O
grande problema com o fundo do poço, em matéria de coisa ruim, é que realmente
não há um fundo para esse tipo de poço. O governo Lula, por exemplo, mostra aí
a sua marca inconfundível: por pior que esteja, sempre pode piorar mais. As
enchentes no Rio Grande do Sul são o cenário mais recente que encontraram para
superar os seus próprios recordes de ruindade.
Diante
de uma das maiores tragédias que a população gaúcha já viveu, e da sua inépcia
fundamental em tomar uma única medida útil em favor das vítimas, o governo
revelou o que realmente o preocupa no momento: as fake news que descobre em
cada postagem feita das redes sociais sobre sua incompetência. É realmente uma
obsessão. Com mais de 100 mortos, um estado inteiro em agonia e um futuro
apavorante para centenas de milhares de seres humanos, o Ministério da Justiça
e a sua Polícia Federal armaram uma operação de guerra para investigar cidadãos
que consideram suspeitos de divulgar “narrativas desinformativas” sobre as
enchentes.
A
Secom se refere a publicações “criminosas” feitas nas redes sobre a enchente.
Quais seriam? Postagens que falam da “ineficiência do governo”, por exemplo.
Esqueça-se,
por um minuto, a pura e simples depravação de sair à caça de “notícias falsas”
numa hora em que há gente morrendo por falta de ajuda. “Narrativas
desinformativas”? Que diabo seria isso? É exatamente aquilo que você está
pensando: notícias que o governo não gosta, sobretudo as verdadeiras, e
qualquer crítica à sua atuação geral na calamidade gaúcha.
É
mais uma trapaça agressiva, na ideia fixa de Lula, do STF e da esquerda de
comandar o “enfrentamento das fake news”. O que querem mesmo, como fica outra
vez na cara, é censurar. Como não precisam censurar a imprensa tida como
tradicional, vão para cima das pessoas que estão escrevendo ou gravando na
internet, com inquérito policial e ameaça de prisão. Para cima do quê, mais
exatamente? De tudo o que a Secretaria de Comunicação do governo, ou o
“Ministério da Mídia”, não gosta. Foram eles os primeiros a chamar a polícia.
Sua atividade normal é distribuir dinheiro para os veículos de comunicação
amigos – os que não “desinformam”. As enchentes trouxeram à tona o seu papel
como agentes da repressão.
É
claro que eles querem proibir tudo, ou o máximo. No documento neurastênico que
enviou ao Ministério da Justiça, a Secom se refere a publicações “criminosas”
feitas nas redes sobre a enchente. Quais seriam? Postagens que falam da
“ineficiência do governo”, por exemplo. Não é, em absoluto, uma notícia falsa.
É apenas uma opinião – que pode ou não estar correta, mas é livre, segundo está
escrito na lei.
Foram
denunciadas, também, menções à “falta de atenção” do “governo federal” e
comentários sobre o a “rapidez da Força Aérea Brasileira” em levar 125
toneladas de alimentos para Cuba – e a lentidão da sua assistência ao Rio
Grande. É pura e simples maneira de ver as coisas, só isso. Mas não pode.
O
governo está indignado com outra coisa ainda: a maioria dos vídeos postados nas
redes sociais mostra a própria população no trabalho de socorro, e não a ação
dos “agentes públicos” – o que, segundo a Gestapo federal, é uma tentativa de
mostrar que as pessoas estão fazendo mais que os governos. Acham que essa
realidade é intolerável.
O
governo citou, como exemplo de fake news, a recusa de ajuda do Uruguai – mas a
ajuda foi oferecida, e julgada desnecessária pelas Forças Armadas por motivos
técnicos. Negou-se furiosamente que caminhões levando alimentos para o Rio
Grande do Sul tenham sido multados pela PRF por excesso de peso – mas as multas
foram de fato aplicadas, segundo o próprio governo, com a promessa de que não
vão ser cobradas.
A
ministra da “Igualdade Racial” fez propaganda do PT em sua mensagem de
solidariedade – mas depois separou as postagens da propaganda e da
solidariedade, e tudo acabou na bacia das denúncias contra as “notícias
falsas”. Na melhor das hipóteses, são histórias pessimamente contadas. Na
hipótese realista, é o governo aproveitando a neurose que tem com as fake news
para distribuir, ele próprio, as suas fake news. Em qualquer das duas, é o
governo Lula mostrando de novo que só tem um lado – o lado ruim.