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Debora e seu batom atômico

Debora e seu batom atômico

8 de Janeiro de 2023. Era uma manhã seca em Brasília, e Debora se preparava para a missão de sua vida. Colocou uma bandeira do Brasil nos ombros para disfarçar, enquanto guardava com todo cuidado seu poderoso batom na bolsa. Despediu-se dos dois filhos pequenos e partiu.

Ao chegar na Praça dos Três Poderes, já havia muita balbúrdia e confusão. O caos tinha tomado conta de tudo. Havia gente vandalizando os prédios públicos, enquanto outros gritavam para que não fizessem isso. Um terceiro grupo buscava abrigo e confiou na polícia para se refugiar do quebra-quebra e das próprias bombas de efeito moral do estado.

Mas Debora tinha uma única missão: derrubar a democracia brasileira. Seu batom atômico, criado em laboratório israelense, mostraria ao Brasil e ao mundo que não era aceitável a volta do ladrão à cena do crime, como diria Alckmin. Debora estava ciente de seu papel crucial nesse golpe fatal.

Aproveitando a oportunidade certa, ela escalou uma estátua e sacou sua arma da bolsa. Escreveu, então, as palavras inspiradas em Barroso: "Perdeu, mané". Olhou mais uma vez para verificar se foi tudo feito da maneira correta e, orgulhosa de seu feito, desceu e se afastou. Ficou de longe à espera do resultado: o Mossad havia prometido que a explosão seria incrível e o abalo não deixaria pedra sobre pedra. Mas nada aconteceu.

O Super Xandão, em sua Liga da Justiça, tinha sido mais rápido. Agindo fora dos ritos, como os heróis precisam fazer com frequência, Xandão tinha neutralizado a ameaça. Sua Abin paralela havia instalado um dispositivo no batom atômico sem Debora tomar conhecimento, e por isso a explosão não aconteceu.

Debora foi capturada. O Super Xandão, sempre agindo fora da legalidade, sabia que para ser a muralha da democracia era preciso agir com rigor. Seus nobres fins justificavam quaisquer meios. Não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos. O Super Xandão mandou prender centenas de pessoas, todas suspeitas de envolvimento com a terrorista Debora. Ele perseguiu jornalistas também, por apoiarem a Debora.

O Super Xandão, sempre agindo fora da legalidade, sabia que para ser a muralha da democracia era preciso agir com rigor. Seus nobres fins justificavam quaisquer meios

O disfarce de cabeleireira foi exposto pelo Super Xandão e seus aliados, que comprovaram, fora do rito processual, a ligação de Debora com o Mossad. A democracia brasileira poderia respirar aliviada e mirar nos bons exemplos da Venezuela e da Nicarágua.

Os golpistas teriam de esperar uma nova oportunidade. Polvo, o presidente colocado de volta ao poder pelo Super Xandão, mandou erguer uma estátua em sua homenagem. Debora passaria anos na prisão, para intimidar potenciais terroristas.

Quando o jornal Papel de SP revelou conversas entre os aliados do Super Xandão, com falas claramente ilegais, a ministra Carmen Buço logo saiu em sua defesa e disse: "Todos devemos lembrar do heroico papel de Xandão nas eleições". O recado estava claro: por ter impedido o golpe de Debora e seu batom atômico, Super Xandão tinha a proteção do sistema e ninguém deveria se importar com algumas "poucas" medidas criminosas nesse processo. Ele salvou a democracia! O Brasil poderia, finalmente, se aproximar do modelo venezuelano.


Rodrigo Constantino – Foto: Joedson Alves/Agência Brasil – Gazeta do Povo





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