Dois
dias após sofrer um atentado que só não tirou sua vida por poucos milímetros e
um milagre divino, Donald Trump apareceu na convenção do Partido Republicano
com curativo na orelha para ser consagrado o candidato oficial nesta eleição.
No mesmo dia, ele anunciou J.D. Vance como seu vice na chapa. O jovem senador
de Ohio foi recebido com entusiasmo pela base do MAGA, o movimento trumpista no
partido.
Vance
ficou nacionalmente conhecido por sua memória que virou best-seller e filme na
Netflix, Hillybilly Elegy, que retrata a desesperança de uma classe média baixa
presa na rotina sem muitas expectativas e com inúmeros problemas familiares,
como o uso de drogas e agressões físicas.
É
uma chapa MAGA turbinada, de quem deseja real mudança na política americana. E
por ser tão jovem, Vance poderá se colocar como liderança republicana por muito
tempo ainda
Só
vi o filme nesta segunda, e é muito tocante e inspirador. O sucesso
profissional e familiar de Vance é o atestado do "American Dream". Os
"especialistas" não gostaram, pois o filme não elogia o papel estatal
em seu "bem-estar social". Mas o público adorou, pois mostra como a
atitude individual pode fazer toda a diferença. Vance é um patriota,
trabalhador, inteligente, e deu a volta por cima, atingindo grande sucesso em
sua carreira por mérito próprio.
Em
2016, ele foi bem duro com Trump. Muitos do partido foram, por desconfiar de
suas credenciais republicanas. Vance chegou a embarcar na narrativa de que
Trump era uma espécie de Hitler americano. Logo depois, porém, ele passou a
analisar as políticas do governo e endossar o presidente. Nos últimos anos,
Vance era um dos mais leais apoiadores de Trump, sempre com sua postura
combativa.
Por
isso, Joe Biden o definiu como um "clone de Trump". Essa vai ser a
pegada dos democratas. E, de fato, a escolha de Vance não fala com os mais
moderados, não busca qualquer união ou contemporização. Vance é duro contra o
aborto, a imigração ilegal, é um dos maiores defensores de Israel no Senado,
critica o apoio incondicional e pouco transparente do governo Biden a Zelensky
na Ucrânia e não acena para a seita ambientalista.
Tampouco
Ohio é um "swing State", ou seja, Trump não precisava de Vance para
conquistar votos indecisos. E sua escolha, na prática, pode até afastar
eventuais votos de independentes ou moderados, que não gostam de Trump, mas
poderiam votar nele por repulsa ainda maior ao governo Biden. Trump, enfim, não
fez sua escolha pensando em angariar mais votos. E isso diz muito sobre seu
estado de espírito quanto às chances de vitória em novembro.
Trump
está muito confiante nesta vitória, e pensou no pós-eleição. Provavelmente não
queria mais um republicano tradicional ligado ao establishment, como Nikki
Haley, que poderia traí-lo no governo. Tampouco parece disposto a fazer
concessões demais ao centro para governar. Se seu lema antes era "drenar o
pântano" em Washington, então Trump dobrou a aposta com a escolha de
Vance.
É
uma chapa MAGA turbinada, de quem deseja real mudança na política americana. E
por ser tão jovem, Vance poderá se colocar como liderança republicana por muito
tempo ainda. Ou seja, Trump, o "narcisista egoísta", pode ter pensado
mais no futuro da nação do que na próxima eleição. Postura de estadista...