Para os observadores internacionais que acompanham de
perto a evolução do Brics pela avenida do Sul Global, está cada vez mais claro
que esse bloco tem apenas uma fachada, ou verniz, de bloco econômico comum e,
muito mais, um propósito estratégico, político e militar de médio prazo para
cercar as democracias do mundo, sobretudo a sua mais importante personificação
dada pelos Estados Unidos da América.
A primeira lição de um mundo desenvolvido é dada pela
seguinte sentença: o capitalismo liberal (e não o capitalismo de Estado) é o
único parceiro possível para as democracias. Em outras palavras, não existe
capitalismo liberal sem democracia, e vice-versa. São justamente esses dois
pilares da civilização Ocidental que China, Rússia e agregados buscam superar,
ou mais precisamente demolir, erigindo em seu lugar a fantasia do capitalismo
de Estado, orientado por ditaduras frontalmente contrárias aos direitos humanos
e a tudo que se refere à liberdade.
Nesta terça-feira, na Rússia, começou a 16º Cúpula do
Brics. Nessa ocasião, todo o teatro está armado para demonstrar que o
presidente daquele país e membro desse bloco não está sozinho em seus
propósitos de trazer das cinzas a velha e carcomida União Soviética. Só que
esse seu sonho de marechal de hospício tem levado consigo milhões de mortos
desde que ele assumiu o controle da Rússia. Apenas nessa sua cruzada atual de
30 meses contra a Ucrânia, os analistas militares contabilizam quase 600 mil
soldados russos mortos em combate. No lado ucraniano, as baixas chegam perto de
190 mil soldados.
Para o governo tirânico da Rússia, o Brics tem sido
praticamente o único apoio que recebe do mundo, principalmente na forma de
ajuda econômica, facilitando a comercialização de seus produtos, driblando,
assim, as sanções internacionais. Não fosse esse bloco, a Rússia,
possivelmente, já teria capitulado diante do preço absurdo em vidas e do
financiamento pesado do Estado nesse esforço de guerra.
Um terço de todo o orçamento do governo russo vai para
área militar. Tem sido assim desde que Putin chegou ao poder. A questão aqui é
de se perguntar: como pode um único homem, pequeno em estatura e sabedoria,
erguer atrás de si um imenso cemitério de milhões de mortos, na sua grande
maioria composto por jovens e pessoas no auge da capacidade operativa,
arruinando e comprometendo o futuro do próprio país? O bom senso, nos tempos em
que essa virtude era cultivada, sempre recomendou o afastamento de pessoas sanguinárias
e belicosas, pois desse tipo de companhia o que se colhe é a morte e
destruição.
Ao lado desse companheiro pra lá de problemático, o
Brasil se junta também à China, outra parceria comprometida seriamente com
questões de direitos humanos, com dezenas de milhares de presos políticos e uma
soma igual em desaparecidos ou deletados da vista. Não bastasse esse problema
interno, a China, seguindo o exemplo da Rússia, prepara-se em ritmo acelerado
para invadir Taiwan — possivelmente agora em 2025. Quem dá essa certeza é
ninguém menos do que o ministro da Defesa da ilha. Esse conflito regional pode
facilmente envolver também os Estados Unidos, levando o mundo a um período de
confrontações cujo desfecho pode se dar pelo uso de armas nucleares.
A esse grupo de encrenqueiros se junta agora o Irã,
principal cabeça do chamado “eixo do mal”, pelo seu envolvimento e
financiamento a grupos terroristas como Hamas, Hezbollah e outros que visam
destruir o Ocidente, sua cultura e suas crenças. Com companhias como essas, a
pergunta que surge é: como o Brasil, cujas Forças Armadas vivem seu pior
momento, com a debandada de praças e suboficiais por conta dos baixos salários,
irá se posicionar? O pior, se é que pode haver pior nesse caso, é que o Brasil
pretende levar para esse bloco de incendiários, países aqui da América Latina e
Caribe, como Nicarágua, Cuba e Venezuela.
A parceria militar entre Coreia do Norte e Rússia,
para onde tem enviado milhares de soldados para morrer nos campos da Ucrânia,
parece abrir caminho também para, em um futuro próximo, o país comandado pelo
lunático Kim Jong-un possa vir a se juntar ao Brics, transformando esse bloco
num caso de risco para todo o planeta. Tivesse um governo sério e comprometido
com o futuro do Brasil, parceria dessa natureza seria impensável. Pois tudo o
que esse bloco almeja é que o planeta esqueça essa coisa de futuro.