A melhor maneira de se começar a as
investigações sobre as explosões de bombas em Brasília, uma perto da Câmara dos
Deputados e outra próxima ao STF, é comprovar que o responsável pelo crime é o
indivíduo que fez as bombas explodirem. Como dizia Freud, não se pode excluir a
possibilidade de que um charuto, muitas vezes, seja apenas isso – um charuto.
No caso de Brasília, as evidências
reunidas até o momento mostram que o mais provável é que as bombas tenham sido
obra de alguém com problemas severos de desequilíbrio mental, além de inepto
para fazer o que pretendia – mesmo porque a única vítima das explosões foi ele
mesmo.
As investigações devem deixar claro, ou
deveriam, que Francisco Luiz, o homem morto, resolveu explodir as bombas em
Brasília por conta própria – ou, então, provar materialmente que ele faz parte
de uma conspiração maior
Bombas detonadas nas proximidades da
Câmara dos Deputados e sobretudo do Supremo são delito de natureza gravíssima.
Seria pior, é claro, se o artefato tivesse explodido num supermercado cheio de
gente, por exemplo, ou na estação de metrô. Tendo acontecido, e sendo
impossível para a autoridade pública evitar que fatos assim aconteçam, a saída,
em primeiro lugar, é saber o que realmente aconteceu – elemento fundamental
para se organizar medidas de segurança capazes de reduzir a possibilidade de
acontecer outra vez.
No ambiente de neurose agravada que se
formou nos escalões mais altos dos Três Poderes, a reação imediata da Polícia
Federal, da esquerda em geral e da maior parte da imprensa foi levantar a
hipótese de que estaria havendo mais uma tentativa de agredir a democracia
brasileira com atos de violência armada – sendo que, desta vez, houve armas de
verdade, e não estilingues ou bolinhas de gude.
As investigações sobre as explosões em
Brasília devem deixar claro, ou deveriam, que Francisco Luiz, o homem morto,
resolveu explodir as bombas por conta própria – ou, então, provar materialmente
que ele faz parte de uma conspiração maior. O ruim é ficar massageando
suspeitas de mais um “golpe de Estado” – e sugerir que os culpados “podem ser”
os adversários políticos.
Luiz foi candidato a vereador pelo PL
na eleição municipal de 2020, numa cidade no interior de Santa Catarina; teve
98 votos. Bolsonaro, na ocasião, não estava no PL – embora o noticiário, até
agora, diga que hoje ele está no partido. Como de hábito, a polícia e
autoridades judiciárias dizem aos jornalistas que “não se exclui nenhuma
hipótese”, que estão trabalhando com “todos os cenários” e que as linhas de
investigação “estão abertas”. O sujeito oculto da frase é que o “8 de janeiro”
continua vivo, e o ministro Alexandre de Moraes tem de escalar sua repressão
aos acusados de “atos antidemocráticos”. Também já apareceram novos gritos de
guerra contra a anistia.
Como dar uma anistia aos presos pela
baderna do ano passado, se os terroristas continuam a toda, agora soltando
bombas? Não pode. À vista, a partir de agora, mais condenações a dezessete anos
para participantes de um quebra-quebra transformado em golpe.