Acompanhei
com espanto a aprovação em tempo recorde do pedido de urgência ao projeto de
lei que propõe uma pena desumana a mulheres e crianças que precisam — a palavra
é essa! — passar por um aborto após a experiência traumatizante de um estupro.
Não são poucas. Há dados oficiais sobre violência sexual e aborto que revelam a
proporção absurda da frequência com que isso ocorre, em especial dentro de
casa, onde deviam estar sob a proteção da família.
Li
atentamente todos os protestos que explicam, com estatísticas e argumentos, o
quão é violenta essa proposição com as mulheres. Nem precisaríamos recorrer a
um repertório tão real e quantificado se houvesse a consciência de que não cabe
aos homens — que dirá a um coletivo denominado Congresso Nacional — legislar
sobre o corpo feminino. É absurdo — e basta!
Por
outro lado, argumentos contaminados por um extremismo ideológico fantasiado de
dogmas religiosos mal-interpretados, muitos inventados. Pergunto-me se de fato
os autores e signatários estão convencidos da tal defesa da vida ou se apenas
fazem parte de um jogo político para chegar ao poder, reter e ampliar os
privilégios de sempre. Agora, obrigando mulheres a parir filhos de
estupradores, a abrigar no ventre a memória de seu torturador.
O
que me restou aqui nesse espaço, para evitar dizer mais do mesmo, foi
questionar: é esse Congresso que queremos? Votamos nessas pessoas para que elas
perpetuem uma realidade de dor e injustiça imposta às mulheres? Votamos para
que retrocedam em direitos básicos já concedidos? Há tanto a se fazer para que
meninas e mulheres sejam protegidas e acolhidas no Brasil. Há tanto o que
melhorar para termos uma sociedade justa e igualitária, como está escrito na
Constituição.
Mas
eles querem urgência para punir mulheres, para culpar e levar para a cadeia as
vítimas de um crime tão desumano quanto o estupro. Não podemos votar em nossos
representantes sem ter muita consciência do que estamos fazendo e correr o
risco de elegermos representantes retrógrados. É certo que temos honrosas
exceções entre os políticos que hoje legislam. Mas sozinhos eles podem muito
pouco para mudar a realidade.
Precisamos
pensar bem na hora do voto. Precisamos, mais do que nunca, ter consciência de
que essas pessoas mudam nossa realidade — para o bem e para o mal. Vamos
estudar a vida pregressa desses políticos, pesquisar suas ações como
legisladores, amplificar os absurdos que cometem em nosso nome.
Reverter
esse jogo está nas nossas mãos. Apenas eleitores têm o poder de transformar
nosso país e colocar no poder quem realmente tem o desejo de ampliar a proteção
às mulheres. Não sejamos tolos. Eles não são. Querem apenas poder e
privilégios, além do controle sem medida sobre os corpos femininos. Não
passarão!