De acordo com o que diz o Código
de Ética e segundo decisão do próprio Conselho Federal de Medicina (CFM), é
exigido, tanto do médico quanto por parte da poderosa indústria farmacêutica,
que ajam com total transparência e dentro dos princípios éticos que regem o
exercício dessas profissões.
Mas o que se observa fora das
letras e nas relações, cada vez mais próximas, existentes entre médicos e
indústria farmacêutica é um natural — e pouco sério — jogo de interesses. Nessa
história, a transformar e a reduzir a saúde num negócio muito lucrativo, há,
por parte de ambos, interesses que vão além do que seja correto. Muitos
médicos, encantados com as facilidades e os presentes ofertados pela IF, se
deixam seduzir, adotando exclusivamente medicamentos, instrumentos e outros
produtos dessas empresas, numa relação que passa longe da vista dos pacientes e
bem longe ainda do que exigem os princípios éticos.
Quanto mais famoso o médico e as
clínicas, mais as diversas indústrias farmacêuticas se acercam deles, com mimos
de todo os tipos, incluindo viagens internacionais nos melhores hotéis, com
tudo pago, e outros brindes de alto valor, para tê-los cativos de seus
produtos. Óbvio que há muitas exceções. Profissionais sérios que não atendem
esse tipo de reclame.
Recentemente, a empresa
norte-americana INSYS Therapeutics foi condenada, naquele país, por subornar
médicos para oferecer remédios elaborados com base em opiáceo, 100 vezes mais
potente que a morfina e que provocavam forte dependência nos pacientes.
O Conselho Federal de Medicina
vem fazendo, atualmente, o acompanhamento de muitos casos em que as relações
entre médicos e a indústria farmacêutica extrapolam o que é permitido em lei.
Para o CFM, a resposta a esses casos é dura e sempre a mesma, no sentido de
penalizar os profissionais envolvidos. A questão, aqui, é que nessas relações
há muito dinheiro envolvido e pressões vindas de todos os lados. Não é segredo
para ninguém que a IF pressiona e faz forte lobby não apenas junto aos
profissionais de saúde.
Existe uma forte presença da IF
junto não somente a políticos influentes, como ao pessoal do Executivo,
sobretudo o Ministério da Saúde, onde a sua atuação vem de longa data e com
resultados sempre satisfatórios para essas empresas. Há, evidentemente, diversos
riscos envolvidos nessas relações, para a população, que, de certa forma, acaba
se transformando numa espécie de cobaia para essas indústrias, como afirmam
alguns médicos.
Em países em que as leis são
duras e aplicadas de imediato, com penalidades pecuniárias e cadeia por longo
tempo, essas indústrias agem com maior cautela.