apoio a Bolsonaro.
Parlamentares
ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que, sabendo do tamanho do ato em São
Paulo, o PT tem usado de artifícios para tentar minar o apoio popular, seja por
meio da divulgação de notícias falsas ou afirmando que Bolsonaro será preso o
quanto antes, e que já teria até cela reservada. Entre as "fake news"
estão um falso alerta de que manifestantes que participarem do ato serão
presos, da mesma forma como aconteceu em 8 de janeiro de 2023, e a afirmação de
que a manifestação tem caráter golpista.
O
deputado Luciano Zucco (PL-RS) afirma esse tipo de reação ocorrer porque a
esquerda está amedrontada. Zucco disse que a esquerda sabe o
"tamanho" de Bolsonaro. "É natural que queiram criar narrativa
para inibir quem vai estar lá. Este apoio terá reflexo nas eleições
municipais e vamos estar fortes nas eleições de 2026", disse o
parlamentar. Um forte comparecimento de público e de aliados pode ajudar o
Partido Liberal a bater a meta de eleger mais de mil prefeitos no pleito do fim
do ano.
O
deputado Marco Feliciano (PL-SP) diz não ter dúvidas de que o ato pró-Bolsonaro
será um divisor de águas no momento político, com amplo apoio, apesar das
ameaças do sistema, que busca intimidar a população. “Mostrará que estamos
unidos. Que a direita não está dividida. Que ainda temos liderança. E
principalmente que temos poder de mobilização”.
Gustavo
Gayer (PL-GO) vai mais longe, e diz que o grande apoio que o ato certamente
terá, além de refletir na escolha dos prefeitos em outubro, poderá ainda, no
curto prazo, afetar a governabilidade de Lula no Congresso Nacional. Isto
porque, segundo tem dito o deputado em vídeos postados nas redes sociais, o
Centrão poderá até deixar a base aliada.
“Que
a manifestação sirva como freio para a ditadura e demonstração para o Congresso
Nacional, para que o centrão abandone o governo e comece a andar com o povo. O
centrão está vendido, mas eles podem mudar de lado dependendo do apoio, e o
governo ao perder o centrão perde governabilidade”, afirmou o deputado.
O
senador Magno Malta (PL-ES), reforça que a manifestação convocada para domingo
será “absolutamente pacífica”, apesar dos argumentos contrários daqueles que
tentam esvaziar o movimento. “Se eles estão amedrontados é possivelmente
porque constatam no meio da rua que aquela avalanche de votos que foi dada
a Jair Bolsonaro mostra que ele [Bolsonaro] é o maior líder desse país”. O
senador reforça ainda que o ex-presidente hoje é um “perseguido político”.
Acuada,
esquerda tenta “esvaziar” manifestação na Paulista : O PT acionou o
Ministério Público Eleitoral contra o ato pró-Bolsonaro de domingo na Avenida
Paulista alegando que ele pode envolver crimes contra o Estado Democrático de
Direito, de financiamento irregular e de propaganda eleitoral antecipada. Além
disso, membros da legenda têm usado redes sociais e a tribuna da Câmara para
tentar intimidar apoiadores de Bolsonaro. Foi o que fez o deputado Lindbergh
Farias (PT-RJ) ao discursar e afirmar que “quem for à Paulista vai sair direto
para a Papuda”, se referindo a Penitenciária de Brasília, para onde foram
levados os presos do 8 de janeiro.
A
analogia da manifestação de domingo com os atos de vandalismo de 8 de janeiro
de 2023, por sinal, é um principais argumentos falsos da esquerda para tentar
minar o apoio a Bolsonaro. A presidente do PT, Gleisi Hoffman (PT-PR)
alfinetou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por ele ter faltado
ao ato “Democracia Inabalada”, promovido por Lula no Salão Branco do Congresso,
e ter confirmado presença no ato pró-Bolsonaro. Gleisi afirmou no X (Twitter)
que “essa manifestação será um flerte com o golpismo, com o fascismo. É uma
afronta à democracia e à Constituição”.
Além
das falsas notícias sobre uma prisão iminente de Bolsonaro, apoio a golpe e
outros atos marcados para o mesmo dia e local, movimentos sociais e partidos
divulgaram um documento chamado “Manifesto pela Democracia”, em Brasília, que
segundo o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cesar Brito, tem um
caráter de “alerta”.
