Nunca o ditador Nicolás Maduro roubou tanto uma
eleição quanto a que acaba de roubar, pela terceira vez seguida, na Venezuela.
Nesta última, mudou o modo de operar, com fraude direto na veia, e deixou a
impressão de que estava havendo uma disputa duríssima com o candidato da
oposição – que poderia até ganhar e ter a sua vitória respeitada, segundo o
próprio Maduro chegou a dizer. Os eleitores da Venezuela, mais uma vez, apenas
perderam o seu tempo e se arriscaram a levar pancada da polícia, do Exército e
das milícias do governo.
No momento que achou mais conveniente o ditador
anunciou na noite de domingo que tinha ganhado, lógico, mas por 51% –
para fingir uma vitória apertada, mas legal. Saiu do modelo de Cuba ou Coreia
do Norte, onde as ditaduras sempre ganham de 90% para cima, e vai continuar
dizendo, como seu parceiro Lula, que a Venezuela tem democracia “até demais”.
Todo mundo vai dizer, agora, que não se pode falar em
ditadura na Venezuela, porque Maduro foi eleito mais uma vez pelo “voto
popular”
Não foi possível, visivelmente, inventar um resultado
com os números que Maduro gosta; a vantagem do candidato da oposição, nas
pesquisas e na mobilização de rua, ficou tão evidente durante a campanha, que
acharam menos escandaloso criar um resultado com margem estreita. Todo mundo
vai dizer, agora, que não se pode falar em ditadura na Venezuela, porque Maduro
foi eleito mais uma vez pelo “voto popular”.
Foi criado, assim um falso clima de disputa – mas
nunca houve disputa nenhuma. O que mudou foi a coreografia da farsa, e os
vigilantes mundiais da democracia ficaram fazendo de conta que tudo ia se
decidir no dia da eleição. Lula, parceiro número 1 da ditadura, montou a ficção
de que estava angustiado com o “cumprimento do processo eleitoral” e mandou seu
chanceler de fato ir até lá na hora da votação para garantir que tudo ia ser
feito direitinho.
Mas o roubo da eleição, a essa altura, já estava mais
do que acertado, e na cara de todo mundo. A oposição lançou uma candidata
forte; Maduro, através do seu TSE, proibiu que ela concorresse. Lançou, então,
uma segunda candidata; foi cassada como a primeira. Já daria, só aí, para puxar
o cartão vermelho. É simplesmente impossível haver uma eleição limpa se o
governo declara que os adversários que não gosta são “inelegíveis”. Mas ficou
ainda pior.
Oposicionistas foram presos. Houve censura fechada. A
primeira candidata cassada, que fez campanha contra Maduro, foi proibida de
viajar de avião. Os cerca de 4 milhões de eleitores venezuelanos que se
exilaram para fugir da fome e da repressão, foram impedidos de votar com
falcatruas burocráticas armadas pelo governo. Não foi permitida a observação de
fiscais internacionais. O nome e a foto de Maduro apareceram treze vezes na
cédula de votação.
Se isso não é eleição roubada, o que seria? Para o
Brasil de Lula, que ficou com a brocha na mão nessa história, como sempre fica
quando se mete a ser “potência do Sul Global”, foi mais uma vergonha. Lula e o
Itamaraty de Celso Amorim sempre estiveram na primeira fila das macacas de
auditório de Maduro. Quando o ditador ameaçou a Venezuela com um “banho de
sangue” caso não ganhasse a eleição, Lula ficou com medo de ter ido longe
demais no seu apoio – e veio dizer que estava perturbado com a ameaça.
Levou um cala-boca de Maduro – “vai tomar um chá de
camomila” – ouviu que as sacrossantas urnas do TSE não são auditáveis e baixou
o facho. Juntou-se agora a Cuba, Rússia, Nicarágua e todas as outras ditaduras
do mundo para elogiar o “caráter pacífico da jornada eleitoral” e exigir
respeito à contagem de votos apresentada por Maduro. O que era um desastre
virou um desastre duplo.