Subir no palanque para fazer discursos políticos para uma campanha
eleitoral, um lugar onde cabem todos os tipos de promessas e acenos, é muito
diferente do que subir a rampa do Planalto para governar um país complexo como
o Brasil. No palanque, o Brasil que se vislumbra é visto do alto da rampa ou do
terceiro andar do Palácio do Planalto, o país que se descortina é outro
totalmente distante dos palavrórios.
Obviamente, diante da realidade que se apresenta ao eleito, sempre
existirão aqueles que preferem tomar atalhos mais fáceis e governar o país por
controle remoto, cooptando com benesses todas as forças políticas ao redor,
dentro de esquemas do século passado, chamado de presidencialismo de coalizão.
Nesse tipo de modelo de governança, todos lucram, menos a população, que
é chamada a pagar a conta desses desacertos escusos e longe da ética pública.
Segundo o Portal da Transparência, mantido pela Controladoria Geral da União,
até agora, foram 5.657 empenhos. Com R$ 37,50 bilhões empenhados e R$ 23,34
bilhões pagos. Outras vantagens vão embrulhadas em caixas de presente, com a
distribuição de cargos no governo, uma boquinha que faz a alegria de
parlamentares que não se avexam de trair o eleitor — concorrem a um cargo,
ganham votos e licenciam-se para ocupar função no Executivo.
Nesse tipo de jogada, é sabido que nenhum dos lados está correto, sob o
ponto de vista da correção e da ética. Não chega a ser surpresa que, diante de
um modelo dessa natureza, para cada passo que o país avançava em frente,
recuasse dois passos — ou seja, ficamos a patinar, sem ir a lugar algum.
Na vida real, o valor daquilo que é prometido aos eleitores em palanque
é sempre 10 vezes mais ou impossível de ser materializado. O dinheiro nunca é
suficiente para cobrir as despesas e os gastos que não param de crescer. A
percepção da população é de que o próprio governo não sabe o que fazer com os
recursos nem quanto gasta, deixando-se guiar não pelos números, mas apoiado no
que acredita ser seu infalível instinto político. Mas esse ainda não parece ser
nosso maior problema. Arrecada-se muito, o que faz do Brasil um país com as
maiores cargas tributárias do planeta. Mas gasta-se muito sem cerimônia,
fazendo de nossa máquina pública um enorme sorvedouro de recursos.
O Banco Central apontou que, pela primeira vez na história, a Dívida
Bruta do Governo Geral, que abrange as contas do governo federal, INSS e
governos estaduais e municipais, atingiu R$ 9 trilhões em outubro de 2024. O
número é equivalente a 78,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso equivale a
dizer que nem todo o PIB do país seria capaz de honrar essa dívida gigantesca.
Mas esse não é nosso maior problema. De fato, quando o governo acena com mais
impostos, o que está em pauta não é falta de recursos para tocar o país para
frente. Dinheiro existe em abundância. Como existe também em excesso má gestão
dos recursos públicos, acompanhada por grande número de casos de corrupção.
É do perverso binômio corrupção e má gestão de recursos que o país
padece, e esse é, sim, um dos nossos maiores problemas. Sem um enfrentamento
sério desses dois problemas, de nada adianta aumentar os impostos para
arrecadar mais. O pior é que não parece haver perspectiva de acabar com esse
flagelo. Para a questão dos gastos, tem o remédio que é dar maior eficiência às
contas públicas. Para o caso de corrupção, que corre paralelo com a questão dos
altos gastos, esse parece ser um problema sistêmico, que só seria resolvido com
reformas profundas no Estado. Reformas que os políticos não desejam e que fazem
tudo para que não aconteça.
Infelizmente, não existe uma união nacional em torno de propostas desse
tipo. Diferentemente dos pássaros, nossas lideranças não têm capacidade de
enxergar o país de cima, em sua totalidade. De longe e do alto, o Brasil é um
país magnífico. Visto de perto, por meio da visão de nossas elites dirigentes,
somos um país promissor apenas para essa elite.