Trump tem sim uma pegada protecionista,
nacionalista, e isso está claro em livros de sua autoria. O Buy America é um
slogan produzido por tal mentalidade. Do ponto de vista puramente econômico,
trata-se de uma visão equivocada, que encara exportações como algo positivo e
importações como algo negativo. Não é assim que funciona o comércio mundial.
Vários países ricos são importadores
líquidos, e tudo bem. Muitas vezes os produtos importados são intermediários
que alimentam a cadeia produtiva, mas mesmo que sejam produtos finais de
consumo, não há mal a priori nisso. Nem todo povo deve buscar ser
autossuficiente, produzindo tudo aquilo de que necessita. Quanto mais
indivíduos participando na cadeia global produtiva, melhor. Cada um foca em
suas vantagens comparativas e todos podem se beneficiar as trocas voluntárias.
Se Lula desafiar Trump, o Brasil afunda
de vez, e os americanos no máximo pagarão um pouco mais caro pelos produtos
siderúrgicos
Claro que, na prática, existem
subsídios, tarifas protecionistas, crédito estatal, medidas regulatórias,
manipulação da taxa de câmbio e várias outras ferramentas para tornar esse
livre comércio global tudo, menos livre e justo. E é aqui que pode entrar a ameaça
de tarifas protecionistas retaliatórias, para alavancar o poder de negociação
de acordos bilaterais.
Muitos liberais têm se curvado diante
da estratégia do “Laranjão das Tarifas”, compreendendo que Donald Trump, no
fundo, tem utilizado a ameaça protecionista para obter resultados políticos que
interessam aos americanos. Como, por exemplo, quando faz com que Canadá e
México se mexam para proteger melhor suas fronteiras com os Estados Unidos. Ou
quando impõe juízo a um colombiano comunista metido a besta.
É nesse contexto que deve ser analisada
a troca de farpas entre Brasil e Estados Unidos. Trump está impondo tarifas a
produtos como o aço, que o Brasil exporta. Lula, por sua vez, diz que vai
“reagir”, podendo levar o caso à Organização Mundial de Comércio ou “retaliar”
com tarifas a importados americanos. Seria cômico, não fosse trágico esse
discurso mentiroso. Ou o Brasil já não cobra taxas abusivas de produtos
americanos? Quanto custa mesmo um computador ou iPhone da Apple em terras
tupiniquins?
É justamente Trump quem está
“retaliando”, mostrando que não vai tolerar tantas barreiras protecionistas ou
“aventuras ideológicas” de quem quer “brincar” de projeto contra o dólar por
meio dos BRICS. Trump, o Laranjão das Tarifas, está retaliando essa postura, e
o Brasil já taxa, em média, muito mais os produtos americanos do que o
contrário. Quem pagar para ver e dobrar a aposta vai criar uma guerra comercial
onde certamente os americanos têm muito a perder, mas aqueles que dependem dos
consumidores americanos, os mais ricos do planeta, têm muito mais em jogo.
FAFO: f*ck around and find out. Em
tradução livre: fique de gracinha e encare as consequências. Se Lula desafiar
Trump, o Brasil afunda de vez, e os americanos no máximo pagarão um pouco mais
caro pelos produtos siderúrgicos.