Isto
porque o documento atribui o ato pró-Bolsonaro “aos mesmos elementos
responsáveis pela barbárie de 8 de janeiro de 2023, que agora se voltam contra
a Justiça, a democracia e o estado de direito”.
Direita
rebate acusações e reitera caráter pacífico de ato na Paulista
: O senador Rogério Marinho (PL-RN), foi outro parlamentar que usou
as redes sociais para criticar as tentativas da esquerda de esvaziar a
manifestação de domingo. Ele disse que o PT está amedrontado. “A exemplo
de outros partidos de esquerda, [o PT] se utiliza da democracia liberal para
chegar ao poder, e lá trabalha para sufocar, constranger e intimidar os que
pensam diferente. Exatamente como se comportaram nazistas e fascistas antes, e
como se comportam os comunistas agora”, disse o líder da oposição no Senado em
seu perfil no X.
À
Gazeta do Povo, o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), disse que a
manifestação de domingo tem tudo para ser uma das maiores dos últimos tempos, e
que não há qualquer interesse no acirramento de ânimos ou conflitos. “É
evidente que é isso que está amedrontando, tanto é que o PT já tentou impedir
que essa manifestação fosse realizada. Cada dia a gente vê uma notícia, que o
Exército está preparando uma cela para a eventual prisão de Bolsonaro e de
militares. Enfim, tudo isso mostra que a esquerda realmente está apavorada
nessa manifestação do dia 25”.
Contra-ataque
da direita “ameaça” projeto político da esquerda, diz analista : Segundo a
doutora em Ciências Políticas Priscila Lapa, a esquerda teme que o possível
sucesso da manifestação ameace seu projeto político, em curso desde a vitória
de Lula. Mas a analista disse que é preciso cautela para analisar os resultados
políticos que o ato de domingo pode gerar.
“Talvez
a esquerda não esteja amedrontada, mas esteja receosa de que o contra-ataque da
direita venha à altura", afirmou. O contra-ataque se refere às
investigações da Polícia Federal sobre o planejamento de um suposto golpe de
Estado.
Na
opinião da analista, não há dúvidas de que as disputas de narrativas e
estratégias entre direita e esquerda permanecem como plano de fundo da
estruturação política brasileira nos dias de hoje, e a manifestação deverá
acentuar esse tensionamento.
“Isso
se reflete, por exemplo, numa estagnação da avaliação do governo federal de
Lula, especificamente ainda mostrando claramente que existe essa divisão do
eleitorado. Lula não consegue adentrar, por exemplo, numa avaliação positiva
dentro de um eleitorado que não é o seu cativo", disse.
"Então
a divisão permanece, mas o quanto ela vai impactar no processo eleitoral é que
ainda é uma incógnita, como é que isso vai se estruturar em termos de escolha
eleitoral”, afirmou.
Para
o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec, o fato do PT ter acionado o
Ministério Público Eleitoral contra o ato convocado para domingo em São Paulo,
pedindo medidas de prevenção e investigação sobre propaganda eleitoral
antecipada e financiadores demonstra preocupação eleitoral, muito mais que o
temor alegado pelo partido de que o movimento se transforme num novo 8 de
janeiro.
Adriano
reforça que “quem está chamando essa manifestação é a principal referência da
direita nacional hoje no Brasil, que é Bolsonaro. Ele está sendo visto, cada
vez mais, pelo eleitorado conservador de direita como uma vítima de perseguição
política”, disse.
Parlamentares
terão grande participação no ato da Paulista: Mais de 100 deputados
federais já confirmaram presença no ato pró-Bolsonaro neste domingo, além de 20
senadores, quatro governadores, dezenas de prefeitos e personalidades de
diversos setores.
O
ato pró-Bolsonaro está marcado para às 15h, na Avenida Paulista. O
ex-presidente pediu aos apoiadores que não levem faixas ou cartazes. O objetivo
seria evitar novas denúncias e acusações que possam complicar a situação de
Jair Bolsonaro, principalmente com o Supremo Tribunal Federal (STF).