Entrelinhas: Depois da decisão do ministro Alexandre de Moraes que derrubou o decreto do Congresso sobre o IOF, muitos passaram a dizer que o Congresso “morreu”. A senhora concorda? Bia Kicis: É claro que a gente fala “fechou o Congresso, o Congresso morreu”, mas a gente não pode concordar com isso. O Congresso não está morto. O Congresso está sendo surrado e pendurado. Mas você não joga fora uma mulher que está apanhando. Você vai fazer de tudo para socorrê-la e evitar essa violência, não é? Temos que buscar soluções.
Entrelinhas: O quanto o foro privilegiado contribui para o cenário jurídico e político atual? Bia Kicis: O Supremo faz o que bem entende com isso. Inclui na sua competência quem não tem foro. Isso virou uma forma de controle draconiano do Parlamento. Tem deputado e senador com medo de ser incluído em inquérito. E, por outro lado, corruptos se beneficiam, porque os processos prescrevem. Quem está do lado de lá, adora esse sistema, porque 90% das ações movidas contra o governo Lula têm resultado favorável a ele.
Entrelinhas: Se o foro cair, o que muda na prática para deputados e senadores? Bia Kicis: Se tiramos do Supremo o poder de investigar, julgar e prender deputados. Uma ação teria que começar na primeira instância, teria recurso para o segundo grau, e morreria no STJ. O Supremo não teria mais competência criminal. Não é o sistema ideal, mas é melhor do que o atual. Depois a gente pode fazer uma nova PEC para aperfeiçoar.
Entrelinhas: É possível ser otimista sobre a tramitação dessa proposta? Bia Kicis: A PEC já foi aprovada no Senado e está pronta para ser votada no plenário da Câmara. Se aprovarmos o texto como está, ela é promulgada no dia seguinte. E aí, todos nós ficamos livres das garras de quem quer calar a direita, perseguir Bolsonaro e intimidar parlamentares.
Entrelinhas: A pauta da anistia dos presos do 8 de janeiro, engavetada no Congresso, ainda está viva? Bia Kicis: Sim. Vamos continuar insistindo. Mas precisamos que o povo também continue acreditando e lutando. Na Venezuela, o Supremo assumiu o papel do Parlamento oficialmente. A gente precisa impedir que isso aconteça aqui.
Entrelinhas: A senhora também tem cobrado a CPI do Abuso de Autoridade. O que falta para ela sair do papel? Bia Kicis: A CPI do Abuso de Autoridade também já tem assinaturas mais do que suficientes. Está parada há mais de um ano. Precisamos investigar e punir quem está violando direitos. É um grupo pequeno, mas muito poderoso, que está colocando o Congresso de joelhos. Só não colocam o Executivo porque são aliados.
Entrelinhas: Dado esse alinhamento apontado pela senhora, como a oposição pode reagir? Bia Kicis: Infelizmente, a gente não tem tido meios de ação para produzir os resultados que gostaríamos. Trabalho não falta. Temos talvez uns 100 deputados incansáveis, mas isso ainda é pouco. Na legislatura passada, éramos 30 ou 40. Agora dobramos. Mas falta força, falta quantidade. Não adianta o povo desistir. Precisamos que nos ajudem a eleger mais parlamentares.
Entrelinhas: As maiores expectativas ficam para 2027? Bia Kicis: Com um Senado diferente, mais corajoso, mais à direita, podemos sim falar em impeachment de ministro do Supremo. É urgente limpar aquela Corte. E o mundo está vendo o que acontece no Brasil.
Entrelinhas: Para isso, a senhora pretende disputar o Senado? Bia Kicis: No que depender de mim, sim. Meus eleitores pedem isso. Eu vejo uma missão no Senado. Mas temos que acertar os ponteiros, porque são duas vagas e mais de dois interessados. Estou na luta.