Desde minha infância, procuro um
país que se esconde, que escondem, que sufocam, que impedem que floresça. Desde
que me entendo por gente, ouço falar do “país do futuro”. Já vivi quase 60
anos, e nunca o futuro chega. Vai sendo adiado, enquanto atravessamos momentos
muito ruins, ruins e menos ruins.
Somos desafiados diariamente, quase perdemos a esperança, a fé. E respiramos, e voltamos. Vamos catando os pedaços que nos ficam, na tentativa de reconstruir um sonho, de não desistir dele... Nem todos podem se levantar. Há, claro, os que fenecem, sem que surjam novos sonhos capazes de apontar o futuro, um novo futuro, que seja... Ainda assim, decente.
Somos ricos, vivemos na riqueza, mas nos negam todos os recursos. Quanto mais queremos o futuro prometido, mais ele se afasta.
Vivemos numa vastidão de possibilidades. Na amplidão continental de um país, nas paisagens mais variadas e lindas... Léguas, e léguas, e léguas, mas nos falta o horizonte. Somos o país da contradição. Somos imensos, um potencial imenso, mas seguimos reféns de um futuro que grita eternamente e jamais se realiza.
Somos ricos, vivemos na riqueza, mas nos
negam todos os recursos. Quanto mais queremos o futuro prometido, mais ele se
afasta. Ainda assim, acreditamos no triunfo do bem... Somos um país tomado por
egoístas e oportunistas. A eles não servem as referências, nem as positivas,
nem as negativas. O mundo real não cabe como exemplo. Nosso milagre parece uma
farsa.
Falamos a mesma língua, por onde quer que se ande. Temos expressões para tudo, temos palavras para tudo, somos pródigos em sinônimos, mas somos reféns do antônimo da jornada correta. O caminho está diante de nós, e clama para que o tomemos, para que o trilhemos inapelavelmente, mas qualquer passo por ele vira um tropeço. Somos barrados, empurrados, caímos e levantamos, caímos e levantamos.
Quando fomos livres não sei. Fomos,
algum dia? De liberdade, talvez, só tenhamos ouvido falar. Aqueles que a tomam
de nós juram que a protegem, que nos protegem. Nosso futuro impossível é o
silêncio que nos impõem agora. Somos um fio de voz, a autocensura, as palavras
medidas, os cuidados insanos. Somos um país obrigado a descartar opiniões e
críticas fundamentais. Nosso olhar no passado, no presente e nosso olhar
adiante são prisioneiros.
Andamos à procura da alegria, do otimismo... Não
podemos fraquejar, falhar. Olhamos em volta e encontramos forças. Respiramos,
nos recompomos. Haverá o país do futuro, construído incansavelmente, contra
tudo e contra todos, no presente, o Brasil pelo qual temos dedicado as nossas
vidas. Nosso tempo é sempre, nossa luta é eterna. Não seremos mais o país da
saudade, a saudade de um país que nunca existiu, essa estranha saudade do
futuro que nos é negado.