Como previsto pela pequena parcela de brasileiros que
utilizam a cabeça para pensar, a liberalização dos jogos de azar, das bets, dos
bingos, dos cassinos, do bicho, das corridas de cavalo e outras modalidades
voltadas para tungar os trouxas, traria consigo consequências nefastas muito
além dos supostos benefícios apregoados pelos defensores desse mundo de
fantasias. Aqui, foi dito que os afoitos defensores da liberalização dos jogos
no país deveriam ser investigados previamente, antes que essa matéria fosse
levada adiante e aprovada na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Houvesse, ao menos, uma sincera vontade em conhecer, de perto, quem são aqueles
que querem os cidadãos brasileiros mergulhados no mundo obscuro da jogatina
desenfreada, nenhum desses tormentos que agora surgem de todos os lados
estariam acontecendo.
O certo é que aqueles que desejam que o Brasil se
transforme num imenso cassino, e que verdadeiramente estão por detrás dessa
manobra, não mostram o rosto. Como sempre, fechamos as portas depois de
arrombadas. O poderoso lobby dos jogos de azar fez seu trabalho às custas de
muito suor e, Deus sabe lá, às custas de que outras coisas mais. Falar em
criação de regras para a exploração da jogatina e de mecanismos de fiscalização
e controle dos mesmos, num país em que regras, fiscalização e controle só funcionam
onde não existe o poder do suborno é piada sem riso.
A contravenção conhece muito bem os caminhos que levam
à absolvição. Não só os caminhos mas quem pode absolvê-los. Aos ludopatas, ou
aqueles tomados pela doença psicológica de compulsão por jogos de azar, foi
dada a Disneylândia das apostas. Aos hospitais e às clínicas de psiquiatria, um
grande volume de pacientes. Do mesmo modo, ao SUS, foi empurrada a tarefa e os
custos com a chegada em massa desses novos doentes. Sem tocar na destruição de
famílias. Aos contribuintes, foram entregues ainda as dívidas com os altos
custos desses novos benefícios. Ou seja, o azar fica do lado dos perdedores, no
caso aqui, os brasileiros, e a sorte vai para os bolsos desses empresários
enriquecidos agora com o dinheiro fácil.
Outro beneficiário direto desses estabelecimentos de
apostas serão as organizações criminosas, que terão, à disposição, excelentes
meios de lavar o dinheiro do crime. Outro absurdo anunciado pelo governo, para
conferir um certo grau de correção na atividade de jogos, será a exigência aos
viciados em apostas a apresentação, pelas casas de apostas do perfil desses
jogadores. Até o mesmo o Ministério da Saúde está sendo recrutado para alertar
e fazer campanhas publicitária, sobre os efeitos das apostas na saúde das
pessoas. Outra exigência, do tipo para inglês ver, será a obrigação das casas
de apostas enviarem relatórios diários para o Ministério da Fazenda sobre o
perfil dos jogadores, renda, valor e frequência das apostas. Aqui fica mais do
que patente que ao governo, nessa história toda, interessa apenas o quanto
poderá arrecadar em impostos e outras taxas.
As fraudes já começaram a acontecer, com notícias
correntes de empresas que estão explorando tanto os apostadores, como os
empregados e o próprio fisco. O problema aqui é que mais cedo ou mais tarde o
Judiciário será invadido por uma avalanche de processos individuais e
coletivos, feitos por famílias que, de uma hora para outra, perderam tudo,
inclusive a casa própria. Para um país cujas prioridades reais deveriam ser
educação, saúde, infraestrutura, água e esgoto tratados e muitas outras
necessidades urgentes, a liberação da jogatina demonstra que o governo e mesmo
o Congresso estão, como sempre, alheios ao Brasil real, cada um cuidando dos
próprios interesses. Essa história de que a Fazenda está cuidando agora para
que a regulamentação tenha um potencial para proteger os consumidores, não faz
sentido, quando se sabe que nem mesmo as metas fiscais estabelecidas pelo
próprio governo são cumpridas ou respeitadas.
Outra balela é falar em “jogo responsável”, como se
isso fosse possível para viciados em apostas, criminosos lavando dinheiro e
donos de cassinos, loucos por encher os cofres das empresas. Também deixar por
conta dos apostadores e dos sites uma autorregulamentação é outra sandice saída
de mentes baldias. Por fim, tratar esse setor controverso e perigoso como
empresas dedicadas ao entretenimento e lazer é fazer troça dos cidadãos. O fato
é que o jogo no Brasil, a partir dessa liberalização geral, está entregue à
própria sorte. Os incautos apostadores estarão entregues ao próprio azar.
Afinal a liberação do jogo em nosso país é uma boa medida para nosso futuro?
Sim ou não? Façam suas apostas.