Os compromissos partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) registrados no interior de São Paulo, Rio Grande do Sul e agora na Bahia mostram uma tendência: o ex-mandatário seguirá com uma agenda pré-eleitoral intensa apesar das investigações da Polícia Federal que tentam ligá-lo a uma suposta tentativa de golpe de Estado. O PL também planeja promover manifestações para dar continuidade ao movimento de apoio a Bolsonaro iniciado em 25 de fevereiro, na Avenida Paulista, em São Paulo. De acordo com duas fontes próximas ao ex-presidente, há um planejamento em andamento para realizar um ato em cada região do país nos próximos meses.
Considerando que o estado de São Paulo já sediou o primeiro ato, no Sudeste, as manifestações seguintes devem ocorrer nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste. A data e o local do novo ato ainda não foram definidos, mas a expectativa é de que seja realizado ainda em março. O foco da sigla é cumprir o objetivo estabelecido pelo presidente Valdemar Costa Neto em eleger pelo menos mil prefeitos pelo país nas eleições de outubro deste ano.
Na avaliação do cientista político Adriano Cerqueira, docente do Ibmec de Belo Horizonte (MG), o desempenho de Bolsonaro no interior é reflexo da baixa popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrado por recentes pesquisas.
"Está muito claro que a estratégia do PL foi investir no capital eleitoral de Bolsonaro, que é muito alto. Ele é hoje a principal voz da oposição a Lula. Por outro lado, o Lula tem ajudado muito ele. Vimos nessa última pesquisa que foi publicada, como que a avaliação dele está muito ruim. Isso está abrindo espaço para a oposição", disse o cientista político.
De acordo com pesquisa da Atlas Intel divulgada nesta quinta-feira (7), a avaliação positiva caiu de 52% para 47%, e a desaprovação subiu de 43% para 46%. O instituto entrevistou, via internet, 3.154 pessoas de 2 a 5 de março de 2024. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.
Visita à Bahia visa reverter resultado eleitoral de 2022: Ao desembarcar na Bahia, nesta sexta-feira (8), Jair Bolsonaro foi ovacionado por apoiadores no Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, e recebido por uma motociata. Além de marcar presença em um evento do PL Mulher, no sábado (9), a visita do ex-mandatário ao estado tem como meta estratégica reverter o cenário eleitoral desafiador para o ano de 2022.
Na última disputa presidencial, Bolsonaro angariou apenas 27,88% dos votos, totalizando 2.357.028 votos válidos. Por outro lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou uma expressiva vantagem, assegurando 72,12% do eleitorado, equivalentes a 6.097.815 votos válidos.
O evento do PL Mulher também servirá de palco para que recém-filiados ao partido possam ser apresentados ao eleitorado. É caso do ex-deputado estadual Soldado Prisco e do ex-vereador Cézar Leite. Ambos disputarão vagas na Câmara Municipal de Salvador.
Também está prevista a presença de pré-candidatos a prefeito, como o vereador Gabriel Bandarra (PL), o Tenóbio, de Lauro de Freitas; o engenheiro Francisco França, pré-candidato à prefeitura de Itabuna; e o tenente-coronel França, pré-candidato à prefeitura Teixeira de Freitas.
Questionado sobre a visita do ex-mandatário e os desafios do partido para o estado, o deputado federal Capitão Alden (PL-BA) afirma que a ida de Bolsonaro à Bahia ajuda a direita no processo de mudança ideológica no estado.
"Poder contar com o ex-presidente da República Jair Bolsonaro em solo baiano é essencial para começarmos uma reformulação de como a Bahia é vista, um local que infelizmente é governado pela esquerda, mas que começaremos a partir das eleições municipais deste ano a mudar esse cenário", disse o parlamentar.
A reportagem também indagou quais seriam as estratégias do partido para que essa mudança aconteça, mas o deputado baiano afirmou que não seria prudente comentar. No entanto, ele disse que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também terá um papel importante na disputa.
"O que posso de momento adiantar é que Bolsonaro será nosso principal cabo eleitoral e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro terá papel vital nessa caminhada em prol de "despetizar" a Bahia e o Brasil", comentou.
Agenda de Bolsonaro mostra amadurecimento político: A atuação pré-eleitoral de Bolsonaro marca uma mudança de posicionamento do ex-mandatário em relação à política. Inicialmente avesso às questões partidárias, postura que marcou sua atuação como deputado, Bolsonaro concentrou seu esforço em 2023 em estruturar o partido para o embate legislativo contra o PT, bem como aumentar a capilaridade da legenda nos estados.
Comentando esse aspecto, o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), observa que houve um "amadurecimento" de Bolsonaro em relação à postura que ele tinha enquanto deputado e até mesmo presidente da República.
"Esse amadurecimento ocorreu porque ele se transformou em duas coisas importantes dentro da política nacional: um dos principais líderes partidários do país e o principal nome da oposição", afirmou Gomes.
Ele disse que a necessidade de receber as demandas dos prefeitos, enquanto era chefe do Executivo, forçou Bolsonaro a se atentar mais às questões municipais.
"Antes de ser presidente, ele tinha um entendimento do Poder Executivo pelo prisma do parlamentar, que é a "porta" dos recursos para o governador do estado e para os prefeitos. Quando ele se tornou presidente, teve que lidar com as demandas frequentes dos municípios brasileiros - a maior parte deles sem autonomia fiscal e dependente dos repasses da União e do estado", disse.
Em 2023, Bolsonaro focou no Sudeste e Michelle, no Norte e Nordeste: Além das visitas neste ano, São Paulo é o estado que o ex-presidente mais visitou desde que voltou dos Estados Unidos, em 2023. Seja na capital ou no interior, o ex-presidente já visitou a região por cinco vezes. Além disso, ele esteve três vezes em Santa Catarina e em Goiás. Minas Gerais foi o destino em duas ocasiões.
Por outro lado, Michelle procurou diversificar as agendas nos estados do Norte e do Nordeste, regiões consideradas redutos eleitorais de Lula. Só neste ano, ela já visitou Rondônia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Pará. Nesses dois últimos estados, ela esteve acompanhada de Bolsonaro.
As honrarias ao ex-presidente também foram destaque nas visitas, tendo recebido títulos de cidadão em Minas Gerais, Cuiabá, Barretos (SP) e São Bernardo do Campo. A última cidade citada localiza-se na região metropolitana de São Paulo e é reduto de Lula, onde o petista atuou como metalúrgico e sindicalista.