Catástrofes
ambientais ocorridas em todo o planeta em decorrência do previsto efeito
estufa, vão deixando patente que o mundo, e sobretudo a espécie humana,
protagonista desse processo, terão, doravante que começar a exercitar um novo
modelo de exploração da terra, caso desejem ainda permanecer existindo. Essa é
uma, entre milhares de outras constatações que podem ser incluídas no rol dos
fatos incontestes. Ou é isso ou aquilo que vamos assistindo, com cada vez mais
frequência.
Nesse
planeta água, a terra entra em fusão sob nossos pés. O que os cientistas
ligados às questões do meio ambiente têm afirmado, é que entramos num ponto de
não retorno. O start ou o ponto de inflexão de todo esse novo momento que
estamos assistindo foi dado em data incerta. O que parece certo é que esse
século XXI, cuja inauguração se deu com a sinistra derrubada das Torres Gêmeas
em Nova Iorque, será marcado por desafios que a humanidade jamais experimentou
anteriormente, salvo aqueles mencionados na Bíblia, que relatam os
acontecimentos durante o período do dilúvio.
Talvez
o que menos importa nesse instante seja a busca por culpados por toda essa
reviravolta que vai ocorrendo em nosso planeta. O que importa e de forma
urgente é revisar alguns modelos de exploração dos recursos naturais do planeta
e de nossa conduta coletiva que nos trouxeram até aqui.
Para
um planeta que caminha para abrigar oito bilhões de habitantes, livrar com
urgência dos sistemas de produção de alimentos e da exploração de outras
riquezas, não será tarefa fácil. Talvez esse seja também um esforço que não
caberá apenas aos governos, mas sim, a toda a coletividade humana.
Por
todo o mundo, vai ficando cada vez mais claro que a força coletiva ou sociedade
civil, tem sido muito mais eficaz na resolução de calamidades climáticas de
grandes proporções do que aquelas mostradas pelo Estado. O caso do furacão
Michel que assolou a Flórida em 2018, deixou antever ao mundo que a cooperação
descentralizada da sociedade civil foi um fator, por excelência, para minorar
as consequências advindas daquela tormenta que deixou mais de 80 mortos, com
prejuízos de dezenas de bilhões de dólares.
O
mesmo fator é agora reafirmado no caso das enchentes que destruíram boa parte
do território gaúcho. Tolice o governo querer competir midiaticamente com as
ações voluntárias, demonstradas pela sociedade civil local. As imagens e, mesmo
o imaginário coletivo, provam a força dessas comunidades. Impressionante no
caso do Rio Grande do Sul, é que essas populações que se desdobraram para
salvar vidas, jamais, em tempo algum, tiveram quaisquer treinamentos prévios,
agindo apenas com base na força da solidariedade e do destino comum.
Na
realidade esse parece ser o mote atual que deve nos mover daqui para frente:
destino comum. Seguramente, por habitarmos esse planeta ferido de morte por
nossas ações temos que ter em mente que temos, ricos e pobres, um destino
comum. A resposta do Estado, e sobretudo a resposta de um governo envolto com
uma séria crise econômica, centralizada e burocrática não é páreo para o
ultimato veloz do clima.
As
críticas ajudam no aperfeiçoamento das ações, pois apontam falhas e, muitas
vezes, mostram soluções adequadas. Antigamente se dizia que é quando a maré
baixa que podemos constatar quem é que estava nu. No nosso caso particular,
podemos confirmar que não era população flagelada. É certo também que não
iremos minorar a dor dos nossos irmãos do Sul, com palavras ou outras
condolências cerimoniais e formais. Mas ainda assim é por meio da palavra
denunciada que iremos alertar que somente hoje em nosso país temos uma
população de mais de meio milhão considerados fugitivos do clima.
Em
todo o mundo, esse contingente alcança mais de um bilhão de pessoas. Para se
ter uma ideia dessa situação fora da roda é preciso lembrar que em pouco mais
de um ano o nosso país teve mais de 12 eventos climáticos extremos e, até hoje,
não nos preparamos para as adversidades climáticas.