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Táxi Aéreo Brasília: a farra dos ministros voadores

Táxi Aéreo Brasília: a farra dos ministros voadores

Nos anos 80, depois da novela, passava na televisão o seriado “Ilha da Fantasia”. Todos os episódios começavam com o barulho de um motor e um mordomo anão que aparecia gritando: — Sr. Rourke! O avião! O avião!


A euforia de Tattoo, o mordomo baixinho sempre vestido impecavelmente de branco, se devia ao fato de que o referido avião trazia turistas ávidos por realizar seus mais acalentados sonhos e desejos na ilha mágica.


Naquele tempo em que eu era menino e acompanhava a “Ilha da Fantasia”, jamais poderia imaginar que, mais de quarenta anos depois, o seriado se transformaria em realidade no Brasil.


Aqui a Ilha da Fantasia perdeu as aspas e ganhou outro nome: Brasília. Mas, da mesma forma que acontecia no seriado, só uma pequena elite de privilegiados tem a oportunidade de realizar os seus desejos na ilha. Poucos podem pegar o avião... da FAB, ou melhor, do TAB — Táxi Aéreo Brasília.


Um dos clientes VIPs do TAB é o Barroso. Até 20 de junho, o iluminado presidente do Supremo Soviete, vencedor do bolsonarismo, fez 54 viagens pelo Uber aeronáutico, totalizando um gasto de R$ 940 mil do dinheiro do pagador de impostos (sim, vocês, meus sete leitores). Em muitas dessas viagens não havia qualquer agenda oficial. Em outras, havia importantes eventos como o recebimento da Comenda Grande Colar do Mérito Judiciário e a participação do Festival Fronteiras do Pensamento sobre Justiça Climática, sem contar um retorno a Brasília para participar do lançamento de um livro de sua própria autoria.


Outro passageiro preferencial dos jatinhos do TAB é o Lewandowski, que várias vezes esteve levando colegas ministros e outras personalidades nos mistérios voos “à disposição do Ministério da Defesa”. Lewandowski realizou 35 viagens, a maioria delas de ida e volta para São Paulo, sendo 16 em sextas-feiras e 17 em segundas ou terças — em outras palavras, viagens de ida e volta para passar o fim de semana em casa, que ninguém é de ferro.


O maior caronista que Lewandowski levou nessas viagens foi o Imperador Calvo, que também mora em São Paulo. Em uma dessas viagens, a primeira-dama Janja pegou carona — para ir ao ginecologista. Mulheres brasileiras que utilizam o SUS precisam esperar em média 90 dias para consultar um ginecologista. Janja, que passou 130 dias fora do país em 30 viagens internacionais, precisou apenas esperar a próxima carona para ir ao especialista de sua preferência. O TAB realiza todos os seus desejos: desde que você seja a pessoa certa.


Mas eis que agora foi dado o alerta vermelho! Dos dez jatos do TAB, sete estão parados por falta de manutenção ou combustível. Afinal, o governo cortou R$ 2,6 bilhões do Ministério da Defesa, deixando a esquadrilha de Brasília em petição de miséria. Isso inobstante o recorde de arrecadação federal de R$ 1,2 trilhão de janeiro a maio — a maior em 30 anos.


Preocupadíssimo com a situação dos passageiros do TAB, o PSOL já entrou com uma ação no Supremo Soviete para garantir o aumento do IOF sobre nossas contas bancárias.


Meus sete amigos, bora trabalhar para pagar as viagens da Ilha de Fantasia. Nossas autoridades não podem ficar sem... o avião, o avião!



Paulo Briguet - (Foto: Sgt Rezende/Força Aérea Brasileira) - Gazeta do Povo


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