Para o bem geral
Existe, hoje, uma crise séria, na forma de subocupação ou sublocação de
edifícios corporativos. Por toda a parte da cidade, o que se observa, seja aqui
no Brasil, em Brasília, ou em muitas partes mundo afora, o fenômeno do
esvaziamento de prédios inteiros nos apresenta uma nova realidade que, ao que
parece, ainda não conseguimos entender em sua extensão e, pior, resolver esse
problema que ameaça muitos centros urbanos, inclusive a própria capital do
país.
Depois da pandemia, esse problema ganhou ainda mais visibilidade. No
nosso caso em particular, para onde quer que você olhe, no centro do Plano
Piloto, são inúmeros os edifícios totalmente desocupados. Esse é um problema
que deve merecer atenção de todos. Não só dos empresários e donos desses
prédios comerciais e corporativos, mas de todas as autoridades, pois essa
situação anômala ameaça também a economia local, além de representar uma dor de
cabeça para a segurança da cidade.
Por sua extensão, essa questão deveria merecer maior atenção do
legislativo local, na forma de audiência pública, debates, CPI e outros
instrumentos. O que não se pode é ignorar um problema que parece aumentar com o
passar do tempo. Não fossem as instituições públicas, bancos e outras empresas
de grande porte, que ainda ocupam esses edifícios, instalando aí seus serviços
e repartições, o problema seria ainda mais grave.
Para complicar uma situação que, em si, aponta diretamente para a
decadência precoce de nossa cidade, não se tem, por parte do poder público, um
levantamento com o número exato de edifícios fantasmas. É preciso entender que
essa situação, por suas características próprias, não pode ser empurrada para
frente sem uma definição correta e racional.
Edifícios, quando deixados vazios ou sem a utilização para a qual foram
projetados, rapidamente entram em processo de degradação, transformando-se em
mais um problema. Lembrando aqui que, neste mesmo espaço, tempos atrás,
descrito pelo fenômeno conhecido por “ teoria das janelas quebradas”, na qual
ficou constado que a degradação de um bem ou mesmo o aumento da criminalidade
começam de forma pequena, com uma janela quebrada, pichações, pequenos delitos
e outros processos contra a lei, quando não reprimidos logo de início, crescem,
transformando-se em verdadeira calamidade pública, agora já de difícil solução.
Não irá passar muito tempo até que moradores de rua ou outros
malfeitores e viciados, impulsionados por oportunistas e sabichões, passem a
promover a ocupação desses imóveis, como aconteceu no antigo Hotel Torre
Palace, ocupado por desordeiros e drogados, degradando toda uma área nobre da
capital, com sérios reflexos para o turismo local, para os comerciantes e todos
que circulavam naquela área.
Por certo, o fenômeno do teletrabalho, em que muitos profissionais
passaram a produzir diretamente de casa, também contribuiu para o esvaziamento
de muitos edifícios. Mas essa é uma tendência mundial e local que, por suas
características positivas, tanto na vida do trabalhador como para a economia
das empresas e instituições, veio para ficar e deve ser, inclusive,
incentivada.
Também a interligação dos serviços de computação, as redes e mídias em
geral, criou o que os especialistas chamam de “não lugar”, no qual já não
existe a necessidade de trabalhar em um ponto geográfico e específico,
bastando, ao trabalhador e profissional, ter em mãos um pequeno laptop com
acesso à rede laboral.
Trata-se de um novo tempo. No entanto, essa modernidade toda, com suas
facilidades, não pode, de modo algum, trazer problemas e prejuízos para o
presente, sob pena de melhorarmos um aspecto específico de nossas vidas, às
custas da piora de outros fatores. É preciso pensar com criatividade e para o
bem geral.