O ministro Alexandre de Moares é um
problema para os brasileiros que acreditam no direito de expressarem livremente
os seus pensamentos. Está na Constituição Federal, mas e daí? A Constituição,
no Brasil de hoje, vale menos que uma caixinha de chicletes vazia. Moraes, seus
colegas de STF e qualquer juizinho auxiliar a serviço deles são em termos
práticos a única lei que existe no país. Não importa, minimamente, o que está
escrito nos códigos, na Carta Magna e no resto da legislação: é legal ou
ilegal, unicamente, aquilo que eles querem que seja legal ou ilegal
O problema de Moraes, a quem o STF
decidiu se submeter em tudo, ainda pode acabar custando muito caro para o
Brasil e os brasileiros. Mas a novidade, agora, é que o ministro está começando
a custar também para o governo Lula, que achou uma grande ideia se atirar a um
abraço de vida ou morte com ele. Moraes, em parceria com o resto do STF,
colocou Lula na presidência, garante a sua impunidade permanente em relação ao
Código Penal e faz tudo o que o governo quer. Em compensação, o governo, sua
Polícia Federal e seus generais “legalistas” estão fechados com Moraes –
fechados para tudo. É um pacto de amor. Mas é um amor que começa a custar caro
para um dos amantes.
“Lula se considera obrigado a ficar ao
lado de Moraes – e a encarar as consequências práticas dos problemas que o
ministro começa a acumular na Justiça americana e junto ao governo dos Estados
Unidos. É uma mistura grossa e ruim”
É simples: Lula foi sendo levado, cada
fez mais, a aprovar tudo o que o ministro faz e ficar automaticamente a favor
dele em qualquer entrevero. Obrigou-se a dar-lhe todo seu apoio, de forma
incondicional, sobretudo nos momentos que Moraes pisa mais feio na jaca. Está
condenado, agora, a submeter seu governo e seu futuro às necessidades, desejos
e interesses do ministro. A dificuldade de Lula é que Moraes está pisando cada
vez mais na jaca, e em jaca cada vez maior. O presidente fica naquela situação
em que uma hora é ele quem está por baixo, e em seguida é o outro que está por
cima. Amarrou seu burro no ministro. Agora só consegue ir atrás dele.
Lula e o seu governo, assim, se veem
neste momento na obrigação de dar força a Moraes numa briga que não escolheram
e que, certamente, não vai lhes trazer lucro líquido nenhum. O ministro, tempos
atrás, se lançou a uma guerra de extermínio contra Elon Musk, suas empresas e
seu patrimônio – sem ter, em nenhum momento, a razão a seu lado. Ao contrário:
ele brigou porque decidiu ser o Inimigo Número 1 da liberdade de expressão,
declarar-se marechal-de-campo na “luta” contra a direita mundial e eliminar a
ordem jurídica no Brasil. Está agora na cola da “classe média, hétero, branca e
com mais de 45 anos” – que declarou como sua mais recente inimiga.
Musk, hoje, está dentro da alma do
governo dos Estados Unidos; Janja já tinha dito “fuck you” para ele, e o marido
já tinha dito que a vitória de Donald Trump seria a volta do fascismo e do
nazismo no mundo. O que era muito ruim agora ficou pior, pois além do seu ódio
aberto a Musk e ao X Moraes se vê processado penalmente nos Estados Unidos por
uma empresa de Trump, sob a acusação de censurar uma rede social americana.
Mais: a Comissão de Justiça da Câmara de Deputados em Washington aprovou o
envio ao plenário de um projeto de lei que proíbe Moraes de entrar nos Estados
Unidos, junto com qualquer culpado de violar a liberdade de expressão. Enfim:
se tiver bens nos Estados, eles poderão ser alvo de confisco legal, pelo
disposto em outra lei que já existe.
Em tudo isso, Lula se considera
obrigado a ficar ao lado de Moraes – e a encarar as consequências práticas dos
problemas que o ministro começa a acumular na Justiça americana e junto ao
governo dos Estados Unidos. É uma mistura grossa e ruim. Moraes e o STF, de seu
lado, estão em festa com a perspectiva de dar uma pancada nos Estados Unidos,
em Trump e no sistema capitalista em geral – que consideram extremistas de
direita, neonazistas e daí para baixo. É o combate do Supremo para
“recivilizar” a humanidade. Qual o risco que correm? Nenhum: vão ser
ovacionados na mídia e nos auditórios em circuito fechado da esquerda nacional.
Para Lula e seu governo, entretanto, o buraco é mais embaixo. Brigar com os
Estados Unidos nunca foi uma boa ideia. Brigar com os Estados Unidos para
agradar Alexandre de Moraes parece ser uma ideia pior ainda.