Com relação ao Orçamento da União, que,
em termos simplificados, significa o quanto e onde são gastos o dinheiro dos
pagadores de impostos, o governo descuidou da contabilidade nacional, gastando
além das possibilidades reais e, com isso, acabou por acumular uma enorme e
impagável dívida pública. Somente sob o governo atual, a dívida bruta já
aumentou R$ 1 trilhão, alcançando 77,5% do PIB este ano e com previsão de
chegar a 80,1% em 2025. Isto é o que se chama Dívida Bruta do Governo Geral
(DBGG). Em fevereiro deste ano, a dívida atingiu R$ 8,3 trilhões. A
responsabilidade por esses números negativos é toda do governo atual que
persiste em sua aritmética ilógica de que “gastos, não são gastos, são
investimentos.”
Fosse o Brasil uma empresa privada, há
muito estaria na lista de entidade falida e às voltas com credores. É o que
resulta quando se mistura ideologia com finanças públicas. Todos os governos,
pelo mundo afora, que seguem a mesma cartilha, estão nessa situação ou pior.
Agora chegou a hora de correr contra os prejuízos, antes que eles engulam o
próprio governo, mostrando para a nação que o transatlântico Brasil está à
pique. O pior é que os mais de 200 milhões de passageiros que embarcaram nesse
colossal navio foram obrigados a pagar uma passagem caríssima, representada por
uma das maiores cargas tributárias do planeta, tudo isso com retornos em forma
de serviços públicos absolutamente imperceptíveis.
Aflito para cumprir as regras fiscais
ainda este ano, o governo fala agora em bloqueio ou corte no Orçamento, que nem
ele mesmo sabe o montante. Os números desencontrados, nessa contabilidade
criativa, variam de R$ 6 bilhões a R$ R$ 50 bilhões. Mesmo que opte por valores
máximos, as previsões são de que esses cortes serão insuficientes para zerar o
déficit primário. Temos aqui a velha lição que ensina que dinheiro não aguenta
desaforos. Diante de uma situação dessa natureza, o governo, mais uma vez, irá
escolher, na Esplanada dos Ministério, quais daqueles que respondem pelas mais
de 40 pastas, irão experimentar os efeitos da tesoura executiva. Logicamente
que esses ministérios serão sorteados de acordo também com as estratégias
políticas do próprio governo e não simplesmente por razões contábeis. O resumo
aqui mostra que o atual governo gasta muito por razões políticas e agora terá
que cortar muito pelas mesmas razões. Numa visão geral da situação, tudo o que
temos é a irresponsabilidade fiscal a ser, mais uma vez, empurrada para a
população. Uma visita aos supermercados pode esclarecer melhor os frutos dessa
política descompromissada com os recursos públicos. O pior é que os autores
diretos e indiretos desse enorme mal feito nada sentirão desses efeitos
negativos. Nos últimos doze meses, o déficit primário acumulado já era de R$
245,8 bilhões, equivalente a 2,12% do Produto Interno Bruto. Os parcos índices
de crescimento ou superávit decorrem, todos eles, da iniciativa privada,
principalmente no setor do agrobusiness.
Mesmo as estatais, protegidas por uma
espécie de cobertor ideológico, apresentaram um déficit de quase R$ 10 bilhões
até o momento, sendo o maior saldo negativo deste século, obtido em apenas dois
anos de gestão desastrosa e perdulária. Vale lembrar que essas empresas foram
entregues com superávit pelo governo passado. A questão aqui é que o atual
governo jogou, no lixo, as normas internas das estatais que proibiam que
políticos ocupassem cargos de relevância nessas empresas. Deu no que deu. O
ponto nevrálgico é que, ao que parece, os tributos nacionais já atingiram o que
chamam de curva de Laffer, que relaciona a alíquota dos impostos com a receita
pública. A partir de um determinado ponto, por mais que se aumente a alíquota
do imposto, menos receitas fiscais entram no cofre do governo.
Há sempre um limite ou resistência contra
a extorsão. Normalmente, essa situação se dá quando a carga tributária atinge
algo como 50% dos rendimentos da população. Existe aqui o que o próprio Laffer
definia como “elasticidade da receita tachável”. É a lei da sobrevivência,
presente em muitos lugares e em tempos distintos na história da humanidade.
Mesmo que o atual governo não reconheça, o Brasil caminha a passos largos para
o que os economistas chamam de dominância fiscal, que vem a ser uma situação
tal de desequilíbrio no qual a crise fiscal passa a dominar a política
econômica do país, fazendo com que todas as tentativas de solucionar o problema
acabem agravando a situação.
Num cenário como este, a presença ou a
atuação do governo é indiferente. O navio segue à deriva, rumo às rochas.
Parabéns a Circe Cunha e Manfil. Perfeita reportagem.👏👏👏👏👏
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