Redescoberta do Marco Zero resgata história do início
da construção de Brasília. Marcação do ponto exato de onde partiram as
referências geográficas das primeiras obras da capital foi encontrada durante
restauração do Buraco do Tatu; ele fica exatamente no cruzamento dos dois eixos
Brasília nasceu de um sonho — o de Dom Bosco, de
Juscelino e dos candangos. Para que ele virasse concreto, foi preciso escolher
o ponto de onde tudo partiria: o Marco Zero. Depois de décadas escondido, esse
ponto preciso, a partir do qual toda a capital foi construída, está de novo à
vista do público. Localizado durante as obras no Buraco do Tatu, o Marco Zero
de Brasília recebeu o devido reconhecimento e, agora, se soma à lista dos
pontos turísticos do Distrito Federal.
Antes do início da construção, era preciso demarcar o
ponto de onde irradiaria a nova capital, ou seja, onde seria o ponto de
referência para os cálculos que tirariam do papel os eixos que se cruzam em
ângulo reto, designados por Lúcio Costa no projeto urbanístico vencedor. Houve
certa dificuldade para se chegar a esse local exato na então Fazenda Bananal.
Segundo levantamento do Arquivo Público do DF (ArPDF), coube ao arquiteto
Joffre Mozart Parada cravar a Estaca Zero, em 20 de abril de 1957, incumbido pelo
então presidente da Novacap, Israel Pinheiro.
A cidade, então, se fez a partir desse ponto — a
quilometragem das vias do DF, por exemplo, tem ele como referência —, demarcado
por uma estaca. “A partir da Estaca Zero, toda a cidade foi pensada: as praças,
as vias, os jardins, as tesourinhas, a Asa Norte, a Asa Sul ー tudo foi pensado e calculado a partir dela. Portanto, a Estaca
Zero é o ponto de nascimento e de irradiação de toda a urbanização de
Brasília”, explica Elias Manoel da Silva, historiador do Arquivo Público do DF.
O que era terra virou concreto e a estaca foi
retirada. No lugar, ficou um disco de metal que, por anos, manteve-se encoberto
por uma placa de concreto, sem nada dizer a quem passava pelo coração da
capital. Durante as obras de restauração do pavimento asfáltico, iniciadas em
1º de julho, operários encontraram o disco. “Foi uma surpresa para a equipe,
que não sabia do que se tratava. Ficou aquela questão de ‘tira ou não tira’ e
aí parou o serviço que estavam fazendo ao redor dele, chamaram o engenheiro responsável
e pediram para o pessoal do DER verificar”, lembra o engenheiro Carlos Humberto
Santana, que acompanhou os trabalhos.
Não fosse o cuidado dos operários — e uma porção de
sorte — a história teria sido perdida. “Alguns trechos do módulo de concreto, a
gente arrancou todo para fazer a recuperação total. E aqui nessa parte não
estava danificado. Se tivesse danificado esse concreto, possivelmente teria
arrancado tudo e perdido o Marco Zero”, pontua Carlos.
Agora, o local — que foi confirmado por técnicos do
Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), embasados em documentos do
Arquivo Público — terá uma marcação no solo e nas paredes do Buraco do Tatu,
inclusive, protegidas contra pichação. E será mais do que só um novo ponto
turístico. “Estaremos reabrindo a própria história de Brasília, ou seja, o
local onde foi colocada a Estaca Zero, o ponto onde o Eixo Monumental e o Eixo
Rodoviário se encontram”, exalta o superintendente do Arquivo Público do DF, Adalberto
Scigliano. “Graças à preservação da memória feita pelo Arquivo Público e à
parceria entre os órgãos envolvidos na obra foi possível revelar essa parte
importante da história da nossa capital. Agora, todas as vezes que a população
passar por ali vai lembrar de como e onde nasceu Brasília”, completa.
Entre os que vão passar por ali com o olhar diferente
está o motorista Valmir Sousa. “Passava por cima e nunca nem imaginei que
estava ali”, relata. “Sou nascido e criado em Brasília e uma descoberta dessa é
um marco para a gente, porque saber onde tudo começou, o centro de Brasília, é
uma maravilha. Vai ficar para a história.”
Buraco do Tatu: As obras de restauração do pavimento
asfáltico em concreto do Buraco do Tatu – passagem de 700 metros que liga os
eixos rodoviários Norte e Sul, no Plano Piloto – foram iniciadas em 1º de julho
e concluídas nesta quarta-feira (31). O trânsito será liberado na quinta-feira
(1º), beneficiando, assim, os 150 mil motoristas, que passam todos os dias pelo
local.
O pavimento original da passagem, da época da
construção de Brasília, estava degradado após 60 anos de uso e sua vida útil
estava ultrapassada. Foram investidos cerca de R$ 2 milhões nas obras de
recuperação do pavimento.
As placas de concreto danificadas foram trocadas por
novas e o material antigo das juntas de dilatação – que unem essas placas – foi
substituído por um selante com durabilidade prevista de dez anos. Os serviços
incluíram a lavagem das paredes azulejadas e do teto do Buraco, além de limpeza
e desobstrução de todas as caixas de drenagem da passagem.
Sensacional! 👏👏👏👏👏
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