Para os parlamentares de oposição ao PT
e a alguns ministros do STF não vale o artigo 53 da Constituição: “Os deputados
e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos”. Por isso, Daniel Silveira foi preso. Também não
vale para ele o indulto presidencial, prerrogativa reconhecida por todos os
ministros do Supremo, e por eles respeitada, dependendo do beneficiário...
É que, comparado a Sérgio Cabral – o
ex-governador corrupto confesso, que chegou a ser condenado a mais de 400 anos
de prisão –, Daniel Silveira é quase um monstro, um crápula, um criminoso
perigosíssimo. Contra ele inventaram um tal “flagrante perpétuo” e medidas
restritivas rígidas, que nem um atendimento de emergência num hospital
permitem. Sérgio Cabral pode “blogueirar” à vontade e não se apresentar à Vara
de Execuções Penais como deveria.
O Brasil do quem pode e quem não pode é
desesperador. Nele, quem está livre, leve e solto, além do Cabral? Uma turma
enorme: Renan Calheiros, Aécio Neves, José Dirceu, Lula, Geddel Vieira Lima,
Joesley e Wesley Batista, Marcelo Odebrecht... Nele, quem está preso, além do
Daniel? Uma multidão de manifestantes transformados em “golpistas”... Porque,
nesse Brasil, manifestação que acaba em quebra-quebra só quem pode fazer são os
amigos do PT.
Lula pode quase tudo... Pode fazer o
dólar disparar, pode levar a inflação para acima do teto da meta, multiplicar o
déficit fiscal, explodir a dívida pública
E quem pode apoiar ditadores mundo
afora e inventar uma “democracia relativa”? Lula, claro. Ele pode falar em
“extirpar selvagens”... E os que estão à sua volta podem gritar “vamos
incendiar o país!”, “vamos fuzilar!”, “é preciso derramar sangue”... Nessa
toada, o deputado Ivan Valente pode pedir que uma colega seja “retirada de
circulação”. Washington Quaquá pode dar tapa na cara de outro deputado em
plenário, Glauber Braga pode expulsar da Câmara um opositor a pontapés... E
Luís Roberto Barroso pode comemorar, porque “derrotou o bolsonarismo”.
No Brasil de uns anos para cá, quem se
esparrama sobre os outros poderes? O Judiciário, que pode criar leis,
interpretá-las livremente, ou ignorá-las. E podem os ministros falar fora dos
autos, e falar sobre qualquer assunto, em seminários, congressos, entrevistas,
em todo canto. Barroso pode se reunir com estudantes comunistas, Gilmar Mendes
pode acompanhar inauguração de obra, Cármen Lúcia pode participar de amigo
oculto de programa de televisão...
Podem alguns ministros do STF
interferir na política de segurança pública dos estados. O Executivo federal
também pode, mesmo que, para isso, apele para uma chantagem contra os
governadores. Nesse Brasil, criminosos podem (e devem) ser protegidos. E a
polícia pode (e deve) ser combatida. Chega de armas de fogo nas mãos dos
agentes de segurança, de algemas, de revistas... A criminalidade pode... e,
parece, vai vencer.
Lula e sua turma podem chamar quem
quiserem de genocida. No Brasil do não pode, que ninguém invente de dizer que
os yanomâmis estão morrendo como nunca, que os casos de dengue são recordes,
agora até no inverno... Todo mundo ligado ao PT e ao STF pode se fazer de
vítima, se dizer atacado o tempo todo e atacar sem parar.
Para proteger esse “pode, não pode”, a
perseguição política e a censura estão liberadas. Para dar ao esquema um
disfarce mequetrefe, pode-se gastar uma fortuna em propaganda nos veículos de
comunicação que se vendem de bom grado. Mais uns R$ 200 milhões para as redes
sociais do governo. Pode-se também liberar uma boa grana para influenciadores
“desinteressados” e mais um bocado de dinheiro para um gabinete paralelo da
primeira-dama... Porque “gabinete do ódio” não existe no PT. O que o partido
tem (e pode ter) são “comitês populares”, para implementar uma “luta
informacional”.
Bolsonaro defendeu a liberdade... Ele
achou que podia, mas o Brasil do condicional “pode, não pode” começou no
primeiro dia do mandato dele
No fim, Lula pode quase tudo... Pode
levar o Brasil à desgraça econômica, fazer o dólar disparar, tornando o real a
moeda que mais perdeu valor no mundo, pode levar a inflação para acima do teto
da meta, multiplicar o déficit fiscal, explodir a dívida pública, que passou de
R$ 7 trilhões. Lula pode fazer do Brasil o país que mais tributa cidadãos e
empresas da América Latina e endossar o Imposto sobre Valor Agregado mais alto
do mundo.
Jair Bolsonaro, ele achou que podia e
fez: reduziu impostos, o tamanho do Estado, o número de ministérios (e para
eles indicou técnicos), diminuiu a quantidade de servidores federais, os gastos
públicos... Achou que podia e fez: tornou as estatais lucrativas, deixou um
superávit fiscal de quase R$ 60 bilhões. Tudo isso com uma loucura chamada
covid no meio... Bolsonaro defendeu a liberdade... Ele achou que podia, mas o
Brasil do condicional “pode, não pode” começou no primeiro dia do mandato dele.
Ainda não acabou, mas deve e vai acabar.