Com a quase certa eleição do conservador Donald Trump para a presidência
dos Estados Unidos, e, agora, com o avanço esmagador da direita nas eleições
para o Parlamento Europeu, tudo isso sem contar com a vitória do também
direitista Javier Milei, na Argentina, o governo brasileiro terá
obrigatoriamente que reorientar suas ações, caso queira manter uma relação
política mais saudável com o restante do continente, com os Estados Unidos e
com a Europa.
As mudanças no matiz ideológico em muitos países já levam os analistas
políticos a admitirem que o mundo vive uma onda global rumo à direita,
sendo que esse verdadeiro maremoto está apenas em sua fase inicial. Isso
significa que essas mudanças trarão, entre outras coisas, um novo modelo de
relação entre os países.
Talvez, a mais significativa alteração aconteça nas relações econômicas,
com o retorno do pragmatismo do Laissez-Faire ou do Liberalismo, com todas as
suas vertentes. De imediato, a renovação do Parlamento Europeu poderá, em médio
prazo, provocar impactos significativos nos mercados internacionais, embora
que, nesse momento, as relações com a América Latina e o Brasil não serão
afetadas ainda. Mais uma coisa é certa: os resultados da eleição na Europa
afetarão, sem dúvida alguma, o modo como o Mercado Comum Europeu interage com o
continente latino-americano. Em síntese, o que se espera é que essa nova
configuração política do Parlamento Europeu, juntamente com as eleições
americanas vindouras, traga bons frutos para nosso país.
A saída para o atual governo, caso não queira se isolar ainda mais do
mundo democrático, é a busca guarida junto ao velho Centrão, deixando de lado
os arroubos ideológicos. O que se descortina no mundo Ocidental nesses tempos é
o retorno triunfal da velha e conhecida realpolitik, ou seja a diplomacia
política alicerçada em considerações de cunho prático, ou seja no verdadeiro
interesse nacional. A verdade é que no plano internacional a mudança que vem
ocorrendo a cada eleição para o Parlamento Europeu, trará mudanças sobretudo
nas relações do velho continente com a emergente China. É nesse polo que
estarão, talvez, as mais importantes mudanças de rumo. Com a economia chinesa
montada sobre os trilhos da ideologia do Partido Comunista Chinês, com suas já
sabidas pretensões de abocanhar o mundo através da chamada Rota da Seda, as
relações da Europa com o Oriente devem ser repensadas. Para os que estão hoje
confortavelmente instalados no poder, todo e qualquer movimento feito pela
direita é logo taxado de extremista. Assim é que a chegada dessa força política
ao Parlamento Europeu foi logo atribuída à extrema direita.
O que está em jogo, com essa reviravolta que, diga-se de passagem, vem
da vontade popular livre e soberana é o começo do fim das esquerdas no poder em
boa parte do mundo civilizado. O que resta agora dessa ideologia no controle de
alguns países se resume a governos nitidamente ditatoriais, opressores e sem
rumos claros para a concretização de metas simples como o Índice de
Desenvolvimento Humano. Todos os países controlados hoje por forças de esquerda
mantêm suas populações na pobreza, pois servem-se dessa condição para
perpetuarem-se no poder. Uma coisa é o que a realidade imposta pela vontade
popular quer de fato. Outra coisa é o que se apressam em analisar aqueles que
já estão com saudades dessas mudanças e com medo do que ela trará.
Com a possível eleição de Trump e guinada à direita do braço legislativo
do principal bloco econômico do planeta, os embates entre China e Ocidente
podem ser ainda mais acirrados, o que, de forma indireta pode favorecer também
ao agronegócio brasileiro, também principal protagonista dos superávits do
país. O que se sabe até agora é que os superávits surpreendentes nas finanças
da Argentina, algo até pouco tempo inconcebível, é obra da direita no poder e
isso é motivo de ciumeira por parte do atual governo de nosso país,
principalmente quando se sabe que a economia do Brasil está rumando para o
abismo fiscal com uma dívida interna podendo facilmente ultrapassar a casa dos
R$ 7 trilhões de reais.
Com a guinada da direita em
muitos países, vai ficando cada vez mais difícil ao governo brasileiro seguir
com a manobra de isolar a direita em nosso país. As previsões, caso as eleições
transcorram na paz e na ética, são que o próximo Legislativo nacional seja
majoritariamente conservador. Em nosso caso, é preciso observar ainda que a
construção de pontes entre o Executivo e o Legislativo vai ficando cada vem
mais difícil, obrigando o Palácio do Planalto a ter que recorrer ao Judiciário
onde parece contar com uma insólita maioria a seu favor.