Ao longo dos séculos, desde o
surgimento das primeiras civilizações, os indivíduos se viram obrigados não só
a estabelecer regras racionais para o convívio social interno, como buscar
meios de entendimento com outros povos, além dos muros da cidade. Em casos em
que os problemas pareciam superar as soluções estabelecidas, era comum que os
governantes buscassem a opinião dos anciãos locais, apoiando suas ações na
experiência de vida desses conselheiros naturais.
Eram esses mais vividos que
mostravam o norte a ser seguido. É esse o modelo que vemos ainda hoje nas
diversas tribos indígenas espalhadas por nosso território. É esse tipo de
conselho de notáveis que ainda hoje se verifica em algumas nações, em pleno século
21. O governo e a sociedade têm não só que ouvir, mas pôr em prática aquilo que
os mais experientes e sensatos aconselham.
Em tese, esse deveria ser o
trabalho do tal conselho da República: recomendar ao governo caminhos seguros a
seguir. Isso se o conselho fosse utilizado para questões que parecem escapar do
tirocínio do atual governo. Caso fosse ouvido, por certo o conselho teria
recomendado a não criar arestas com o Estado de Israel, sobretudo quando é
visível a incapacidade do governo para resolver questões complexas dessa
natureza. A soberba e o voluntarismo são sempre maus conselheiros. Deu no que
deu. Já dizia o filósofo de Mondubim que “quem não ouve conselhos, ouve
coitado!”
Agora, com a gigantesca
manifestação do dia 25 último, na Avenida Paulista, que reuniu os simpatizantes
da direita conservadora, fontes do Palácio do Planalto deram a entender que o
presidente se mostrou irritadíssimo com a magnitude do evento, repreendendo
duramente seus auxiliares mais próximos por não terem impedido ou previsto a
grandiosa manifestação. Pelo sim, pelo não, essa situação pôde ser confirmada
com o silêncio do presidente quando perguntado por uma jornalista do Valor
sobre qual era sua avaliação acerca daquela manifestação.
Silêncio constrangedor e muito
significativo. Governar, sabiam seus predecessores, é saber ouvir. A guisa de
exemplo de boa ponderação sobre aquela manifestação política, bastaria ao
presidente e seu staff, escutar o que disse o renomado jurista, professor e
advogado, Ives Gandra Martins que assistiu a toda aquela movimentação da janela
de seu apartamento em São Paulo. Para ele, a manifestação ocorreu de forma
ordeira, sendo que muitos daqueles que lá estavam, mesmo não professando apoio
direto ao ex-presidente, concordaram com o discurso feito por ele de
pacificação nacional. Eis aí um ponto que nem mesmo os auxiliares mais próximos
do presidente ousam recomendar. Pacificação nacional. Mais do que uma sugestão,
essa deveria ser uma obrigação institucional de um chefe de governo.
Ives Gandra Martins lembra, em
sua ponderação mais recente, que democracia é o que o povo decide, e não os
Poderes da República. Exceção feita, talvez, ao Poder Legislativo, que é, em
sua avaliação, o poder mais importante do Estado. Nesse caso, sua importância é
diretamente proporcional à atuação em prol dos interesses da nação, e não de
interesses próprios.
A segunda, também, importante,
observação ou crítica feita pelo jurista é que a mídia tradicional preferiu não
noticiar o evento, o que mostra sua parcialidade em prejuízo do verdadeiro
jornalismo. Para ele esse comportamento parcial das mídias tradicionais, só
reforça, cada vez mais, o poder das redes sociais. É no vácuo de informações da
velha mídia, que as redes sociais crescem exponencialmente e chegam a superar o
antigo jornalismo. É nas redes sociais que ainda pode existir o debate livre,
ensina o professor.
São lições, que apesar de sua
importância, continuam a ser ignoradas por aqueles que estão no poder quase sem
poder e, por isso mesmo, estão agora sem rumo, em plena avenida, perdidos em
meio A uma multidão de quase um milhão de pessoas.