Desde
que foi convencido a dar entrevistas todos os dias para ocupar lugar na mídia,
o presidente Lula só se desgasta, com declarações no mínimo estranhas, como
esta última, de que o MST não tira terra de ninguém; quem tira terra do
agricultor são os bancos. Para quem teve apoio de banqueiros, a declaração só o
faz perder apoio e dinheiro de campanha. Erros simples de avaliação, cometidos
por quem sempre teve a fama de intuitivo, revelam um certo cansaço, neste ano e
meio de terceiro mandato. Nesses últimos dias negou, chamou de “cretinos” os
que registraram o fato de que, à medida que fala sobre contas públicas, juros e
Banco Central, Lula faz o dólar disparar. Chegou até a imitar Bolsonaro na
crítica ao Supremo: “A suprema corte não tem de se meter em tudo”.
Aliás,
o falar demais atribuído a Bolsonaro parece estar sendo superado por Lula,
reclamando de mães que têm filhos demais, anunciando que não vai financiar os
arrozeiros que saíram de secas para enchente recordista, e acusando o
presidente do Banco Central de trabalhar para os banqueiros; mas sempre
elogiando o MST, que, por sua vez, critica Lula por frustrar as expectativas
dos sem-terra. Na polêmica da droga, lavou as mãos como Pilatos. Empurrou para
a “ciência”, esquecendo que as famílias esperam a ação social e sanitária do
Estado para evitar, tratar, reprimir e pegar o traficante – e diminuir a
desgraça.
Até
hoje o país lembra do presidente Itamar Franco, que afastou o ministro Henrique
Hargreaves até que ele demonstrasse inocência de uma suspeita, pois um ministro
precisa estar acima de qualquer suspeita. Lula não considerou o bom exemplo e
mantém o ministro Juscelino Filho, mesmo indiciado por corrupção pela Polícia
Federal. O que esperar de quem encara um indiciamento por corrupção como algo
com que pode conviver? Quando perde no Congresso e derrubam seus vetos, culpa
as lideranças, os ministros e, agora, os jornalistas e, provavelmente, seus
marqueteiros. Como no Rio Grande do Sul cheio d’água o discurso ficou esvaziado
pela falta de ações efetivas, um gigantesco encontro do agro gaúcho está
marcado para esta quinta-feira, para tentar despertar o governo federal.
Em
política externa não é diferente. Está perto de Nicolás Maduro, de Cuba, de
Daniel Ortega, do Irã, do Hamas, e longe de Israel, com quem temos contratos, e
da Argentina, com quem temos vizinhança. Nos Estados Unidos, está cada vez mais
palpável a volta de Donald Trump, e o Brasil poderá ficar só com os amigos de
Lula, já meio distanciado de Gabriel Boric, do Chile, e sem afinidade com os
presidentes do Paraguai e Uruguai. Javier Milei vai estar no fim de semana em
Balneário Camboriú, com Jair Bolsonaro, e não vai estar com Lula na
segunda-feira, na reunião do Mercosul em Assunção. Enfim, o presidente do
Brasil fala mais que Joe Biden, mas o resultado é parecido.