Diante dos olhos dos brasileiros, principalmente
daqueles que apresentam algum grau de percepção da realidade, vão se ensaiando
os passos de um jeté num grande bailado que evolui em sentido oposto à ordem
institucional democrática, reimplantada a partir de 1985. O banimento da
plataforma X, sob o falso pretexto de seus operadores se recusarem a cumprir
ordens judiciais, integra essa coreografia, que conta ainda com outros
movimentos, meticulosamente preparados e inseridos num roteiro sob a direção da
China e de outros países agrupados hoje no bloco dos BRICS.
Não por coincidência, mais da metade dos países que
formam esse bloco mantém rédeas curtas nas liberdades das redes sociais,
inclusive com o banimento da rede X. O estreitamento, cada vez maior entre o
Brasil e a China, sob o argumento de vantagens econômicas, esconde, da vista do
público, objetivos políticos de médio e longo prazo, visando a substituição
paulatina de um modelo mais aberto e democrático, ainda em vigor, por um rond
de jambe, tocando no controle do Estado por um partido único. A situação aqui
está em copiar o longo know how chinês em hegemonia política e econômica e,
quiçá, trazer, para dentro de nosso país, o figurino de um capitalismo estatal
nos moldes tupiniquim.
As conversas entre os dois países seguem em ritmo
acelerado, pois todo esse esforço de aprendizado e transplante desse modelo
ditatorial pode ser abortado, por força do destino ou de algum outro
descontrole do processo eleitoral nas eleições de 2026. Solapar a democracia
brasileira por dentro, obviamente com ajuda externa da China, Rússia, Irã e
outras ditaduras, tem sido ensaiado com plié que sobe e desce em movimentos
disfarçados de cooperação bilateral em diversos setores, a começar pelo setor
de comunicações, o que inclui aqui a liberdade de imprensa.
O cenário de fundo é ocupado por uma cenografia que
mostra a democracia com todos os seus atributos sendo protegida contra os
ataques das oposições e de quaisquer outros tipos de contestações. Os inimigos
aqui incluem-se todos aqueles conterrâneos e nacionais contrários às pantomimas
dos que ocupam o palco. Os inimigos externos estão, não por outra razão, também
classificados entre as maiores democracias do Ocidente.
As democracias consolidadas representam barreiras
naturais contra as investidas do autoritarismo. Para outras democracias frágeis
e cujo Estado de Direito é ainda uma utopia, o avanço no controle do Estado é
só uma questão de tempo. Aliás, o termo democracia é usado e abusado como
propaganda do sistema, mas que, em sua essência, pouco ou nada ainda carrega de
seu sentido histórico e factual. Nada é o que parece. A resposta aos reclamos
da população e das oposições vem através de medidas que simplesmente fecham
esses canais de contestação, censurando o debate ou criminalizando objeções
através de leis subjetivas de repressão. O avanço chinês está condicionado
diretamente ao enfraquecimento dos sistemas democráticos do Ocidente. Essa é a
realidade.
Outro aspecto ou fator a favorecer o avanço da China
sobre os países do Ocidente é a corrupção existente em muitos Estados desse
lado do mundo. Quanto mais as elites no poder são corruptas, antipatrióticas e
pouco escolarizadas, mais fácil para a China adentrar o território, comprando
tudo e a todos aqueles para os quais tudo tem preço. Troca-se a soberania e
democracia coisas como espelhos e outras bugigangas. Alçada à presidência do
Banco dos BRICS, Dilma Roussef, a quem os brasileiros deram o cartão vermelho
por incompetência e outras más condutas, recebe agora a mais alta comenda do
governo chinês, a Medalha da Amizade. Certamente, não por seus atributos
administrativos a frente das finanças bancárias, mas por seus serviços de
vassalagem prestados ao governo daquele país. Nada é de graça e sem os devidos
significados.
Em 2023 o atual governo brasileiro levou a China a
maior comitiva já vista em toda a nossa história. A presidente do partido no
poder tem feito também visitas frequentes àquele governo, onde tem adquirido
ensinamentos preciosos para o fortalecimento da atual gestão interna. Também o
chefe da mais alta corte do Brasil tem feito visitas ao governo chinês em busca
de conhecimentos sobre o uso da inteligência artificial no sistema processual
brasileiro. Notem que essa visita de aprendizagem é feita justamente num país
em que não existe justiça nos moldes das democracias do Ocidente. Naquele país
o ministro foi em busca de possibilidades de lançamento de parcerias e
cooperações na área jurídica, sobretudo aquela relativa a eleições.
Naquela ocasião o magistrado discorreu sobre o tema
democracia, para uma plateia que não faz a mínima ideia do seja democracia ou
processo eleitoral livre. “Nós somos ensinados a acreditar naquilo que vemos e
ouvimos. No dia em que nós não pudermos acreditar no que vemos e ouvimos, a
liberdade de expressão terá perdido o sentido”, disse Barroso.