Já ouviu falar da dieta do ovo? No
final do ano passado, a influenciadora e empresária Virginia Fonseca atribuiu
sua invejável forma física pós-parto a esse regime radical, baseado no consumo
diário de 20 ovos de galinha.
A estratégia de emagrecimento viralizou
e estimulou debates entre médicos e nutricionistas. Até que, dois meses depois,
Virginia voltou ao tema fitness com outra novidade: o lançamento de sua própria
marca de whey protein — suplemento em pó vendido pela influencer como uma
alternativa prática para quem quer ter um corpão igual ao dela, mas não
consegue preparar e comer tantos ovos todos os dias.
Personalidade feminina mais famosa (e
rica) da internet brasileira atual, a empresária não dá um passo sem que haja
uma intenção comercial por trás. E, mesmo quando não há, ela encontra um jeito
de capitalizar em cima dos acontecimentos de sua vida, exposta nos moldes de um
reality show.
Como na última semana, quando
aproveitou uma convocação a depor na CPI das Bets, no Senado Federal, para
tentar entrar de vez no imaginário nacional (e, claro, divulgar alguns
produtos). Afinal, apesar de contar com mais de 50 milhões de seguidores nas
redes sociais e apresentar um programa na tevê aberta, a jovem de 26 anos ainda
não tem a popularidade massiva das grandes celebridades de outros tempos.
O que é natural nesta realidade de
comunicação fragmentada e bolhas que não dialogam entre si. Ninguém, portanto,
deve se sentir “por fora” porque leu a enxurrada de notícias sobre a sessão no
Congresso da última terça-feira (13) e se perguntou: “Quem é Virginia?”.
“Me mimei” Virginia Fonseca, mais
conhecida apenas como Virginia, chegou ao Senado com a atitude de quem está
indo buscar as crianças na escola. Despojada, usava os cabelos soltos, pouca
maquiagem, óculos leves e moletom largo (estampado com a foto de uma das
filhas).
Nem parecia a popstar digital criticada
por ostentar um estilo de vida luxuoso, desconectado do contexto
subdesenvolvido do país. Inclusive é dela o bordão “me mimei”, que virou meme
em 2024 após a influenciadora revelar a compra de uma minibolsa da grife
francesa Hermès avaliada em mais de R$ 150 mil.
“Me mimei, estava ansiosa para chegar e
finalmente chegou!”, disse, na ocasião, mostrando o presente caro que deu para
si mesma.
Dias depois, Virginia também
mimou as filhas com bolsinhas, porém foi mais modesta dessa vez: Maria
Alice (de três anos) e Maria Flor (de dois) ganharam acessórios da marca
Louis Vuitton de R$ 5 mil cada.
A empresária ainda tem um filho, José
Leonardo, nascido em dezembro. Os três, superexpostos pela mãe antes mesmo do
nascimento, são frutos de seu relacionamento com o cantor Zé Felipe, um dos
herdeiros do astro sertanejo Leonardo.
“Se faz tão mal, proíbe” Virginia
foi chamada pela CPI por ser considerada uma peça-chave na compreensão do
marketing das casas de apostas online que usam influencers para atrair o
público. Segundo a comissão, ela “desempenha um papel central na promoção de
marcas e serviços, incluindo campanhas publicitárias relacionadas a jogos de
azar”.
O objetivo dos parlamentares é apurar se
os famosos da web incentivam apostas irresponsáveis (principalmente entre
menores de idade) e possuem vínculos com organizações criminosas ou esquemas de
lavagem de dinheiro.
Virginia, no entanto, comportou-se como
se desconhecesse a gravidade do assunto. Autorizada pelo ministro do STF Gilmar
Mendes a se manter em silêncio diante de perguntas que pudessem incriminá-la,
deu respostas evasivas e encerrou seu depoimento com a promessa de “pensar”
sobre a possibilidade de parar de divulgar as bets.
A sessão só contou com dois momentos
mais tensos. Primeiro, a empresária reclamou, em tom exaltado, de um vídeo
antigo dela exibido no telão. “Pega um mais recente!”, disse para a senadora
Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI — e autora de um projeto de lei
que legaliza outro produto controverso e passível de vício: o cigarro
eletrônico.
