Quando eu era jovem, o jornalista David
Nasser, talvez o mais famoso do país naquela época – fim dos anos 40, anos 50,
e início dos anos 60 –, escrevia para os Diários Associados e para a revista O
Cruzeiro, que era a principal do Brasil. Ele publicou um livro chamado Falta
alguém em Nuremberg. Era referência ao julgamento dos nazistas; à exceção de
dois, todos os demais foram enforcados. E quem estava faltando em Nuremberg?
Era o chefe da polícia do ditador Getúlio Vargas. No livro, Nasser denunciou
torturas que se igualavam àquelas dos campos de concentração, citou várias
mortes, e a existência de prisioneiros políticos no tempo da ditadura Vargas.
Acompanhando o julgamento de terça e
quarta-feira, que tornou Bolsonaro réu, eu me pergunto algo parecido: não está
faltando alguém? As imagens mostravam o general Gonçalves Dias, ministro-chefe
do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, circulando
entre os primeiros invasores, oferecendo-lhes água, mostrando-lhes os caminhos
para outros andares, as portas, sempre muito solícito... e ele não aparece no
inquérito, não aparece em nada. Que milagre é esse? Uma pessoa que no mínimo
foi testemunha ocular da invasão, ao que me consta, nem sequer testemunhou para
incriminar ninguém. Ele não viu tudo acontecendo lá dentro?
Um manifestante quebrou o relógio, isso
todo mundo sabe. Mas quem furou uma tela de Portinari? Quem estragou obras de
arte? Quem quebrou vidros, inclusive um vidro blindado, que não é rompido nem
por tiro de fuzil? Estavam ou não estavam com pé de cabra, instrumentos
pesados? Muitas perguntas, mas o general Gonçalves Dias está fora dessa. E isso
de oferecer água nem é novidade, porque, quando houve uma greve de policiais,
não lembro agora se foi no Espírito Santo ou na Bahia, ele confraternizou com
os grevistas. É muito estranho isso.
Outra pessoa que deveria estar no
inquérito, e não julgando a denúncia, é o ex-ministro da Justiça Flávio Dino,
que era responsável pela Guarda Nacional e estava ali do lado presenciando
tudo, sendo testemunha visual dos fatos. Ele inclusive está envolvido na
polêmica do sumiço de imagens das câmeras do Ministério da Justiça, mostrando o
movimento naquele 8 de janeiro. Então, está faltando alguém no processo.
Críticos dos processos no STF estão
cobertos de razão: E não resta dúvida de que o ministro Luiz Fux, a OAB do
Rio de Janeiro e o Partido da Causa Operária têm razão nesse processo.
Criticaram essa maneira de julgar que não individualiza, que se tornou um
julgamento em massa. Imaginem a cabelereira Débora: a única coisa que se sabe
dela é que escreveu com batom na estátua da deusa da justiça, mas ela está
sendo enquadrada por associação criminosa armada, abolição violenta do Estado
de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e grave ameaça com
prejuízo, e deterioração do patrimônio tombado. Ela não deteriorou nada;
lavaram o batom dela em minutos, a estátua da Têmis está lá incólume. Foi um
absurdo. A OAB do Rio, o PCO e Fux querem saber por que as pessoas não estão
sendo julgadas individualmente, como manda o devido processo legal, e estão
sendo julgadas em massa, atribuindo crimes genéricos a todos. Nem Franz Kafka,
no seu O Processo, seria capaz de imaginar uma coisa dessas.
Embraer anuncia mais encomendas, e é um
exemplo de sucesso nacional : O presidente Lula está no Japão, e aproveitaram
para anunciar mais uma venda grande da Embraer, do jato E190. Eu viajei com ele
de Brasília a Belo Horizonte faz poucos dias; é um excelente avião, voei com
ele de São Petersburgo a Varsóvia, e por aqui a Azul usa muito esses aviões.
Eles venderam 20 unidades, dá quase R$ 10 bilhões. A carteira da Embraer já
está em mais de US$ 26 bilhões, um sucesso. Ela virou uma das grandes
fabricantes de aviões do mundo – em todos os setores: aviões militares,
particulares e comerciais.
Não é só a oposição que quer saber o
que Janja anda fazendo: A primeira-dama Janja foi ao Japão antes do presidente,
e ficou lá por uma semana; nesta quarta-feira, ela deve estar em Paris, a
convite de Emmanuel Macron. Disse que vai discursar em um evento chamado
Nutrição para o Crescimento. A oposição quer saber quais são as atividades de
Janja, e o PT está querendo saber o tamanho da influência de Janja sobre o
presidente da República. Atribui-se a ela uma espécie de bloqueio dos velhos
amigos e de alianças políticas para não incomodar o marido.