O ex-jogador Raí veio de Paris para
visitar uma invasão do MST. Raí se apresenta como uma espécie de resistência
democrática contra a extrema-direita. Pelo menos foi isso que ele disse num
daqueles comícios que fez em francês na eleição parlamentar do país este ano.
A noção de democracia do Raí está mais
ou menos no nível do francês que ele fala (quem viu seu comício pode atestar).
Claro que cada um fala do que quiser, na língua que quiser, com os erros que
quiser, e se mete no problema que bem entender. A suposta ou aparente, ou
pretensa, incursão política do ídolo do São Paulo nem é um assunto tão
relevante assim. A questão é o exemplo.
Nem todos notaram, mas esse negócio de
dizer combater “a direita” e coisas afins virou uma mina de ouro. O mundo de
fato chegou à apoteose do que algumas décadas atrás se chamava de “esquerda
festiva”. Basta enunciar uma cartilha tosca de humanismo de butique - como a
recitada por Raí em seu comício em Paris, onde até o slogan “touche pas à mon
pote” ele usou - que um mundo de oportunidades se abrem. A indústria da
demagogia é um sucesso estrondoso.
Se apresentar como um missionário da
democracia e abraçar o MST não cabem na mesma ideia.
O MST é um movimento violento, que
depreda laboratórios e plantações, bloqueia estradas e danifica pedágios,
alegadamente em defesa da justiça social
Personalidades como Raí e Chico Buarque
deveriam, ao levantar (literalmente) a bandeira do MST, esclarecer: nós somos a
favor de métodos violentos para fazer política.
Portanto, não nos confundam com
pacifistas. Nós somos a favor do atropelo da lei e do direito para fazer
política. Portanto, não nos confundam com legalistas. Não seria um jeito mais
honesto de ostentar a mística da “revolução”?
Será muito importante se Donald Trump
fizer um governo pragmático e politicamente moderado - sem deixar naturalmente
de agir contra as armadilhas do chamado “Deep State”, uma casta burocrática que
mina tudo o que for representação popular legítima.
O Brasil e o mundo estão exauridos
dessa suposta “polarização” que faz a festa dos oportunistas e acirra os ânimos
em torno de conflitos que muitas vezes são fantasiosos. Chega da estridência
demagógica dos “Macrons” e seus “Raís”.
Os bons projetos e a liderança
transparente sempre serão mais poderosos que os arreganhos sectários. A saída
política não está no triunfo cinematográfico de um gueto sobre outro gueto. Que
a nova liderança nos EUA pelo menos comece a nos livrar da dicotomia tribal.