A Vida e o Legado de Yvonne Jean, fundadora da UnB e
defensora da Educação
Yvonne
Jean foi uma das fundadoras da Universidade de Brasília (UnB), e seu legado
ficou marcado na história da educação e da cultura da cidade. Escritora,
jornalista, colunista, histologista, professora, tradutora e intérprete
simultânea, escreveu mais de oito mil artigos e falava nove línguas
fluentemente. Essa era Yvonne Jean, uma intelectual de origem belga que veio ao
Brasil para fugir da invasão nazista ao seu país. Foi no Brasil, em 1940, que
sua história de vida se complementou. Aqui, se casou e se naturalizou
brasileira. No Rio de Janeiro, começou a escrever para a imprensa carioca sobre
sua vinda ao país tropical, mas foi em 1962, a convite de Darcy Ribeiro,
antropólogo e criador da UnB, que Yvonne chegou à capital federal.
Em
Brasília, na universidade, Yvonne atuou como professora, tradutora e intérprete
simultânea. Ela também foi responsável pelo Centro de Extensão Cultural, que
atuou e organizou cursos de extensão de artesanato no Brasil. Na parte
cultural, foram realizados pela UnB cursos e palestras com artistas locais e de
outros estados, como o de “Artesanato no Brasil”, que ela orientou em 1963. No
ano de 1964, o golpe militar impactou a vida de Yvonne, assim como da própria
universidade, que foi alvo de invasões por tropas militares. Nos 18 meses
seguintes ao golpe, foram realizadas duas invasões militares com a
justificativa de expurgar os comunistas da instituição: em abril de 1964 e em
outubro de 1965. A segunda ocasionou a demissão de 223 funcionários por ordem
da ditadura. Yvonne não deixou de expressar, em seus escritos, seu desconforto
com a situação.
Como jornalista, Yvonne escreveu crônicas e reportagens sobre vários
temas, mas principalmente sobre educação, arte, cultura e seu cotidiano em suas
diversas funções. Ela trabalhou no Correio Braziliense na década de 60, onde
assinava quatro colunas e falava sobre as escolas e a UnB. No Jornal de
Brasília, atuou por 10 anos na década de 70, com a coluna “Ensino dia a dia.” Suas colunas apresentavam um caráter crítico, descritivo e interventivo.
Ela era uma defensora da educação e do ensino em Brasília. Entre seus diversos
artigos, enfatizou principalmente questões como os problemas da cultura
escolar, desigualdade escolar e relações entre culturas escolares e culturas
urbanas.
Homenagem: Em 24 de março de 1981, Yvonne Jean faleceu. E, 43 anos depois, seu
trabalho e sua importância para a cultura e a educação da cidade e da UnB ainda
são fortemente reconhecidos. Na última sexta-feira (8), a universidade
homenageou a intelectual com o seminário intitulado “Seguindo os rastros de
Yvonne: Yvonne Jean e a educação em Brasília nos anos de sua fundação”, que fez
parte da 24ª Semana Universitária da instituição. O evento reuniu professores e
também contou com a presença de João Luiz da Fonseca, filho e herdeiro de
Yvonne Jean, que agregou aos seus conhecimentos toda a história e memória de
sua mãe.
O
seminário discutiu a influência de Yvonne Jean na educação, cultura e arte de
Brasília, especialmente durante o período de criação da UnB. A professora/doutora
Benedetta Bisol abriu o seminário com uma palestra sobre a biografia
intelectual de Yvonne, destacando o impacto de suas ideias no desenvolvimento
cultural e educacional da capital federal nos anos 1960. Em seguida, o
professor/doutor Juarez José Tuchinski dos Anjos apresentou uma análise das
colunas escritas por Yvonne, nas quais ela abordava as culturas escolares em
Brasília, refletindo sobre o cenário educacional da época. Por fim, a também
professora/doutora Etienne Baldez Louzada Barbosa explorou a visão de Yvonne
Jean sobre os jardins de infância em Brasília, discutindo tanto o olhar
fotográfico quanto os escritos da educadora sobre a importância da infância e
do espaço escolar.
João
Luiz da Fonseca, filho de Yvonne Jean, não escondeu a emoção ao participar do
seminário em homenagem à sua mãe. “Para mim, a homenagem que a Universidade de
Brasília fez para a Yvonne Jean nesta sexta-feira foi uma das maiores emoções
da minha vida. Não tem preço reviver a sua brilhante trajetória, desde que colocou
os pés no Brasil e virou uma brilhante brasileira. Foi como reviver todos os
momentos que passei ao lado da minha mãe, desde a infância e sentir como ela é
admirada até hoje! Percebi o entusiasmo dos historiadores que tanto estudaram a
trajetória da sua vida dedicada à educação, cultura e, principalmente, ao
jornalismo”. Para João Luiz, que é repórter e colunista de Fórmula 1 do Jornal
de Brasília, valeu a pena ter doado o acervo de sua mãe ao Arquivo Público, o
que fará com que o seu legado seja eterno.
Por
Camila Coimbra - redacao@grupojbr.com – Fotos: Arquivo Pessoal – Jornal de
Brasília