Mais tarde, Virginia jogou no colo dos
políticos a responsabilidade pelo problema. “Se realmente faz tão mal
[apostar], proíbe tudo, acaba com tudo. Nunca aceitei fazer publicidade para
casas de apostas não regulamentadas. E eu recebo muita proposta. Se for
decidido por vocês que tem que acabar, eu concordo que tem que acabar”,
afirmou.
O dado cômico ficou por conta do
momento em que a influenciadora confundiu um microfone com o canudo de seu
chamativo copo térmico rosa — de uma marca divulgada há anos em suas redes.
“Ela não veio prestar depoimento, veio lançar produto”, disse a senadora
Damares Alves (Republicanos-DF).
A parlamentar não estava errada. Cerca
de 20 minutos após a sessão, Virginia fez o que a internet chama de “publi”.
Postou, sem a menor cerimônia, um conteúdo anunciando descontos em sua linha de
maquiagem.
DJ de funk: Filha de mãe
brasileira e pai luso-americano, Virginia Fonseca nasceu nos Estados Unidos (em
Danbury, Connecticut) e cresceu na cidade mineira de Governador Valadares. Aos
17 anos, mudou-se para Portugal, onde iniciou um canal no YouTube sobre moda,
beleza e música — ela até tentou ser DJ de funk, porém a carreira durou apenas
algumas festas.
Mas seu carisma e facilidade para
angariar seguidores chamaram a atenção de um dos youtubers mais famosos do
Brasil na época, Pedro Rezende, que também agenciava outros influenciadores. Os
dois iniciaram uma parceria de conteúdo e acabaram namorando por dois
anos.
O relacionamento, no entanto, não
terminou nada bem: sua saída da empresa de Rezende, motivada pelo rompimento
romântico, resultou numa multa milionária por quebra de contrato.
Em 2020, Virginia se envolveu com Zé
Felipe, que há anos tentava emplacar como cantor. Já famosa quando os dois se
conheceram, a empresária é considerada a principal responsável pela
projeção do marido — graças às "dancinhas” que cria para as
músicas dele e depois compartilha para seus milhões de seguidores.
Zé Felipe segue um estilo que transita
entre o funk e o forró eletrônico. Seu repertório é marcado por faixas com
títulos sugestivos como “Roça em Mim”, “Sentada Surreal”, “Macho Preferido” e
“Toma Toma Vapo Vapo”. No último verão, ele chegou ao topo da parada nacional
do Spotify com o hit “Oh Garota Eu Quero Você Só pra Mim”, gravada em parceria
com o rapper Oruam, filho do traficante Marcinho VP.
Virginia no Senado com o marido, o
cantor Zé Felipe: dona de uma fortuna estimada em R$ 400 milhões
Além da linha de cosméticos WePink (sua
principal fonte de riqueza) e da marca de suplementos, Virginia é dona da
agência de influenciadores Talismã Digital e de uma grife de produtos infantis
(Maria’s Baby, uma referência ao nome das filhas). Os contratos publicitários
também alimentam sua fortuna, estimada em cerca de R$ 400 milhões.
Essa diversificação de atividades
ganhou ainda mais fôlego em 2024, quando ela aceitou uma proposta para
apresentar um programa no SBT. Embalado pelas participações de seus amigos
famosos, o “Sabadou” fez a emissora reconquistar o segundo lugar de audiência
no horário noturno e posicionou a empresária como um case inédito de
personalidade da internet que venceu na televisão.
O segredo de tanto sucesso? Segundo os
especialistas em marketing e construção de imagem, Virginia Fonseca entendeu um
conceito já explorado por celebridades americanas como Paris Hilton e Kim
Kardashian: a vida real é mais interessante do que qualquer roteiro.
E, quando a realidade não basta,
Virginia é hábil em transformar banalidades em narrativas atraentes e, acima de
tudo, oportunidades comerciais. Como no episódio da dieta do ovo, em que ela
lançou moda, criou um “problema” para seu público e faturou alto vendendo a
solução.