Ninguém pode se surpreender com a
nomeação de Gleisi Hoffmann para o Ministério das Relações Institucionais do
governo Lula. É a legítima crônica de uma tragédia anunciada. Um mês atrás,
questionado sobre a possibilidade de Gleisi ingressar no governo, Lula não desmentiu.
Poderia ter encerrado a especulação contemporizando, mas, ao contrário,
preferiu elogiá-la dizendo que ela tinha “competência para ser ministra em
qualquer país do mundo”. Ao não interromper a especulação, estimulou-a. Dito e
feito. Glesi ocupará o primeiro escalão com a missão de azeitar a relação entre
Executivo e Congresso.
Quando o movimento “chama a
Gleisi!" ganhou força política a ponto de se tornar notícia na imprensa,
alertei na Gazeta do Povo que ela não era “levada a sério por ninguém em
Brasília” e que isso seria o equivalente a um “mergulho insano no lulopetismo
profundo”. E cá estamos nós, com sua nomeação confirmada.
Gleisi é, como escrevi anteriormente,
“uma fanática com todas as ideias erradas na cabeça”. Além da supina ignorância
econômica, ela também é caudatária política da ditadura venezuelana. Foi sob
sua presidência que o PT endossou a fraude eleitoral promovida por Nicolás
Maduro numa nota asquerosa em que “saúda o povo venezuelano pelo processo
eleitoral ocorrido no domingo, dia 28 de julho de 2024, em uma jornada
pacífica, democrática e soberana”.
Ao invés de ampliar o leque de sua
aliança com os partidos de centro que compõe a base do governo, Lula acenou
para a ponta esquerda de seu partido e premiou Gleisi, uma figura política que
passou dois anos fazendo fogo amigo contra membros do próprio governo. A decisão
de Lula é uma desmoralização adicional para Fernando Haddad, que foi o
principal alvo de Glesi.
A escolha da nova responsável pela
articulação política sinaliza que, como escrevi em janeiro, “o governo pretende
se fechar ainda mais”. Talvez também movido pelo desespero da falta de
alternativa. É inequívoco que Lula perdeu o tempo correto para fazer a reforma
ministerial. Protelou até o limite, quando se viu enfraquecido pela crise de
popularidade. Afinal, a não ser um fanático, quem mais embarcaria num governo
perdido e com rejeição crescente?