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Juros: procura-se um culpado

Juros: procura-se um culpado

A taxa básica de juros do Banco Central chegou a 15%, a maior em duas décadas. E os representantes do governo – os oficiais e os oficiosos – continuam procurando alguém em quem colocar a culpa. Afinal de contas, não fica nem bem para um governo que se apresenta como popular e sempre criticou os juros altos assumir essa mancha na fotografia “progressista”.


A opção preferencial é atirar contra o fantasma de Roberto Campos Neto. Até outro dia, a tarefa era mais fácil. Com Campos Neto na presidência do BC, bastava aos porta-vozes do governo petista gritar aos quatro ventos que ali estava um homem mau, socialmente insensível etc. O próprio presidente da República chegou a insinuar que Campos era uma espécie de inimigo da pátria. Bons tempos. Com a passagem de bastão para Gabriel Galípolo, indicado por Lula, a coisa deu uma complicada.


As mentes fisiológicas realmente acreditam que a sucção não deixa rastros e que dá para segurar as pontas no gogó. A discurseira haveria de criar um clima favorável à redução dos juros, sem aquela tecnicidade que sempre atrapalha a boa lenda. Aí bastaria faturar mais um indicador positivo e correr para o abraço – porque as bombas deixadas pelo populismo sempre têm efeito retardado, e o amanhã não é de ninguém.


Diferentemente do que ocorreu nos estertores da administração Dilma, porém, a política monetária (ainda) não passou a dançar conforme a música populista. E os juros continuaram subindo. Como não dá para ficar atirando no Galípolo, os porta-vozes governamentais passaram, inicialmente, a duelar com o fantasma de Campos Neto. A insistência nos juros altos seria uma espécie de herança maldita. Um político petista chegou a afirmar que o ex-presidente do BC prefixou a elevação da taxa... Se colar, colou.


Mas não colou. E os ataques passaram a ser difusos contra a instituição do Banco Central. Parte da imprensa desistiu de embarcar na propaganda governista, talvez percebendo que, nessa área de política macroeconômica, a licença poética já foi longe demais. Restaram algumas vozes do jornalismo oficial insistindo que o BC está errando. A sustentação desse ponto de vista é perfeitamente possível – desde que não se leia a ata do Copom.


Ali está tudo explicadinho, tecnicamente, sobre os fundamentos para a decisão sobre a alta dos juros. E, obviamente, a culpa que o governo procura até no além está no espelho. A expansão dos gastos públicos segue sendo o principal fator inflacionário – e não se trata mais de uma curva de preços oscilando dentro da meta. Já teve até executivo de grande banco declarando que, se não for restabelecido o teto de gastos, não haverá como retomar o equilíbrio da política fiscal e o controle saudável da inflação. Mas a retórica continua sendo a de que está tudo bem no arcabouço e que o pacote tributário vai tapar os buracos.


A política do remendo nunca deu e nunca dará certo. O binômio gastar & taxar mata, mais cedo ou mais tarde, a galinha dos ovos de ouro. E os economistas que mais sabem disso são aqueles que pregaram o voto no PT, confiando que o amanhã não é de ninguém. Mas o amanhã chegou, o Brasil está descendo a ladeira, e a responsabilidade deles está na legenda da foto.




Guilherme Fiuza - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil - Gazeta do Povo


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