A disparada do dólar no final do ano
foi a versão nova de uma notícia velha: a economia brasileira nas mãos do PT
não é confiável. O país só terá chance de superar o problema se parar de alegar
decepção.
Não há nada decepcionante na condução
da política macroeconômica pelo governo Lula. Tudo é coerência. Qual é e sempre
foi a diretriz petista no comando da máquina pública? Gastar e taxar. Fora
outros expedientes menos nobres que não cabe considerar aqui.
Nos anos de 2003 e 2004 o primeiro
governo Lula executou uma política de responsabilidade fiscal verdadeira. Ali
se consolidou o Plano Real na sua primeira década de existência. Depois essa
linha não mais se repetiu nas administrações petistas. O partido teve a chance
de se consolidar como uma força pragmática e madura no início de sua gestão no
Planalto, mas jogou tudo fora, preferindo a linha folclórica e fisiológica.
O PT soma mais de 15 anos de
experiência à frente do executivo federal e sua última gestão foi interrompida
por irregularidade contábil - a pedalada fiscal. A atual gestão não apresentou
nenhum sinal claro de que tenha aprendido a lição. Parece mais disposta a
mostrar que aprendeu a pedalar.
A busca por soluções contábeis
heterodoxas, que permitam alegar resultados orçamentários artificialmente
melhorados, está sugerida desde a invenção do “arcabouço” fiscal para eliminar
o teto de gastos.
O estouro da meta de inflação em 2024 é
mais um sintoma da política “expansionista” de gastos, para usar uma terminologia
do Banco Central. Mas o governo insiste na mistificação, com o presidente
declarando que ninguém tem mais responsabilidade fiscal do que ele. É claro que
a aposta num discurso diverso da realidade não é solução para nada, e só
aumentará a pressão - inclusive sobre o câmbio.
O que mais faz falta nessa hora são as
vozes da sociedade que poderiam (e deveriam) demarcar o que é fato e o que é
retórica na atual conjuntura econômica
Inclusive porque muitas dessas vozes -
estamos falando dos maiores economistas do país - afiançaram o voto no PT em
2022, levando o eleitorado a acreditar que um novo governo Lula seguiria
diretrizes aprovadas pelos autores do Plano Real.
Eles também acham que ninguém tem mais
responsabilidade fiscal do que Lula? Seria interessante para o país ouvi-los
nesse momento delicado.
O que temos até aqui é uma dobra da
aposta na mistificação, inclusive com mobilização do aparelho de estado para
investigar suposta disseminação de fake news como causa da disparada do dólar.
Não se pode confiar tanto assim na distração do público.
O melhor que pode acontecer ao país em
2025 é o ressurgimento das vozes da razão. Elas sabem (sempre souberam) o que
está acontecendo. Os brasileiros querem ouvi-los. Não em murmúrios inaudíveis
de decepção encenada. Mas em afirmações claras que salvem o país da condição de
refém de “fake news” imaginárias e pretextos de coerção cada vez mais exóticos.