É uma nova e triste era. Os acusadores
agora estão liberados do ônus da prova. Suas mentiras podem ser mal encaixadas
em narrativas esdrúxulas, para transformar alvos previamente escolhidos em
criminosos. As defesas, apegadas aos fatos, despejam provas de verdade,
concretas, irrefutáveis, e mais provas, e mais provas... Mesmo assim, as
condenações vão sendo impostas. A realidade é picotada, estraçalhada, numa
série sem fim de abusos, arbítrios e ilegalidades. Chegaram ao cúmulo de
inventar as testemunhas que não testemunharam nada, que nada viram e nada
ouviram.
O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista
Júnior, que comandou a Aeronáutica na gestão de Jair Bolsonaro, é uma dessas
figuras. Na última quarta-feira, ele depôs por cerca de uma hora e meia à
Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal no processo sobre a tal “tentativa
de golpe de Estado”. O processo todo é uma baboseira. Se Jair Bolsonaro estudou
dispositivos constitucionais para evitar que um condenado em três instâncias
por corrupção e lavagem de dinheiro voltasse à Presidência da República, Dilma
Rousseff fez o mesmo em 2016, quando estava com a corda do impeachment no
pescoço. E ela nunca foi acusada de ser golpista.
E tudo o que houve de quebra-quebra na
Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 2006, 2013, 2014, 2016 e 2017, não teve
nada a ver com golpe de Estado? Congresso invadido, depredado... O Palácio do
Itamaraty, a sede do Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto
atacados... Tentativa de incendiar prédios de pelo menos quatro ministérios...
Carros e ônibus destruídos pelo fogo... Dezenas de policiais feridos... Mas era
a turma do amor, a turma do Lula, dos partidos comunistas e socialistas, das
centrais sindicais, do MST. Não havia golpistas, nem terroristas, nem selvagens
que merecessem ser extirpados. Muito pelo contrário, foram todos protegidos,
como se democratas e respeitadores das leis fossem.
Voltando ao brigadeiro Baptista Júnior,
ele confirmou esta semana que houve uma reunião dos comandantes das Forças
Armadas com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, depois do segundo turno das
eleições de 2022. E o que foi discutido? O uso de “algum instituto previsto na
Constituição" para impedir a posse de Lula. Esses meios seriam uma
Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou a implementação de um Estado de
Defesa ou de Sítio. Ou seja, seria um “golpe” com base na Constituição...
Baptista disse que testemunhou o planejamento de uma “ruptura institucional”,
que ele preferiu não denunciar.
O ex-comandante da Aeronáutica, uma
“testemunha de cativeiro”, como definiu o advogado Jeffrey Chiquini, não soube
dizer se o ex-ministro da Justiça Anderson Torres participou da tal “reunião do
golpe”, mas afirmou que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, não
estava no encontro. E, destruindo-se como testemunha, ele disse que não chegou
a ver a tal “minuta do golpe” porque se retirou da reunião. O brigadeiro contou
que decidiu ir embora porque “não compactuava com nada daquilo”, mesmo sem
saber exatamente o que era “aquilo”, já que não leu o documento que foi
apresentado...
A nova velha imprensa também está cheia
de gente como o brigadeiro, gente que não sabe de nada, mas sabe de tudo. Em
debate com Eliane Cantanhêde na GloboNews sobre as sanções do governo americano
contra Alexandre de Moraes, Guga Chacra disse, de certa forma, que compreendia
a reação dos Estados Unidos contra a tirania do ministro do Supremo. Falando
especificamente sobre dois perseguidos por Moraes – os jornalistas Rodrigo
Constantino e Paulo Figueiredo –, Guga afirmou que acompanha as redes sociais
deles e que nunca os viu fazer ameaças ou mentir: “Se alguém comete crime de
calúnia e difamação, você pode processar a pessoa, mas calar é algo muito
forte. Eu fico muito preocupado que as pessoas não possam exercer a liberdade de
expressão”.
Eliane Cantanhêde, que já afirmou que
“criticar o governo é crime”, mais uma “testemunha ocular” que nada vê e nada
ouve, acusou Constantino e Figueiredo de mentir e ameaçar ministros do Supremo
e seus parentes, defendendo a perseguição e a censura que eles sofrem.
Cantanhêde não teve vergonha de dizer que não acompanha o trabalho dos
jornalistas, que não acessa os conteúdos produzidos pelos dois, que “não teria
paciência para isso”, mas declarou que eles fazem, sim, ataques, mentem e “instigam
a sociedade contra as instituições, as autoridades, as eleições e a
Constituição”. Talvez ela seja uma reencarnação da Mãe Dinah... Se a jornalista
não quer saber do que eles escrevem e dizem, em que se baseia para acusá-los?
No bando de testemunhas com vendas nos
olhos e tampões nos ouvidos da GloboNews também está Marcelo Lins. “Comentando”
o encontro, no Salão Oval da Casa Branca, entre o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o
jornalista disse o seguinte: “Não tem nenhum órgão de imprensa independente,
sério, da África do Sul ou de fora, que fale que esteja havendo perseguição
sistemática, muito menos genocídio contra a minoria branca da África do Sul.
Isso é uma mentira criada por grupos contrários ao governo. Isso beira o
inacreditável... Esse é um tema fake, que não aguenta uma checagem bem feita”.
O vídeo exibido por Trump ao presidente
sul-africano prova o contrário. Nele, o político Julius Malema, que já foi do
partido que governa a África do Sul, grita “mate o bôer”, que é o descendente
dos colonizadores holandeses, dinamarqueses, alemães e franceses. O Tribunal
Constitucional do país, há cerca de dois meses, liberou o slogan, afirmando que
aquelas palavras não devem ser interpretadas literalmente. Ou seja, segundo o
STF sul-africano, “mate o bôer” não quer dizer “mate o bôer”... O próprio
presidente Ramaphosa já fez discurso zombando dos brancos que deixam o país com
medo de serem atacados e mortos. Ele disse: “Brancos covardes, fiquem e aceitem
as coisas como homens”.
Para piorar, Cyril Ramaphosa incluiu na
comitiva dele, na visita aos Estados Unidos, cinco jogadores de golfe
sul-africanos brancos. Um deles, Retief Goosen, disse a Trump que os
fazendeiros brancos vivem protegidos por cercas elétricas e que, mesmo assim,
amigos do pai dele, que também tem uma fazenda, já foram mortos. Goosen afirmou
que a perseguição aos produtores do campo é constante e que muitas áreas rurais
são atacadas, queimadas e que máquinas agrícolas são roubadas.
Marcelo Lins não quer saber de nada
disso, e ele ainda acha que o governo da África do Sul pode defender os
terroristas do Hamas e acusar Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza... É
mais uma “testemunha ocular” que confia apenas nos jornalistas enviesados como
ele, nos organismos internacionais globalistas, em terroristas e, claro, no
Lula, no Alexandre de Moraes, em toda a turma xexelenta do STF. E ficamos
assim, revoltados com os donos da “verdade” construída mal e porcamente. Eles
tomaram conta de tudo, mas é da revolta justamente que vem a força maior para
reagir contra isso.