Dizem que o tempo não espera por ninguém. Nem por coisas, nem por
pessoas. Camões já dizia com muito propriedade: “mudam-se os tempos, mudam-se
as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de
mudanças.” O que se é hoje, já não se é amanhã. Em política, então, essa noção
de tempo é ainda mais veloz. A velocidade com que projetos políticos envelhecem
só tem paralelo com a rapidez com que as nuvens brancas dançam, varridas pelo
vento deslizando no céu azul.
O tempo também não espera pelo homem público, nem pela política. Não por
outra razão, é possível observar a rapidez com que figuras do nosso mundo
político deixam de interessar aos eleitores. Tudo tem seu tempo de existir e
brilhar e os políticos não escapam dessa ação desgastante e contínua do passar
dos dias, pois são obrigados a ficar em exposição permanente.
Essa ação transformadora ajuda a trazer, para o cenário nacional, novos
eleitores, mais ou menos engajados, mais ou menos interessados. Mesmo as
estruturas partidárias, engessadas pelas vantagens públicas, cheias de teias de
aranha e mofo, uma hora qualquer se veem diante da encruzilhada fatal: ou mudam
ou desaparecem no anonimato. Partidos que, em um passado recente, eram proclamados
como as maiores legendas políticas do continente, hoje, são só lembranças
desbotadas pelo tempo. Seus principais personagens ou estão esmagados pela ação
da idade, ou simplesmente deixaram esse mundo para trás.
Em nosso país, o perfil do eleitorado muda mais rápido do que os
edifícios partidários. A verdade cruel é que novos eleitores já não se
identificam com as velhas legendas, nem tampouco com os velhos caciques.
O elemento que poderia trazer mais dinâmica e sobrevida às legendas políticas
seria a reforma da própria política. Mas esse movimento necessário encontra
barreiras naqueles que ainda sobrevivem da velha política e de seus benefícios.
Ainda fazemos política como no início do século passado, na base da
negociação de vantagens. O toma lá dá cá, embora ainda funcione a todo o vapor
e em pleno século XXI, é um modelo antigo, que os novos tempos identificam como
fator de atraso e subdesenvolvimento. Personagens da nossa vida política, que,
nesse momento, estão em atuação, ajudando ou mesmo prejudicando o país, eles,
com toda a certeza, passarão. Ficarão, talvez, os bons exemplos a serem
aproveitados no futuro e as más ações também a servirem de lição e precaução em
não repetir erros. Mesmo a insistência com que alguns recorrem hoje às velhas práticas
na política, também essa deixará de existir. A mania em repetir velhos
projetos, na vã esperança de que, dessa vez, dará certo, também irá cessar,
deixando para trás uma vasta planície de escombros e lições.
A reforma política se tiver que vir, que venha o quanto antes, pois
também ela tem seus dias contados para envelhecer. Se servem de consolo, é
preciso lembrar Mateus (9:16,17): “ninguém coloca remendo novo em roupa velha,
nem vinho novo em odres velhos.” Mais uma vez, o ano novo começa a dar sinais
de que irá despontar no horizonte distante.
Em tempos assim, o desejo de mudança reascende a esperança de que um
novo modelo de fazer política parece se aproximar. Que venham logo esses bons
ventos de mudança, antes que envelheçam também.