Dados fornecidos pelo Núcleo da Violência da Universidade de São Paulo
(USP), em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, indicam que, a
cada duas horas, aproximadamente, uma mulher é morta de forma violenta em nosso
país. No mapa mundial, esse número passa para uma mulher morta a cada 10
minutos, segundo a UNWoman. O grau de violência que tem, nas mulheres, de todas
as idades e das mais variadas camadas sociais, seu principal alvo, demonstra,
de forma cabal, que existe em nossa população uma patologia e uma anomalia de
tal proporção que não seria exagerado considerar que a sociedade brasileira
parece rumar para sua própria desintegração.
Observem que esse é um dado verídico que apresenta apenas aqueles casos
que culminaram com a morte, de forma absolutamente criminosa, dessas mulheres.
Se formos levar em conta também as denúncias feitas formalmente por mulheres
que foram vítimas de violência doméstica, de ameaças e de assédios sexuais, de
estupros e mesmo assédios morais praticados nos locais de trabalho, os
registros não deixariam dúvidas de que ser mulher nesse país é uma missão que
envolve altíssimos riscos.
O que mais chama a atenção nesses dados é que esse tipo de crime vem
aumentando a uma taxa de quase 10% ao ano, isso, de acordo apenas com as
estatísticas oficiais. Ocorre que esse tipo de violência, quando praticada por
pessoa da família, não chega, sequer, a ser denunciada às autoridades. Daí que
muitos acreditam que os dados reais, relativos às práticas de violência contra
as brasileiras, são estarrecedores. De tão recorrentes e bárbaros, foi preciso
o estabelecimento de um novo tipo de crime, no caso, o feminicídio, como forma
de conter essa escalada de violência.
Infelizmente, a criação de delegacias especiais para o atendimento de
mulheres e mesmo o advento de Leis como a Maria da Penha e a inclusão do
feminicídio como crime hediondo, com endurecimento severo nas penas, não
tiveram o condão de abrandar os registros de violência praticada contra as
mulheres no Brasil.
Além da violência física e moral, as mulheres são vítimas também de uma
outra forma de crime, aceita por muitos como fatos de menor importância, mas
que demonstram um certo comportamento misógino enraizado em nossa cultura a
séculos. As discriminações no ambiente de trabalho, com as diferenças salarias
entre homens e mulheres e as oportunidades diferentes de crescimento dentro da
profissão, evidenciam essas injustiças, mesmo em pleno século XXI.
Um outro caso de flagrante discriminação contra as mulheres ocorre
durante todas as eleições. Para burlar a lei eleitoral que obriga uma cota
mínima de 30% de mulheres na lista de candidatos ao Legislativo, muitos
partidos passaram a adotar a estratégia de candidaturas do tipo laranja, na
qual mulheres são inscritas, não realizam campanhas e devolvem o dinheiro do
fundo eleitoral e partidário diretamente para os caciques desses partidos, que
dão a destinação que bem querem a esses recursos públicos. Com isso, a
representação feminina no Congresso e nas Assembleias Legislativas permanecem
desiguais, em torno de 30%, isso para um país onde, em cada dez habitantes, 5
são do sexo feminino.
Esse fato não é apenas um desrespeito e um crime praticado contra as
mulheres, mas um grave delito contra a própria democracia representativa e o
futuro do país.