Eu tenho muita saudade da imprensa de
verdade. O Brasil também, mesmo que não saiba disso. A semana terminou, com
jornalistas que esqueceram seu ofício dando provas cabais de que têm muita
culpa pela desgraça que se abate sobre o país. Comentários alucinados na
televisão, artigos e editoriais naqueles que já foram os principais jornais do
país mostram irrefutavelmente que os profissionais que deveriam buscar a
verdade, doa a quem doer, não se constrangem mais em tentar assassinar o mundo
real. Os disparates são empilhados numa estrutura esdrúxula, incapaz de
resistir a um sopro sequer dos fatos.
A assessoria de imprensa do governo
instalada em veículos mamadores de verbas da administração federal, dinheiro
dos pagadores de impostos, não se sente culpada por nada e se apressa para
inocentar Lula e sua gangue. Descalabro fiscal? Emergência econômica? Talvez
nada disso exista... Míriam Leitão, que desistiu do “veja como isso é bom”,
partiu agora para o “não está tão ruim assim”: “O país vive uma crise de credibilidade,
com erros de análise do mercado, alguns momentos de pura especulação e falhas
de comunicação do governo. Não é uma crise fiscal baseada em números”. Mesmo
que o jornal para o qual escreve aponte todos os dados e os verdadeiros
culpados pela situação econômica gravíssima, Míriam jura que está certa.
A assessoria de imprensa do governo
instalada em veículos mamadores de verbas da administração federal não se sente
culpada por nada e se apressa para inocentar Lula e sua gangue
Na GloboNews, Daniela Lima se sacode,
esperneia, expande ainda mais o gestual, dá gargalhadas nervosas. Ela faz uma
tabelinha desengonçada com poderosos como Paulo Pimenta. Ele é sua fonte não
confiável; ela é fonte igualmente não confiável do chefe da comunicação do
governo. Ela diz que a disparada do dólar é culpa exclusiva das “fake news”,
esse ser maldoso, que não pode ser conceituado, mas está sempre à espreita para
azedar as maravilhas que o Brasil do PT se atribui. Daniela afirma que “a
Polícia Federal está atrás dos adeptos das fake news que afetaram o
mercado”.
Paulo Pimenta cita a moça nas redes
sociais: “GRAVE: a indústria das fake news está trabalhando para a
alta do dólar. Segundo apuração da GloboNews, um perfil vinha divulgando no X
uma série de declarações falsas atribuídas a Gabriel Galípolo. Influenciadores
do setor financeiro repercutiram as mentiras, causando pânico no mercado e
fazendo o dólar disparar”. Pantaleão, personagem do saudoso Chico Anysio,
poderia perguntar: “É mentira, Terta?”. E teria como resposta: “Verdade”...
Jair Bolsonaro e seus filhos também podem atestar de pés juntos que Pimenta e
Daniela nunca mentem, enquanto fogem de agentes da Polícia Federal pilotando
motos aquáticas pela Baía de Angra... Num país em que “o dólar é lastreado em
memes”, deve ser mesmo assim.
A Folha de S.Paulo faz questão de
competir com a turma do Grupo Globo e deu espaço para o coordenador da Rede
Nacional de Combate à Desinformação, Marco Schneider. Ele escreveu o seguinte
artigo: “Risco de aumento da desordem informacional em 2025 é alarmante”. Seu
objetivo: defender “o jornalismo sério e plural, a alfabetização midiática e
informacional em larga escala, a regulação democrática das plataformas
digitais”. Que jeitinho doce de dizer que quer censurar, censurar, e censurar mais
um pouquinho... Não a Míriam Leitão, a Daniela Lima, a própria Folha, o Paulo
Pimenta. Esses, já deve estar claro, não mentem nunca.
A Folha trabalha para se
tornar insuperável e não desiste dessa historinha de que, para
“defender a democracia”, foi preciso partir para ilegalidades, arbítrios e
abusos. No editorial “O interminável e heterodoxo inquérito das fake
news”, o jornal aceita, mais uma vez, a prática de crimes como algo redentor
para o Brasil: “Investigação instaurada há quase seis anos é prorrogada por 180
dias, mas turbulência institucional sob Bolsonaro, que respaldava a
ação, não está mais presente; STF precisa voltar a atuar com autocontenção”. É
isso: “agora que derrotamos o bolsonarismo, podemos parar de rasgar,
interpretar livremente e criar leis”. Agora que atacamos a democracia para
“salvá-la”, chega de “heterodoxia”, adotemos a “autocontenção”. Na
guerra contra o que ninguém pode conceituar – “fake news”, “desinformação”,
“desordem informacional”, “discurso de ódio”, “turbulência institucional” –, os
malandros acham que venceram, e fingem que venceram de forma limpa.