Todo
dia, faço um esforço enorme para ler, depois da Gazeta do Povo, aqueles que já
foram os jornais mais importantes do Brasil: O Globo, Folha de S.Paulo e O
Estado de S.Paulo. Dá engulhos, dá enjoo, gera revolta, mas faz parte do meu
trabalho. É o jornalismo que desistiu de ser jornalismo, é militância, que
inclui, obviamente, o abandono da busca pela verdade, dos fatos, que permite um
sem-fim de contradições, a eliminação das perguntas, da desconfiança, da
curiosidade. Tudo porque os jor-na-lis-tas, assim mesmo, silabadamente,
insistem em ser os “donos da verdade”... Não apenas isso, resolveram “educar”
as pessoas, dedicar-se a uma espécie de “catequese”. Querem ser “professores”,
“tutores”, “pais de todos”, impondo seus erros, equívocos, suas lacunas, como
se apontassem o único caminho para a “salvação”. Com empáfia, soberba e
arrogância, reportagens, artigos e colunas passam a ser absurdos rabiscos de
giz num quadro-negro, ideias que não se sustentam no confronto com o mundo
real, base do jornalismo.
Há
poucos dias, encontrei uma coluna na Folha assinada por uma jovem
correspondente do jornal em Londres, deslocada temporariamente aos Estados
Unidos para cobrir a Copa América de futebol. O título já me provocou um
“sorriso amarelo”: “Copa América, Eurocopa e a extrema direita”... Ela abre o
texto falando mal do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia. Afirma
que “foi a decisão mais equivocada desde os tempos da rainha Vitória”, que “o
país ficou mais dividido e pobre”. Considerando que a jornalista mora na
Inglaterra já há alguns anos, deve ter tomado como base suas próprias
percepções e o contato com britânicos defensores do bloco europeu. Não lhe
passou pela cabeça mostrar todos os lados da história, dar espaço também a quem
aponta tudo de ruim que o globalismo gera: fim das soberanias nacionais, o
poder nas mãos de tecnocratas, que defendem, por exemplo, imigração ilegal e
praticam o “ecoterrorismo”, anunciando o fim do mundo para depois de amanhã.
Claro que a jornalista comemorou a vitória do novo primeiro-ministro britânico,
Keir Starmer, do Partido Trabalhista, que se declara socialista, quer estatizar
todo o transporte ferroviário, aumentar impostos e já disse (apenas como
“provocação”, ele mesmo “explicou”) que “propriedade é roubo”...
Jornalistas
querem ser “professores”, “tutores”, “pais de todos”, impondo seus erros,
equívocos, suas lacunas, como se apontassem o único caminho para a “salvação”
A
colunista da Folha, então, fala da seleção de futebol da Inglaterra, “sempre
engajada em temas como racismo e inclusão”. E ninguém pode dizer que discursos
assim são contraproducentes, que geram uma divisão da humanidade, que, nos meus
quase 60 anos de vida, eu nunca tinha visto. Bastava fazer valer que todos são
iguais perante a lei... E ninguém pode dizer que política, que ideologia, que
nada disso deve se misturar o tempo todo com esporte. E vem a jornalista
reclamar do “silêncio dos sempre engajados jogadores ingleses” sobre pautas que
ela considera importantíssimas. Por que a equipe não se manifestou sobre as
eleições britânicas? Pergunta e decide logo: provavelmente, os jogadores
ficaram em silêncio porque os conservadores não tinham chance de vencer. Então,
parece que não era necessário que se manifestassem. Se tivessem escolhido
falar, seria, obrigatoriamente, a favor dos trabalhistas, adoradores do Estado,
e contra os “radicais e atrapalhados” conservadores. Na “democracia relativa”,
apenas um tipo de opinião é permitido. E tome elogios aos jogadores da França,
que fizeram campanha, nas eleições legislativas do país, contra o que eles e a
colunista da Folha chamam de “ultradireita”, de “extremistas”. Nenhuma palavra
sobre o partido vencedor, liderado por um comunista trotskista,
anticapitalista, que quer mais impostos, mais estatização, que apoia os
terroristas do Hamas e admira Fidel Castro e Hugo Chávez. Não, não existe
extrema esquerda.
Chegamos,
enfim, à Copa América... A colunista da Folha está num bar no estado do
Arizona, sempre muito quente no verão. É um raro momento de folga, e ela
assiste à partida entre Brasil e Colômbia. Na mesa ao lado está “um senhor de
boné, cabelos brancos e cavanhaque” que puxa papo. Ele é caminhoneiro e leva
material para a construção do muro na fronteira com o México, que tem como
objetivo conter a imigração ilegal para os Estados Unidos e a jornalista chama
de “polêmico”. O senhorzinho mostra fotos e pergunta à brasileira da Folha o
que ela pensa sobre imigração... A colunista defende até a entrada ilegal de
imigrantes porque “eles estão desesperados”. É confrontada pelo veterano
caminhoneiro americano, que afirma que Donald Trump vai ganhar as eleições e
que, com Joe Biden na presidência, a vida ficou pior. Não, não é possível,
aquele homem não pode expor suas próprias experiências e visões... A
jor-na-lis-ta tem certeza de que ele está equivocado, que tudo melhorou com
Biden, para todos. Quem está certa é a jovem militante, que, então, percebe que
o senhor usa um boné em que está escrito “America First”, slogan de Donald
Trump... E ela escreve na sua coluna, expondo descaradamente sua própria
incoerência: “Desisto. Certas pessoas acreditam em qualquer coisa que você
diga, contanto que seja o que elas querem ouvir”.
A
jornalista da Folha, uma típica “democrata” atual, interdita o debate e volta
sua atenção ao jogo do Brasil. Reclama que a camisa amarela da seleção foi
“sequestrada” pela “extrema direita”... Como se fosse possível “sequestrar”
símbolos nacionais, privar outros grupos de também usá-los, de fazer reverência
a eles. A camisa do Brasil, a nossa bandeira, o verde, o amarelo, o nosso hino,
está tudo aí... Se um grupo não quer saber de nada disso, se prefere abandonar
o patriotismo, que não é nacionalismo, quem está verdadeiramente errado? De
repente, o bar fica sem energia elétrica... A moça da Folha diz que a
temperatura está acima dos 40 graus, que a culpa é do “aquecimento global”, mas
que não adianta falar sobre isso com alguém que defende “um maluco como Donald
Trump”. Na penumbra, o caminhoneiro desapareceu, “ainda bem”, a colunista
escreve. Ela escapou de ouvir que o verão no Arizona é assim mesmo:
temperaturas sempre muito altas... E já faz um bocado de tempo.
O
que a colunista quer – uma rápida visita às suas redes sociais comprovou – é
“explicar tudo direitinho para seus leitores, com didática, usando filtros
corretos”... Tudo bem “mastigadinho”, para que as pessoas tão ingênuas, tão
limitadas entendam. É uma “professorinha” sabedora de tudo, uma “engenheira
social”. E, como dizia Olavo de Carvalho, quando vierem com essa conversa de
transformar o mundo, “melhor encostar o traseiro na parede”.