Para um país que é
classificado, hoje, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), como a 10ª
economia do mundo, não faz sentido que ocupe, ao mesmo tempo, posições
antagônicas e medíocres quando os quesitos são o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), onde ocupa a 79ª posição, entre 184 países; o Gini, que mede a
distribuição de renda, onde possui um índice de 0,533, que o coloca na 84ª
posição; ou mesmo quando é avaliado no quesito educação, onde fica em 63ª
posição entre 81 países. A primeira constatação que salta aos olhos de todos,
aqui e além das fronteiras, é que o Brasil é um país materialmente rico, com um
Produto Interno Bruto (PIB) significativo, mas que é habitado, com poucas
exceções, por uma população majoritariamente pobre, com pouca ou nenhuma
cobertura de saúde, com baixa escolaridade e baixa renda per capita. Pior
ainda, com uma altíssima concentração de renda, que faz de nosso país um
campeão da desigualdade social e econômica de todo o mundo.
Uma situação tão surreal
como a nossa só pode ser compreendida na prática, quando se vai, por exemplo,
ao supermercado. Aí, nesse local, todas as mazelas do povo brasileiro estão
expostas nas gôndolas à vista de todos. Então, como entender as razões que
fazem com que, sendo o Brasil o atual celeiro do mundo, reconhecido como o
maior produtor de grãos do planeta, maior produtor também de carnes bovina,
suína e de aves de toda a Terra, pode oferecer, à clientela nacional, os
maiores e mais abusivos preços praticados no quesito de alimentos de primeira
necessidade?
A situação é tão esdrúxula
que, para manter um mínimo de movimentação no comércio de alimentos, é que existem
mercados e mercados. Um para os poucos que possuem renda para adquirir produtos
de primeira linha. Outro para atender à clientela sem poder aquisitivo, na qual
as gôndolas parecem apresentar produtos de terceira linha, quase uma xepa de
alimentos, produtos que não servem para o consumo da classe A, mas que o povão
compra como última opção e a preços também extorsivos.
Os políticos, que não
possuem contato direto com essa realidade e, portanto, não sofrem na pele seus
efeitos, não se interessam em buscar melhoras para esses fatos. Do mesmo modo,
os governos, que só se interessam em tributar a tudo e a todos, também se
mostram incapazes de equilibrar as riquezas materiais do país com as
necessidades humanas da população.
Por isso, entra governo,
sai governo, e os indicadores mostrando que a população teve melhoria naqueles
índices mostrados acima permanecem os mesmos ou pioram a cada ano. Há um
descompasso real que é, ao mesmo tempo, desumano e sem sentido. Como é possível
passar fome numa casa onde há abundância de alimentos? Para aqueles que nos
observam à distância, o Brasil, à mercê de suas conquistas na área econômica,
permanece sendo, por séculos, um país com uma população desassistida em todas
as áreas. Mesmo para a América do Sul, um continente reconhecido por seu
subdesenvolvimento crônico, o Brasil desponta no quarto lugar em Índice de
Desenvolvimento Humano, atrás de Chile, Argentina e Uruguai.
Há um claro descompasso
entre a riqueza produzida pela nação e a renda per capta. Fatos como esse só podem
ser entendidos quando se verifica que o Brasil é um dos países mais desiguais
do mundo. O que ocorre com nossa realidade mostra bem que o Brasil não é um
país pobre, como muitos que existem pelo mundo. O Brasil é um país injusto e
desigual. Nesse ponto é preciso entender que não existe combate efetivo à
pobreza, que vá até as raízes do problema, montado em ações do tipo puramente
ideológicas.
Não se debela a pobreza
com discursos e ações do tipo eleitoreiras, nem tampouco com medidas do tipo
populistas, mas, e tão somente, com planos de governo bem elaborados e
suprapartidários. Planos de longo prazo que sejam continuados por diferentes
presidentes. Por outro lado, e as tentativas anteriores provam isso, não se
pode falar em combate à pobreza, as desigualdades ao baixo IDH e outros
indicadores, sem uma reforma profunda e verdadeira do Estado, que parta do
princípio que, de todos os obstáculos a serem vencidos, nenhum é mais
importante que o combate a corrupção e má aplicação dos recursos públicos. E
não adianta nesse ponto querer inverter as verdades dos fatos históricos. O que
tem prejudicado o país é, justamente, corrupção e seus efeitos e não o combate
a ela.
Entre nós, o diagnóstico é
claro: para melhorar indicadores como o IDH, Gini, Pisa e outros, é preciso,
antes de tudo, acabar com a praga secular da corrupção de malversação dos
recursos da nação. Qualquer outro caminho passa longe desses problemas e nos
faz prisioneiros de índices medíocres e vexaminosos.