“Vamos combinar que eu tenho bom senso.
Vamos combinar que eu sou uma pessoa... Me considero uma pessoa inteligente.
Então eu sei muito bem até onde os limites que eu posso ir”, disse Janja da
Silva em uma entrevista para a Folha de São Paulo. Em 2024, durante um evento
vinculado ao G20, a primeira-dama disparou ofensas aos berros contra o empresário
Elon Musk, então já integrante do governo Donald Trump. “Eu não tenho medo de
você. Inclusive, fuck you, Elon Musk”, disse essa musa da sensatez que parece
ter a pretensão de ser a formuladora acadêmica do governo. Não passa de uma
criadora de problemas, tão limitada quanto pretensiosa.
Acompanhar a íntegra de sua entrevista
para a Folha só tem serventia se encarada como análise do fenômeno da
pseudo-intelectualidade no Brasil. Com o agravante de que aqui o exame seja
sobre a esposa do presidente da República e o efeito disso em funções que ela
se autoatribuiu. Não ocupa, afinal, cargo eletivo ou de confiança, caso de
Lula. A nomenclatura de Janja não é oficial, é meramente litúrgica. Ela só
viaja com o presidente por ser sua esposa. O lugar na cama do casal não lhe dá
“lugar de fala” nos assuntos do país. E o inverso valeria de igual forma se a
Presidência fosse ocupada por mulher casada com homem.
"Janja deseja recorrer ao exemplo de uma
ditadura para combater algo que ela considera ruim no Brasil. Na sua cabeça
isso se torna moralmente justificável. E como ela fala sem freios e não
reconhece protocolos, faz tal posicionamento ser também o do governo do marido"
Sem qualquer cerimônia, e sempre muito
certa sobre si mesma, Janja discorre sobre qualquer tema sempre com um cardápio
de conjecturas pedestres, de pensamentos ginasianos, de raciocínios
absolutamente rasos. O alvo de sua obsessão são as redes sociais. E aqui ela
também não foge à regra de meter os pés pelas mãos, com direito a gafe e
descompostura internacional.
Ao lado de Lula, num encontro reservado
com o ditador Xi Jinping na China, ela tomou a palavra para fazer perguntas
sobre o TikToK, rede social chinesa controlada pela empresa ByteDance. Segundo
o que chegou à imprensa, Janja teria causado constrangimento por violar o
protocolo da ocasião. O teor da conversa foi vazado, deixando Lula irritado o
suficiente para tenta administrar o assunto de público e ficar com a
responsabilidade pelo episódio protagonizado pela esposa. Ela mesmo,
entretanto, mantém a história aquecida e desmente o marido.
“Não foi quebra de protocolo nenhum.
Nós estávamos em um jantar conversando. Não entrei em uma sala gritando”, disse
Janja para a Folha. Na mesma oportunidade, a primeira-dama também aproveitou
para discorrer sobre a facilidade com que a China controla as redes sociais.
"O presidente Xi disse que eles também têm problemas internos na China...
Não pode ter rede social, há toda uma regulamentação. Ele disse: se não seguir
a regra, tem efeito. Tem prisão, sabe? E por que é tão difícil a gente falar
disso aqui?”. Talvez porque aqui seja uma democracia, senhora.
Janja deseja recorrer ao exemplo de uma
ditadura para combater algo que ela considera ruim no Brasil. Na sua cabeça
isso se torna moralmente justificável. E como ela fala sem freios e não
reconhece protocolos, faz tal posicionamento ser também o do governo do marido.
De tal forma que o próprio Lula já admitiu que um representante de Xi Jinping
poderia vir ao Brasil servir de consultor para o tema. Na Folha, Janja
enfatizou que não é biscuit de porcelana. É verdade. Antes fosse. Ela é, isso
sim, uma pitonisa do autoritarismo chinês.