Recentemente, no G20, Lula repetiu para
o público estrangeiro que o Brasil tinha 33 milhões de pessoas famintas, e
acrescentou que os dados seriam da FAO. Em 2003, o então secretário de Estado
norte-americano, Colin Powell, mentiu na ONU, mostrando falsas provas de antrax
como evidência de que o Iraque teria armas químicas de destruição em massa.
Antes da sua eleição, Hugo Chávez afirmou que não ia nacionalizar as empresas
estrangeiras. O ex-presidente norte-americano Bill Clinton inicialmente negou
ter tido relações sexuais com a estagiária Monica Lewinski. Outro ex-presidente
dos Estados Unidos, Richard Nixon, mentiu sobre o Watergate.
Nos anos 1970, os Pentagon Papers
mostraram que o presidente e o Exército norte-americanos estavam mentindo ao
afirmar que os EUA estavam vencendo a Guerra do Vietnã. Por anos, os EUA também
negaram ter inserido sífilis intencionalmente na Guatemala, nos anos 1940. A
China continua negando que o vírus da Covid tenha saído de um laboratório.
Quando organizam Jogos Olímpicos e Copas
do Mundo, todos os governos do mundo dizem que os megaeventos irão aumentar o
PIB, o turismo e as exportações. Tudo mentira. As mentiras sobre o meio
ambiente são incontáveis: dizem que energia eólica é verde, que transgênicos
fazem mal, que o planeta está ficando menos verde, que o número de pessoas
mortas em catástrofes naturais está aumentando, e até que erupções e terremotos
estariam ligados às mudanças climáticas! É aquele velho ditado transformado em
estratégia por Goebbels: repetir uma mentira mil vezes, até que vire verdade.
“Um príncipe sábio não pode, pois, nem
deve manter-se fiel às suas promessas quando, extinta a causa que o levou a
fazê-las, o cumprimento delas lhe traz prejuízo.” (Nicolau Maquiavel)
Às vezes, mentiras são tiros que podem
sair pela culatra. Durante a Crise dos Mísseis de 1962, por exemplo, o ditador
russo Nikita Kruschev mentiu, mas, como resultado, os Estados Unidos escalaram
o confronto e a União Soviética teve de ceder.
O contexto importa. Mente-se mais nas
crises e nas guerras. “Deve ter havido mais mentiras de 1914 a 1918 do que em
qualquer outra época da história”, afirma Arthur Ponsonby. A área também conta:
John Mearsheamer, na obra Why leaders lie, mostra que se mente mais nas
relações internacionais, pois há muita assimetria informativa. A dúvida é se
políticos e líderes mentem mais para outros países, pois as mentiras contadas a
eles são mais toleradas; ou se mentem mais para o próprio povo, pois os outros
países tendem a desconfiar, enquanto a opinião pública doméstica pode ser
manipulada mais facilmente. Outros autores pensam que nas democracias se mente
mais que nas ditaduras, mas na verdade é que nas ditaduras as mentiras vêm
menos à tona.
Mentir humanum est, mas em política a
coisa toma outras dimensões. Basta olhar a proporção das mentiras expostas por
Edward Snowden, Julian Assange e os Panama Papers. Mas por que isso acontece?
Especialmente por duas razões: porque quem tem poder tem também o poder de
mentir; e porque alguns justificam as mentiras dos políticos para algum fim
superior.
Nicolau Maquiavel já dizia: “Um
príncipe sábio não pode, pois, nem deve manter-se fiel às suas promessas
quando, extinta a causa que o levou a fazê-las, o cumprimento delas lhe traz
prejuízo”. E ainda: “Mas é preciso mascarar bem essa índole astuciosa, e ser
grande dissimulador. Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma às
necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe
enganar”. James Mill (o pai de John Stuart Mill) alegava: “Em política,
espalhar desinformação não é uma quebra de moralidade, mas um ato meritório,
quando evita o desgoverno”. Segundo ele, a mentira na política é justificada
“quando as pessoas fazem um mau uso da verdade” e em circunstâncias especiais,
“nas quais um outro homem não tem direito à verdade”.
Essa é a típica visão utilitarista que
foca nas consequências, e não nos princípios. E tem um certo paternalismo
embutido. É o Estado (pai) que mente ao povo (filho) – o contrário nunca é
admitido, claro! Até o comediante Bill Murray notou: “se você mentir para o
Estado é crime, se eles mentirem para você é apenas política!”
Mente-se para se perpetuar no poder.
Mente quem pode, acredita quem quiser.