Até
Nova York sabe: Fernando Haddad é a "Taxa Humana”, trocadilho com o
super-herói Tocha Humana e representado em alta definição em telão na Times
Square na última terça-feira. A inundação de memes nas redes sociais e, em
especial, no X retratando Haddad – ou Taxad, como as redes já o apelidam agora
– como o algoz do pagador de impostos brasileiro, transbordou para a vida real.
Não foi só nas ruas da cidade americana símbolo do capitalismo mundial que a
trend chamou atenção: em Brasília, próceres do petismo não conseguiram evitar o
desconfortável assunto, ainda que tentando relevar sua importância. Sem
sucesso.
A
verdade é que, a exemplo do que escrevi há poucos dias neste espaço sobre o
tamanho da irresponsabilidade fiscal e dos déficits causados pelo governo Lula,
o Ministério da Fazenda não tem investido em nenhuma outra alternativa para
contorná-los senão aumentando a arrecadação. A conta, cada vez mais salgada,
precisa ser paga. O discurso de taxar quem mais ganha pode funcionar no curto
prazo e para as bases mais alinhadas com o lulismo. A realidade, porém, se
impõe: todos vão acabar pagando e a maioria dos brasileiros já está sentindo o
bolso arder. Todos os dias.
Lula
e Haddad estão experimentando, agora, a revolta do brasileiro que se sente
abusado, compelido a pagar uma conta que não é sua
Em
artigo de abril passado, ainda antes da aprovação de uma ainda indecifrada
regulamentação da Reforma Tributária, Célio Yano fez um apanhado dos principais
aumentos de impostos e novos tributos criados no governo Lula. No rol está a
volta do recolhimento de PIS/COFINS sobre os combustíveis, o que voltou a
colocar a gasolina acima do preço de R$ 6 por litro; a tributação sobre a
exportação de petróleo; a tributação de apostas esportivas; a nova alíquota de
importação para o e-commerce – a "taxação das blusinhas” e sobre a
importação de painéis solares; o aumento do IPI sobre armas e munições; o fim
da isenção de IRPJ e CSLL de benefícios fiscais; a tributação de fundos
exclusivos e de rendimento no exterior; instituição da cobrança de IPVA de
iates e jatinhos, além da progressividade do imposto sobre herança; e a volta
do DPVAT, são exemplos – mas não todos! – das tungadas que este governo já deu
no bolso do brasileiro em menos de dois anos de mandato. Como suportar tamanho
assalto?
O
caldo definitivamente entornou com a aprovação de uma reforma tributária que
deve resultar no maior imposto sobre consumo do mundo, superando os 27%
cobrados na Hungria, exageradamente mais alto do que o de qualquer país em
desenvolvimento, como é o nosso caso, e quase o dobro da média mundial, de 15%.
Não é à toa que o cidadão foi às redes expressar sua insatisfação com Fernando
Taxad, digo, Haddad. E não há acusação de disseminação de fake news que fique
de pé diante de uma população que sente o seu poder de compra diminuído cada
vez que vai a um supermercado.
Uma
frase que se tornou célebre, do estrategista de campanha de Bill Clinton, James
Carville, na sua primeira vitória presidencial, merece ser relembrada: “É a
economia, estúpido!”. Nada revolta mais uma população do que o abuso
arrecadatório. Os Estados Unidos se tornaram independentes após o imposto do
chá, o Brasil tem em Tiradentes um herói nacional após a revolta causada pela
cobrança do quinto e o meu Rio Grande do Sul foi à guerra contra o governo
central em virtude do imposto sobre o charque.
Lula
e Haddad estão experimentando, agora, a revolta do brasileiro que se sente
abusado, compelido a pagar uma conta que não é sua. Para piorar, tanto o
presidente como seu ministro não se esforçam para encontrar alternativas no
corte de despesas de um estado inchado e que serve mais a si mesmo do que ao
povo. Haddad até fala, mas não faz. É a receita perfeita para gerar mais
impopularidade, mais revolta – e mais memes. O resultado, como demonstrou
Carville com Clinton, é um só: alternância de poder no voto ou na marra, como
experimentaram no passado recente Fernando Collor e Dilma Rousseff.