À exceção de poucos jornalistas,
cujo mister os obriga a se inteirar de uma gama de assuntos variados, o que
assistimos hoje nas mídias sociais não passa de um festival de besteirol, cuja
adesão é tão perigosa como caminhar sobre pântanos.
O critério do bom senso sumiu no
horizonte. Obviamente que existem exceções e que valem a pena ser anotadas. Em
outros tempos, nas redações de jornalismo era consenso natural que entrevistas
ou opiniões fossem coletadas apenas daqueles personagens que tinham o que dizer
e que não tropeçavam na língua e no raciocínio. Desse modo, era acertado que
jogador de futebol devia jogar e não comentar assuntos fora de seu habitat.
Cantores deveriam cantar e não falar coisas que não entendiam. Artistas, de
modo geral, idem. Assim a coleta de depoimentos coerentes ficava restrita
àqueles que tinham o que dizer. Era a razão a serviço da informação, poupando
os ouvidos e olhos dos leitores e da audiência de serem inundados com
observações vazias.
Essa regra e outras de igual
valor, quando desobedecidas, não raro geravam ruídos que não só prejudicavam
quem os proferiram, como passava a alimentar uma cadeia de fofocas que
descredenciava a seriedade do próprio jornalismo.
Hoje, à guisa de preencher um
vazio de ideias, todos falam de tudo. O mais trágico é que poucos se entendem.
Vivemos numa espécie de Torre de Babel moderna, onde a linguagem parece ter
perdido seu poder de comunicação e entendimento. Ora porque o que se diz não se
faz e não se vê, ora porque não se diz nada mesmo. O mais incrível é que todo
esse fenômeno atual, onde a comunicação perdeu sua força de comunicar e
estabelecer entendimentos, se dá num momento em que as comunicações via
internet parecem ligar o mundo instantaneamente, ao vivo e a cores. Curioso é
saber que este momento de ruídos na comunicação já havia sido previsto muito
tempo atrás. O caos político em nosso país demonstra essa tese. As inúmeras
guerras e conflitos armados pelo mundo reforçam ainda mais o enunciado citado.
Em 2011 foram comemorados os 100
anos de nascimento do filósofo e professor canadense Marshall McLuhan
(1911-1980), autor do polêmico conceito de aldeia global. Suas ideias sobre
essas previsões foram revistas e repensadas.
MacLuhan acreditava que os meios
de comunicação teriam se tornado uma espécie de extensão natural do homem
moderno. Para ele, as novas tecnologias iriam interligar o mundo e unificar as
culturas, já que essas novas ferramentas iriam influenciar o modo de pensar da
sociedade. Em parte, algumas dessas ideias se concretizaram, mas à custa de uma
realidade paradoxal: nunca, em tempo algum, estivemos tão conectados e
solitários ao mesmo tempo.
Alimentava-nos a ideia de que
somos intrinsecamente iguais e quando nos defrontamos com as diferenças,
tornamo-nos arredios. Um caso típico e que nos diz respeito diretamente pode
ser nos debates políticos envolvendo esquerda e direita.
O fato de essas duas vertentes
não se entenderem é até compreensível. O que não se pode aceitar é o fato de o
Brasil e brasileiros ficarem à margem dessas discussões, não tanto pela ação de
um lado, mas por uma visão obtusa dos que não aceitam o fato de que o país
mudou e com ele surgiram as diferenças expressas pela maioria da população.